Rolinha roxa
Magaly Andriotti Fernandes
Observar pássaros se
tornou um habito na vida adulta. Na infância, corria atrás, tentava pega-los.
Meu pai tinha um viveiro que cabia a mim alimentar. Um dia resolvi solta-los.
Meu pai ficou muito chateado, tinha ali pássaros raros, e gostava de ficar
escutando.
Com os anos de trabalho não tive muito tempo
para dedicar-me a esse “hobby”. Agora aposentada, viajando muito tenho
conseguido fotografar, ficar observando o modus vivendi de alguns pássaros.
Em outubro no Rio de Janeiro, na Estrada
Velha da Tijuca, que fica lindeira da Floresta da Tijuca, fiquei por bons
quatorze dias observando uma rolinha roxa no ninho. Ela fez seu ninho no
arbusto bem frente à janela do apto onde me hospedara. Fotografei por vários momentos.
O papai pombo indo e vindo com o alimento. Ela desassossegada, virando de um
lado para o outro.
Um beija-flor que também adorava aquela
arvore, vinha para buscar o néctar das flores laranjas e amarelas, assustava a
rolinha. Eu imagina um diálogo entre as
duas- o que você está querendo beija flor?
Eu, nada! estou apenas me
alimentando, além do néctar só como pequenos insetos. Fique tranquila. Podemos
conversar um pouco se quiseres. Assim o tempo passa mais rápido. – Não agradeço,
prefiro ficar aqui concentrada, o vento está forte, e preciso cuidar dos meus
ovos.
Uma borboleta preta e amarela
relativamente grande também voava por ali. Voava quieta, pousava na flor por
instantes e logo partia. E a mamãe rolinha se agitava.
Ali pelas seis da manhã, um pássaro
que não identifiquei cantava, um canto lindo. Não é um canto que eu já tenha
escutado. Ele ficava na floresta não permitindo que fosse visto.
Os saguis, vinham cedo para o
telhado da vizinha buscar as bananas que ela ali deixava. Sorrateiros, ágeis,
pulavam de galho em galho, se equilibravam no muro, pegavam o alimento e saiam
na mesma rapidez.
No dia que ia embora, pela manhã,
para minha surpresa, constato que os dois pombinhos haviam saído do ovo. Papai
pombo vem a mamãe sai a voar e ele alimenta os filhotes. Minha máquina não tem
um bom zoom, não consegui registrar momento tão intenso. Ora um, ora outro o
pai alimenta. São apenas dois filhotinhos.
Pedi que minha amiga continuasse
a observa-los e se pudesse registrar quando eles iniciassem a voar.
Ali, naquela cidade maravilhosa,
como é conhecida, com tantos lugares lindos para se descobrir, com tão pouco
espaço para moradia, superpopuloso, ainda tem espaço para os pássaros e outros
animais silvestres.
A pombinha rola, ali com seus
filhotes, com sua família constituída, em plena primavera, nos faz sentir-nos
em paz imersos nesse universo que tanto nos instiga.
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