Medo de aranha
Magaly Andriotti Fernandes
Essa
semana fiquei com minhas netas. Elas moram numa agroflorestal, o que representa
um convívio entre homem-natureza intenso e em consonância. Sempre gostei da
vida no campo, na floresta. Gosto esse com limites, respeito a natureza,
procuro conhece-la, observa-la. Amo pássaros, cores, voo diversos, estilos de
vida. Tenho pensado em entrar num grupo de observadores de pássaros. Tem gralhas, que vem em busca de um habitat
para sobrevivência, tucanos, beija-flores, canários e muitos outros.
A flora lá é linda, muitas palmeiras, abacateiros, bergamoteiras, arvores frutíferas
vivendo entre arvores nativas. Dizem que nos cânions existe o leão baio típico
dessa região, mas ninguém o vê. Insetos são numa quantidade inumerável. As
cinco hora da tarde devemos fechar toda casa para que os mosquitos não a
invadam. Eles são em número assustador. Os sapos, esses adoram vir esconder-se
dentro de casa. Há uma perereca que vive no banheiro do segundo piso. Outro
dia me deu o maior susto, ainda bem que não sentei no vaso, sem antes puxar a
descarga, pois la estava ela. Viu aquela
agua, e era natural viver assim na agua. Sabia ela que os humanos fazem daquele
lugar suas necessidades. No térreo, minha neta, já batizou o sapo que la vive, de
dinossauro. Ele, o nome já diz o quão grande é, e todo enrugado. Eu amo
sapos, desde minha primeira infância, ia em busca dos mesmo. Cheguei a abrir um
para saber como funcionava. Eles não me assustam. Na cozinha próximo ao fogão
outra perereca, essa marrom que adoro coaxar enquanto se cozinha. E os sapos
são predadores dos insetos. Assim como as lagartixas.
Outro dia, me
contaram as meninas, entrou uma jararaca. Meu filho não sossegou até coloca-la
para fora. Ele diferente de mim, não tem medo, a tirou viva, devolveu para a
floresta. Uma aranha caranguejeira no banheiro do quarto do casal. Também, meu
filho pegou com luva e a jogou para o mato.
Um dia eu quem
sabe chego lá. Aranhas sempre as tive muito distantes. Quando pequena também
morava bem próximo ao mato. Minha mãe as temia; eu mais ainda. Tenho verdadeiro
temor desse animal.
Depois de
muitos anos de analise, já não entro em pavor diante das aranhas, mas chegar a
pegar uma quando as encontro na casa, mesmo que com luva e jogar fora. Ah isso não,
nem pensar. É muita intimidade para minha cabeça e mãos.
Estávamos as
três prontas para dormir, li O menino e o pardal de Daniel Mundurucu. Minha
neta mais velha viu uma aranha, daquelas com pernas longas, que tem por todos
os lados e a matou. Ela estava bem ao
lado da cama da pequena.
Íamos iniciar
a leitura do livro sobre aranhas do francês Laurent Cardon, que amamos. Ele é
apenas desenhado e conta a história da mamãe aranha ensinando a filha a fazer
teias e a comer insetos. Olho na parede, nas costas da neta mais velha uma
aranha enorme. Enorme, um bicho horrível, pequei o livro e me dirigi para
matá-la, junto comigo minha neta pequena. Eu fui afasta-la, com medo da reação
da aranha, e nisso a aranha desaparece. As gurias a viram saltar, eu não vi.
Como dormir num quarto com aquela aranha. Nos mudamos para o quarto dos pais
delas. Elas As crianças dormiram logo, e eu fiquei a noite toda entre acordar e
dormir. Acendia a lanterna e olhava ao redor, para ver se a aranha não nos
tinha perseguido, e também não querendo acordá-las.
Todos meus
medos infantis ali de novo. Acordava assustada a sentindo nos meus cabelos. As
meninas estavam a salvo na cama dos pais.
Pela manhã,
meu primeiro ato foi pegar o aspirador, e aspirar todo o quarto das meninas.
Nos encontramos lá eu e a aranha. Ela grande do jeito que era, fugia do
aspirador. Me muni do chinelo, mas isso representava uma proximidade por demais
suportável. Acertei com o aspirador suas pernas. Ah...ficou sem pernas, eu
feliz. Uma parte dela agora já extraída. Não me bastava, aspirei o corpo, e
trancou a máquina. Meu instinto assassino veio a tona, busquei uma faca e a
enviei para dentro do aspirador. Assim tinha certeza que ela estaria bem morta.
Sim não bastava estar morta, tinha que estar bem morta. Alivio total, agora eu
era novamente livre para transitar pelo espaço.
Depois sentei,
com a cuia de chimarrão e fiquei meditando. Isso não tinha nenhuma lógica, olha
o meu tamanho, milhares de vez maior que o da aranha. A luva estava ali na
escada, o que me impedia de pega-la e devolve-la para a natureza. O meu medo,
um medo ancestral; antes pavor, hoje já proativo. Uma reação de destruição
ainda. Nós duas não podíamos viver na mesma casa. Era eu ou ela. Eu venci. Um
dia conseguirei viver com elas, cada um no seu habitat.
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