Eu e as árvores
Hoje tomando
meu café matinal como de costume, na cozinha e em pé, sempre abro a janela e
observo como esta tempo, sol, chuva, nuvens; frio, calor. Hoje nublado e fresco. Primavera,
mas um típico dia de outono. Aliás esse ano fugi do inverno indo para Itália e
agora só me resta o outono. Dei-me conta que daqui onde moro, vejo as arvores
de cima. Diferente de quando era menina, saia correndo pela manhã e me
emprenhava no mato vizinho a nossa casa, e ficava a brincar nas raízes das
paineiras. Paineiras enormes, com troncos largos, onde muitos pássaros viviam e
eu podia os observar. Ficava ali, me sentindo protegida embaixo das arvores. Ali fazia meu mundo, e viajava.
Agora isso,
quase quarenta anos moro aqui, e apenas hoje me dei conta que estou acima das árvores. Ainda observo os pássaros, mas só enquanto estão no voo. Quando pousam ,a copa das arvores, não me permite vê-los. A cada estação do ano, a coloração e
bem diferente. Agora tempos o lilás, o amarelo e o verde. No outono mesmo, as
arvores ficam marrom, douradas e ou avermelhadas. No inverno, muitos galhos, poucas
folhas, verde mais escuro. No verão assim como na primavera muitas flores. No
verão abrem as Flamboyas, lindas, um tapete vermelho. E sou abençoada, existem três
pés na minha rua.
Fico, pensando
cresci, bobagem, tenho só um metro e meio, não muito diferente de quando era
menina. A questão é que vim morar aqui no alto, no nono andar. Essa visão de
cima da vida. Posso observar as pessoas saindo para o trabalho. As pessoas indo
caminhar, passear. Escuto risadas, choros, gritos, dependendo do movimento e
das intenções das mesmas. Estou estrategicamente posicionada, pois não me veem
e eu as vejo. Vejo silenciosa e reflexiva. Minha curiosidade nunca foi de
exposição ou de fofoca. A vida humana sempre me fez pensar nas suas causas e consequências.
Sempre me impliquei no que vejo.
Outro dia vi
um assalto, logo liguei para a polícia, me identifiquei, descrevi, e aguardei
que eles chegassem. Assim com brigas, agora não mais tão frequente, mas havia
um período que vizinhos desciam para brigar no pátio. Já precisei internar uma
das vizinhas que estava em franco surto psicótico. Eu internar não, orientar a família
de como faze-lo e ajudar no processo.
Estou na
realidade com essa sensação estranha de estar sobre as arvores. E não estar
subida nelas que é meu lugar preferido, mas acima delas. São lindas, tem Ipês,
tem Araucárias, tem Coqueiros, tem Flamboyas, tem outras que não sei o nome.
Uma flora vasta nessa rua. As copas são amplas, fechadas e compactas. Daqui de
cima é lindo e seguro. Lá de baixo a noite, sem muita iluminação, numa cidade
onde as desigualdades são tantas, fica tudo inseguro. Estou me sentindo uma
sentinela no castelo.
Legais essas lembranças.
ResponderExcluirOnde você mora?