O Vento guardado
Magaly Andriotti Fernandes
No
dia anterior ventou muito, mas muito mesmo. Aquela ventania que nos desassossega,
nos desconcerta e nos assusta. Aqueles ventos que levam tudo o que vem em sua
frente. Pela manhã, no café do hotel, um ruído forte, uma carranca despenca
sobre a hospede, e escuta-se alguém que diz: deve ser vento guardado.
Vento
guardado? É possível assim o fazer. Quando se deixa copos, pratos fundos
guardados e virados, será que no espaço vazio fica ali algum ar, ou fica o
vento? Será que o vento ficou em alguma peça, em algum cantinho?
O
vento vem de onde? O que faz que dias lindos de sol, como do dia relatado, aconteçam
com muito vento. Eles serão prenuncio das chuvas? Penso que não, pois ventou
muito e não choveu nada. Penso eu que levam as nuvem de chuva para longe. Ruim
para aqueles que ficam com as nuvem de chuva. Ou não pois a chuva sempre e
benvinda para a plantação. Dizem alguns pesquisadores que lugares onde venta
muito, o número de pessoas com epilepsia e significativo. A brisa é gostosa,
nos refresca, nos relaxa e nos faz descansar. O vento quando muito forte, nos
desorganiza, nos desconserta e nos agita. E sim dependendo onde estamos
abrigados nos assusta e nos amedronta.
Para
o barco a vela, o vento é crucial, mas a ventania essa já e um complicador,
pode leva-lo para mares onde andes nunca navegado.
Minha
avó adorava fazer pasteis de vento. Você já comeu pasteis de vento? São
deliciosos.
Próximo
aos Cânions quando por lá venta, é assustador e mágico. Ouve-se o som do vento por entre os Cânions, e
um som forte, de muito movimento, o vento contorna e molda as pedras. O vento
movimenta as taquareiras, que parecem assobiar. O som que produz e indescritível,
uma música de abertura ou de ruptura.
Imaginem
guardarmos esse vento. Os moinhos existem com a força dos ventos. Atualmente a
captação da energia eólica demonstra ser uma forma sustentável de
aproveitamento da natureza em beneficio humano. Muitas sementes precisam dos ventos para germinarem. A roupa no varal precisa do vento para secar. Agora a ventania, essa que derruba arvores, que derruba casas, essa não conseguimos entender.
A
carranca caiu, simplesmente caiu, por que o peso era maior que o suporte,
porque estava ali naquele lugar a muito tempo, porque o vento do dia anterior a
desestabilizou. Vento guardado, penso que não.
Porto alegre, 25 julho 2016
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