domingo, 15 de outubro de 2017

AINDA HOJE ROTULOS, DIGNOSTICOS CONGELAM E INSITAM FATOS COMO ESSE DE JANAÚBA
                                                                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes
Ontem me peguei pensado nesse fato tão chocante que aconteceu em Janaúba, o segurança que ateou fogo no Centro Educacional, matando crianças, professora, e ferindo muitas pessoas. Ele próprio matou-se. Trabalhei quase trinta anos ouvindo pessoas que cometeram crimes, e mesmo assim não tenho respostas para esses atos extremos humanos.
Fiquei pensando no contexto onde tudo aconteceu, uma cidade de 71mil hab., no interior de Minas Gerais. Ele o segurança já trabalhava no Centro desde 2008 diz a imprensa. Em 2014 tem registros de que andava com a saúde mental abalada. Ele procurou o Ministério Público porque suspeitava que sua mãe o estava envenenando. Foi solicitado um estudo psicossocial que identificou que ele apresentava um transtorno de personalidade.  E ai me vem uma serie de interrogações. Só o diagnostico resolve tudo? Não seria ele o início de uma intervenção?
No Brasil vivemos ainda hoje um processo intenso de exclusão, que mesmo os profissionais da saúde e do judiciário não conseguem avançar em suas práticas. Lugares que eram para ser espaços de resolução de conflitos, os incrementam e ampliam.
Chegando ao Ministério Público, feito o estudo contanto que a pessoa do segurança de um Centro Municipal onde crianças são cuidadas, apresenta um transtorno o que foi recomendado? Quem o tratou, quem passou a acompanha-lo. O que se passava com essa pessoa que estava desconfiando da própria mãe? Que relação estava ai posta?
O que representava para esse Segurança seu local de trabalho? Que significava esse cotidiano de pelo menos onze anos cuidando de um espaço, onde o seu ser não era olhado e cuidado?
Faltam muitas informações para fazermos aqui conjecturas. Um fato que penso eu não poderia ter sido evitado?
Fatos como esses que tem sido cada vez mais comuns, no mesmo período nos EUA, um atirador em pleno show atira e mata mais de cinquenta pessoas e fere mais de cem.
O que acontece com o ser humano que está agindo de forma tremendamente violenta no extermínio de outros humanos? O Segurança de Janaúba terminou com a própria vida.
Penso que nesses casos deveríamos falar mais sobre eles, investigar que de fato se passou? Não para querer prender, hospitalizar, isolar, excluir o autor de atos cruéis, mas para entendermos que contexto é esse, e como estamos produzindo essa violência. Não só entender mas evitar.  Os meios que construímos para lidar com os atos humanos que resultam em crimes, estão falidos, não resolvem, e pelo contrário tem enfatizado e contribuído para o aumento significativo do mesmo. Prender, julgar, condenar, manter preso. Hospitalizar para salvaguardar. O que está errado nesse processo? O que anda acontecendo com os atores dessas agencias sociais que no seu cotidiano simplesmente repetem atos e não criam, não ampliam. Em alguns espaços se ouve falar em práticas de uma educação não violenta, em justiça restaurativa. Não seria essas já um prenuncia de novas perspectivas e possibilidades.
Cada um de nós não pensa no agressivo que é. Diante de um fato desses se permite desejar a morte, e muitas vezes morte cruel para esses que agiram com crueldade, sem ao menos ter vergonha de seus sentimentos assim expostos e amostra.

Hoje a ciência já avançou tanto que podemos fazer cirurgias de cérebro sem danificar o funcionamento geral dos pacientes. Conseguimos ir de um lado para o outro do mundo voando. Encontramos amigos em lugares inesperados e assim tantos avanços... Porém no que diz respeito as relações humanas ainda não saímos dos tempos das cavernas. Nossas reações ainda são na mesma proporção que o homem das cavernas diante da falta de recursos reagia. Reagia de forma violenta. Como pacificar o mundo? Como pacificar o ser humano? Como me pacificar?

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