As árvores nos desvelam
Magaly
Andriotti Fernandes
Da minha
janela posso ver no mínimo três espécies diferentes de arvores e palmeiras. E
dependendo da estação as cores das folhas e flores modificam a paisagem, é tudo
muito mágico.
Sempre amei as
arvores. Quando pequena minha casa ficava ao lado de um pequeno bosque cuidado
pelas religiosas da escola onde fiz o primário. E eu brincava junto as raízes de
uma frondosa paineira. Passava quase que
dia inteiro perdida naquele recanto.
Subir em
arvores, na pereiras, nos cinamomos entre outras. Brincar com os amigos lá de
cima, fazendo guerras, que diferente, das entre países ,solucionávamos e terminávamos
cada vez mais amigos.
As paineiras
eram lugares de sonhos e de pesadelos. Minha mãe, que era muito brava, quando
queria me repreender ameaçava de amarrar junto aos espinhos da paineira. Caro leitor, viste o tamanho dos espinhos dessa arvore. Aquilo me apavorava, pois minha mãe
era uma mulher de palavra. O que fiz caso um dia ela resolvesse concretizar?
Tirei um a um os espinhos da paineira mais próxima de casa. Sim das outras nem
me preocupei, pois ela com certeza não iria longe.
E as pereiras,
tinham muitas próximas a nossa casa. Pera maça, pera d’água, pera dura e ficar
lá em cima esperando a turma que vinha brincar, ne sentia numa torre, num farol.. Os galhos não são firmes, muitas
vezes a queda era livre. Sentar no alto, sentir a brisa, comer a pera ali mesmo,
suculenta. Só de escrever, salivo, e meu olfato fica acusado.
As nogueiras... enormes, na épocas
das frutas aquele sucesso. Minhas primas e eu por várias vezes as comíamos verdes,
dor de barriga na certa. O pai, a tia avisavam...e a pressa, o desejo... aquele gosto, não nos permitia a espera..
Os coqueiros e
seus frutos também muito disputados pelo grupo de amigos. Não só a poupa mas
depois de secos, quebrar e comer a amêndoa. Minha mãe fazia rapadura com elas
se conseguíssemos quebrar muitos.
Nas férias íamos
para a fazenda onde um dos meus tios era capataz, e lá sim não faltavam arvores
para se subir e brincar. As figueiras,emprestavam suas sombras para uma boa cestaou a ficar ouvindo istórias
de pescadores. Adormecer ali depois do almoço, acordar com aquela brisa do rio Jacuí, era um paraiso.
Quando fico
triste, saio a caminhar e abraço uma arvore. Se achar uma de galhos grossos e
baixos, sento ali e fico.
Ano passado um
temporal de vento, um furacão, seja lá que nome se dá a essa força da natureza,
derrubou milhares de arvores na minha cidade. E quando falo em milhares não é
força de expressão, foram milhares. E não só arvores velhas, mas arvores novas.
Não só derrubou como as torceu, galho a galho. O sentimento era de arraso, de
profunda tristeza. E o pior de tudo e que as pessoas não entenderam a mensagem.
O prefeito resolveu que não vai replantar todas essas arvores, mesmo no município
tendo uma Lei que diz que a cada arvore cortada, arrancada de deve plantar duas
outras.
E nas viagens
por países diferentes que vamos descobrindo novas arvores é muito emocionante.
Em Portugal me apaixonei pelas corticeiras, e a forma como eles colhem a cortiça.
Pelas oliveiras, me abracei a uma de mais de mil anos. Na Holanda quando me defrontei com o bosque,
me reportei para os contos de fadas de Andersen e me pus a chorar, lindo
demais.
Em Roma, ao
descer do ônibus próximo ao Coliseu, aquelas arvores muito altas, Pinos domésticos,
antigos, fortes. Estar em Roma, e naquela sombra...uhuu emoção, emoção.
Pelas estradas
da Toscana os Ciprestes, as Oliveiras, as Amendoeiras... e muitas outras que eu
não saberia nomear, uma viagem à parte.
Montevideo tem
uma arvore para cada três habitantes, uma cidade para se caminhar, sentar nas
praças e parques e curtir, respirar e apreciar os diferentes aromas. O
umbuzeiro, esse seduz, engrandece. Ficar sob ele, encostada ou não, abraçada,
só ali permanecer, rejuvenesce uns cem anos.
Os Jacarandás
em Buenos Aires, floridos justificam um tango. Sair por aquelas praças assim
enlaçada com um belo argentino a bailar.
Porto Alegre
04 fevereiro 2016.
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