segunda-feira, 25 de julho de 2016

                                          O Vento guardado

                                                                                                                Magaly Andriotti Fernandes
               















              No dia anterior ventou muito, mas muito mesmo. Aquela ventania  que nos desassossega, nos desconcerta e nos assusta. Aqueles ventos que levam tudo o que vem em sua frente. Pela manhã, no café do hotel, um ruído forte, uma carranca despenca sobre a hospede, e escuta-se alguém que diz: deve ser vento guardado.
                Vento guardado? É possível assim o fazer. Quando se deixa copos, pratos fundos guardados e virados, será que no espaço vazio fica ali algum ar, ou fica o vento? Será que o vento ficou em alguma peça, em algum cantinho?
                O vento vem de onde? O que faz que dias lindos de sol, como do dia relatado, aconteçam com muito vento. Eles serão prenuncio das chuvas? Penso que não, pois ventou muito e não choveu nada. Penso eu que levam as nuvem de chuva para longe. Ruim para aqueles que ficam com as nuvem de chuva. Ou não pois a chuva sempre e benvinda para a plantação. Dizem alguns pesquisadores que lugares onde venta muito, o número de pessoas com epilepsia e significativo. A brisa é gostosa, nos refresca, nos relaxa e nos faz descansar. O vento quando muito forte, nos desorganiza, nos desconserta e nos agita. E sim dependendo onde estamos abrigados nos assusta e nos amedronta.
                Para o barco a vela, o vento é crucial, mas a ventania essa já e um complicador, pode leva-lo para mares onde andes nunca navegado.
                Minha avó adorava fazer pasteis de vento. Você já comeu pasteis de vento? São deliciosos.
                Próximo aos Cânions quando por lá venta, é assustador e mágico.  Ouve-se o som do vento por entre os Cânions, e um som forte, de muito movimento, o vento contorna e molda as pedras. O vento movimenta as taquareiras, que parecem assobiar. O som que produz e indescritível, uma música de abertura ou de ruptura.
                Imaginem guardarmos esse vento. Os moinhos existem com a força dos ventos. Atualmente a captação da energia eólica demonstra ser uma forma sustentável de aproveitamento da natureza em beneficio humano. Muitas sementes precisam dos ventos para germinarem. A roupa no varal precisa do vento para secar. Agora a ventania, essa que derruba arvores, que derruba casas, essa não conseguimos entender. 

                A carranca caiu, simplesmente caiu, por que o peso era maior que o suporte, porque estava ali naquele lugar a muito tempo, porque o vento do dia anterior a desestabilizou. Vento guardado, penso que não.

Porto alegre, 25 julho 2016

                              

               



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