Lygama desnanfer
Magaly Andriotti Fernandes
Ele morava
com uma família árabe desde os seus doze anos. Ali todos eram confeiteiros. Desde
que chegou seu sonho era ser um deles. Adorava ficar olhando a mistura das
massas, a quebra dos ovos, o som da batedeira, os cheiros e os sabores, a
feitura dos doces. Aquilo tudo era muito diferente do mundo em que vivia. Seu
pai que era oleiro, do barro fazia telhas e tijolos. Pequenino sentado tomando
mate com a mãe olhava a agua sendo acrescida ao barro, o movimento das pás,
depois indo para o forno, e o tijolo quentinho, o cheiro da terra. Seu pai
morreu e ele não conseguiu ficar com a mãe que logo se casou, fugiu de casa e
encontrou essa família que o acolheu.
Queria aprender a fazer doces, entre
doces e tijolos, os doces o fascinavam.
Samira, sua mãe adotiva, o deixava brincar com as massas, fazer bonecos,
sentir a textura e o gosto. O pai cauteloso, ele não sendo um árabe não poderia
aprender os doces típicos. João era teimoso
e curioso, continuava a observar. Num turno estudava e no outro corria para a
confeitaria olhar a produção dos doces. Salgados não eram feitos. Balas, bolos, doces
pequenos, ele amava todos mas o seus preferidos eram o Namura e o Baqlawa; o
primeiro pelo sabor do limão e o segundo pelo sabor de mel resultado da mistura
da manteiga quente com calda. Depois geladinhos vindo a boca, o gosto das nozes
para finalizar, puro extase.
Na escola era muito descontraído,
fez amigos logo e resolveu aprender a língua árabe. Os amigos o perguntavam o
porquê do árabe, mas ele não era de muitas palavras e de muito explicar. Em
casa pouco falavam em árabe, mas os livros de receita, esses eram todos em
árabe. Ele sabia disso e precisava desvenda-los.
Um dia ao chegar em casa foi
falando:"marhabban babaan alan "
astatie an tataeallan lijael alhulwaa ". Ou seja “oi papai, agora já posso aprender a fazer doces? Said boquiaberto, pensou que esse rapaz e muito inteligente e dedicado então dize: - não você não pode não. Fico feliz que aprendeu a falar a nossa língua, mostra que és um jovem muito capaz, mas isso não faz te ti um árabe.
astatie an tataeallan lijael alhulwaa ". Ou seja “oi papai, agora já posso aprender a fazer doces? Said boquiaberto, pensou que esse rapaz e muito inteligente e dedicado então dize: - não você não pode não. Fico feliz que aprendeu a falar a nossa língua, mostra que és um jovem muito capaz, mas isso não faz te ti um árabe.
João muito triste, foi
para seu quarto e de tanto pensar, dormiu e sonhou. Sonhou que Said o ensinava
fazer um doce, de farinha sêmola, com claras em neve, com recheio de amêndoas.
O doce parecia um ninho. Era bem fininha a massa.Ao acordar pensou, ai está a
solução, vou inventar um doce, a receita será minha, e ele então não terá como
se recusar a ensinar todas as suas receitas.
E o tempo passou, ele
com a ajuda da mãe foi experimentando vários ingredientes, até que um dia o seu
famoso doce saiu. O pai comeu e ficou maravilhado, foi um sucesso. Na
confeitaria todos vinham em busca do “Lygama desnanfer”. O doce que lhe abriu
as páginas do livro de receitas do pai.
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