O silêncio
Magaly
A Fernandes
Fiz um
retiro de oito dias de silencio. Na
busca de um espaço próprio, descobri a Vila Fatima, em Santa Catarina, que fica
na beira do mar e da lagoa. Um espaço paradisíaco. E ainda conta com o auxílio
de um padre jesuíta para ir trabalhando o que o silencio produz, se necessário.
Muitas
pessoas me disseram:- tu é doida, oito dias, eu não ficaria de jeito e maneira.
Eu também cheguei a pensar que não conseguiria.
Consegui, foram dias de muita reflexão, paz interior, momentos
conflitivos, questionamentos e respostas.
Ficar
em silencio e mais do que não falar. Eu
lá naquele espaço privilegiado, para mim que adoro pássaros, flores, folhagens,
mar, lagoa, me botei a observar e a ouvir.
A natureza tem sons singulares. Nunca tinha visto uma gralha azul tão de
perto, sua cor intensa, seu canto. As cotias comendo, o lagarto tomando sol, as
corruíras entre uma arvore e outra. O vento, vento forte por dias, e a brisa
suave permitindo que ficasse no sol fazendo os exercícios espirituais
propostos.
Muito
me interroguei, se ficar assim inserida na natureza, me deixando absorver pela
observação externa não fugia de uma viajem interna, mais profunda que tinha me
disposto a fazer. Vim de um mundo, de uma educação ruidosa, de um local de
trabalho intenso, então por si só me permitir nada fazer, simplesmente estar já
é uma possibilidade e um resultado.
Viver
ali com mais cinquenta pessoas, passar por elas e não poder falar, não cumprimentar.
Almoçar, jantar em silencio, mesmo estando numa mesa com três, quatro pessoas. Olhando
aquelas pessoas estranhas, pensando que poderia conhece-las melhor se pudesse
falar. E como nós e mais fácil querer conhecer os outros e não a nos mesmo?
Porque não dirigir essa série de perguntas a nos. E ai vamos vendo o que tanto dizemos? Que
necessidade de falar que muitas vezes só nos fazem nos perder.
Ali
nesse retiro tive oportunidade de fazer uma leitura dirigida da Bíblia, com uma
orientação Inaciana, ou seja proposta por Santo Inácio. Um revolucionário que
faz uma releitura, que não foca na dor e no sofrimento, assim com muitos
cristão ficaram fixados. Ele traz a vida, o hoje, a gratidão, a compaixão e
algo muito importante a autonomia.
Uma
escolha que tinha me parecido ao acaso, terminou me dando respostas a questões
que estavam ai desde a adolescência. Ainda estou distante de um silencio mais
interno, ainda o mundo externo me seduz por demais, me misturo na natureza,
como um camaleão. Adoro ficar como o lagarto, sentindo o sol e brisa, viajo,
vou longe. Ou mimeticamente no meio do mato entre as folhas, suas cores,
cheiros e texturas, aborda.
Esse é
o primeiro de outros retiros que viram.
Porto Alegre, 24 setembro 2016.
Um texto lindo e uma ótima reflexão!!! Adorei Amiga!!!
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