sexta-feira, 15 de julho de 2016

                                                             


A menina cientista   


             Era sábado, janeiro, o sol já despontando envergonhado prometendo um dia bem quente. Ela sai da cama quase correndo, coloca o shorts a blusinha e já na porta com um pão na mão quando ouve a mãe:
- Já deu comida para as galinhas? Já varreu o pátio? Vai aonde assim com tanta presa?
- Puxa mãe, não pode ser depois não? Combinei com os guris de irmos pegar sapo, tem que ser cedo, depois não se encontra mais.
- Não mesmo, como as galinhas vão esperar para se alimentar? E o pátio vai ficar ai todo sujo? Eu tenho freguesa que vem pela manhã experimentar roupa. Vai Dafne, toma teu café e vai fazer o teu dever depois tens o dia todo para brincar.
E lá se foi ela cabisbaixa. Iniciou pelas galinhas, limpou os bebedouros, trocou o milho, ainda bem que o pai já tinha quebrado o milho e misturado a ração.
O pátio, esse demorava mais, foi colocando os ossos que o Tupi roeu, de lado, queria vender, os ossos e os vidros quebrados, o ferro velho pagava bem e ela poderia comprar doce de leite a granel. Ainda bem que não tinha vento, conseguiu varrer rapidinho.
Saiu correndo e encontrou o pessoal já na beira do arroio. Tinha levado um vidro para tentar pegar um sapo, queria um bem grande.
- Olá Dafne, por que não veio antes? O André já conseguiu pegar um olha lá, que grandão.
- Dafne nem respondeu e foi olhar. Encaminhou-se para a beira do arroio, cheio de pedras, e colocou seu vidro sem tampa de forma estratégica. Sentou e ficou cuidando. Um silencio só.
Ficaram por ali umas duas horas quando só mais dois conseguiram pegar os sapos. Um não queria abrir o sapo, queria guarda-lo, ia colocar dentro do vaso sanitário em casa, queria assustar a tia que estava de visita. Todo mundo ficou rindo.  Dafne, não ela queria abri-lo.
Vamos lá, precisamos de um lugar claro e limpo. Pegaram uma tabua, passaram na agua, e foram para uma soleira no meio da arvores.  Um dos meninos tinha canivete, e quem ia ter coragem de abrir o pobre bichinho. 
Dafne falou: - é para uma causa nobre. No laboratório na escola a professora faz isso, com peixe, com galinha, assim podemos saber como eles funcionam.  
José falou: - mas não temos livro algum aqui, como vamos identificar o que é cada parte.
Dafne já estava irritada. E sabia que a mãe não deixaria a Enciclopédia sair de dentro de casa por nada - Vamos abrir olhar e pronto. Depois a gente lê e identifica.
Ela já estava segurando o sapo que fazia tentativas de fugir, e abriu. 
Um dos meninos gritou, - tu é louca Dafne, pegar o sapo assim na mão, tu vais ficar com cobreiro, vê se não coloca a mão nos olhos pois vai ficar cega.
- Dafne deu uma risada solta e gostosa, tu é mesmo burro não? Ele solta um liquido só quando outro animal o morde. Foi tirando as partes que se mostraram inteiras, mas não sabia dizer o que era. Lavou as mãos no arroio e correu para casa.  Abriu a enciclopédia Delta Larousse e localizou a parte que falava dos sapos e ficou lendo deslumbrada.
A mãe achou estranho, ela ali em casa, e quieta, lendo.
- Dafne, estás com alguma dor? Estás bem? 
Dafne nem respondia, tal era a concentração. O pai estava no pátio treinando os galos de rinha. Ela saiu e foi assistir, e aproveitou para conversar com o pai sobre o que observará ao abrir o sapo. O pai ficou chateado. Dize que ela não deveria ter feito isso com o animal, mata-lo assim por curiosidade.
A mãe chamou-a para o banho. Ela jantou e foi dormir cedo. Estava triste por ter matado o sapo, mas feliz e fascinada com o que tinha aprendido. Como ia descobrir senão fizesse assim? 

3 comentários:

  1. Esse conto foi feito num exercicio na Oficina Literaria. A nossa coordenadora pediu que escrevessemos o nosso nome e o recordasse. Depois tentassemos formar uma palavra. O meu tendo em vista que não usei o Andriotti, ficou Lygama Desnafer. E dai pensei que podia ser um doce arabe. E ai está.

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