quinta-feira, 28 de dezembro de 2017




                             FINAL DE ANO

Há cinquenta e oito anos é assim chega o final de ano e bate aquela depressão. Mil perguntas retornam a minha mente. Que fiz, o que não fiz, meus amigos, meus familiares? Momento ímpar de se fazer uma reavaliação. Uma coisa meio babaca não acham? A vida, diariamente é um eterno recomeçar, porém consensuamos a vida em dias, meses e anos. E eu aqui a pensar que esse ano não dancei como estava nos meus planos, não cantei, não ingressei num coral, não iniciei nenhuma nova atividade profissional.
 Viajei muito, fui para a Itália por setenta dias como havia programado. Seriam noventa dias, na hora de marcar veio aquele medo, aquela angustia de não conseguir ficar tanto tempo longe da família e amigos. Setenta dias mágicos, a cada dia um novo lugar, uma nova aprendizagem. Fiz muitos amigos pelo mundo, Finlândia, Japão, Alemanha, Espanha, México e em outros Estados do Brasil. Aprender a falar outra língua faz com que nosso cérebro funcione melhor. Aprender outra língua e a cultura de um pais nos dá a sensação de verdadeiro voo. A Itália é um pais rico em história e arte. Na medida que passas a te comunicar na língua nativa, a recepção é acolhedora. Eu, uma descendente de italiano, me sinto em casa. Uma oportunidade de viver como se meus bisavós ali estivessem. Resgatar a história de si, da família e dos povos, modifica o amanhã, assim eu sinto.
Dois mil e dezessete foi um ano tranquilo até a metade. No segundo semestre fiz cirurgia, algo que deveria ter repensado, agora fiz.  Meu corpo tem sido esquecido nesse percurso. Me alimento pelo prazer esquecendo o alimento vai compor minha escultura corporal. E tenho ganhado uma grande dimensão. Meu fígado está agora em sofrimento, por excessos gastronômicos, por sentimentos ressentidos, por palavras não ditas, outras quem sabe engolidas. Não posso acreditar que eu, uma falante, guardei palavras. Sim as guardei, tão bem guardadas que foram lá esconderem-se no meu fígado. Pode isso? Vocês devem estar pensando essa mulher é doida. E sou, podem ter certeza. Lendo a medicina chinesa sobre gordura no fígado, descobri uma série de informações importantes sobre mim mesma e meus hábitos alimentares e de vida. E agora, borra mudar! Humm assim fosse tão simples. É simples sim, eu que sou uma complicadora; outra coisa, se faz necessário um proposito, uma meta.
Esse ano, um ano muito peculiar completei cinquenta e oito anos. Sempre há dois anos para fechar uma década, uma crise. Uma crise intensa, já não sei mais o que vim fazer nesse planeta, qual a minha missão, amores etc.
Há um ano iniciei uma oficina de escrita, pensando em aprender a colocar no papel memorias e fantasias. Sempre gostei de escrever, e aprender a fazer crônicas e contos me atrai.  O tear também me tomou bastante esse ano, tecer o seu próprio tecido, uma atividade meditativa.  Com a escrita vem a leitura. Esse ano dediquei-me a ler, a escutar escritores ou em vídeo ou em palestras.  Fiz uma imersão na feira do livro em Porto Alegre de forma bem efetiva.
Ano passado aprendi a costurar, ainda de forma singela, costuras retas. Esse é mais um desafio a que me proponho.
Minha profissão mesmo a psicologia, ficou ali quieta. Depois que parei de trabalhar na prisão, não mais a exerci. Tenho pensado em retomar a clínica, outra orientação teórica, mas parece que esse desejo fica cada vez mais distante.
Minha família cada vez toma menos o meu tempo. Meus netos estão indo para a adolescência.  A pequena é bem independente, e agora esperamos o quarto neto. A vida é um eterno recomeçar. A cada neto uma nova vivência. Os filhos já na vida com suas famílias constituídas seguem seus próprios rumos.  Esse ano dei continuidade ao resgate da família de origem através de minhas primas, mas não o fiz com muita persistência.  Não somos uma família grande. Com a morte do meu avó, ainda na minha adolescência, não mantivemos vínculos sistemáticos. Cada tia, tio foi para um lado. Não crescemos tendo encontros de finais de ano, como era o habito do meu avô.
Os amigos esse foi um ano que deixei para trás pessoas que não me faziam bem, que já se passava uns cinco anos que deveria ter tomado a decisão, e vim arrastando. Esse foi o ano do basta. Ano de conhecer novas pessoas, de me ver de forma diferente, de me abrir para o mundo. Ano de ir ao cinema, ao teatro, de caminhar pelas ruas observando a arquitetura, o movimentos das pessoas, a moda. A amizade é de extrema importância em todas as fases da vida, e nessa pois é como uma família que se pode escolher. Vejo que tenho amigos muito diferentes de mim, e amigos muito diferentes uns dos outros. Essa diversidade é que demonstra a riqueza de nossos sentimentos e emoções.
Esse ano que se encerra é ano de muita gratidão, pela família que tenho, pela que constitui, pelos amigos que cultivei, pelos que deixei pelo caminho, pelos trabalhos realizados, pelo amor, e até mesmo pelas boas brigas acontecidas.

Que venha 2018, já me sinto preparada para ele, ou não? Sinto sim, dar continuidade a leitura, a escrita, a tecelagem e outras artes manuais que aprenderei. Curtir meus netos, cada um na sua singularidade, aprender a viver com os filhos adultos e suas filosofias de vida; ampliar meu círculo de amizades. Quem sabe lançar um livro?  Quem sabe iniciar a dança cotidiana e o canto? Quem sabe trabalhar literatura com crianças e ou adolescentes? E deixar também um espaço para o novo...para desenvolver a espiritualidade.

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