Dias de chuva
Magaly Andriotti Fernandes
Eu vinha a
dias pedindo que chovesse. Estava querendo hibernar. Adoro ficar em casa dias
de chuva. São dias cinzas, aquele ruído de agua caindo instigam a pensar e a
refletir sobre a vida.
Adoro dias de
chuva para ler, pegar um bom romance sentar-se próximo a janela e ficar ali,
sem culpa nenhuma de não estar na rua e mergulhar num romance, num drama ou até
mesmo numa ficção.
Agora já há
mais de três dias chovendo, já fico pensando que tenho que ter cuidado com o
que desejo. Olha ai quanta agua. Eu estou aqui abrigada, geladeira cheia, mil
ideias de cardápios. E os que moram em
regiões ribeirinhas, os que moram em casas que tem goteiras? Os que não tem
casa? Com essa chuva toda, o que fazer?
Até para as
plantações tanta chuva assim não faz bem, ao contrário, destrói plantações
inteiras.
Essa chuva
coincidiu com o feriado de Nossa Senhora Aparecida, e eu fiquei guardiã da
cachorrinha de meu filho caçula. Ela é muito tranquila. Fica deprimida quando
seus donos viajam. Escolhe uma poltrona e ali fica. Chamo-a para brincar,
brinca um pouco e retorna ao seu trono. Vamos passear na rua, quando a chuva dá
uma trégua, e ela logo está pedindo para voltar. Você deve estar pensando,
choveu tanto que essa pensa que cachorros falam. Falar não falam, mas existem
uma comunicação intensa entre nos. Eu leio os pensamentos dela. Ou melhor os
gestos. Quando quer descer fica parada próximo a sua guia de passeio. Quando
quer retornar, vai em direção a escada. Os cães são muito inteligentes.
Precisamos saber ler o seu comportamento, e a comunicação está feita.
Ela tem medo
de trovões, vem correndo para o meu lado e pede colo. Se estou fazendo algum
trabalho manual paro um pouco e a tranquilizo. Falo que são apenas trovões.
Lembro quando os meninos eram pequenos que eu fazia a mesma coisa. Aliás coisa
de gente doida, tranquilizamos nossos pequenos sobre as forças da natureza. A
maioria das vezes sim, trovoes, ficam lá fora, os raios da mesma forma. Hoje
tem se visto, ventos velozes que destroem tudo, raios que matam pessoas. Meu
coração se desassossega. A cachorrinha sente e chora.
Penso que já
podia parar de chover. Mas quem eu penso que sou, que o tempo vai acontecer
dependendo dos meus desejos. Que sou o
sol? Que tudo gira em torno de mim?
Pego meu
livro e retomo a leitura. A chuva cai la fora, e eu agora já na Sicília, com
minha heroína andando a cavalo. Desço numa praia translucida e mergulho.
Um trovão
daquele e a cachorrinha se joga no meu
colo.
Porto Alegre,
13 outubro 2017.
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