Tenho alma de beija flor
Magaly Andriotti Fernandes
Falando com
minha prima que mora em Campo Grande e vendo fotos de seu jardim que tem uma
imensa diversidade de plantas, flores, frutas, me ocorreu a ideia que tenho
alma de beija flor.
Desde muito
pequena sempre amei a natureza. Nasci num bairro de Porto Alegre arborizado.
Minha casa ficava ao lado de uma pequena floresta. Na primeira fase de minha
vida a curiosidade as vezes me fazia cometer alguma maldades com os animais. Tirar
as primeiras asas das joaninhas para observar se elas ainda assim voavam. Não
voavam. Prender vagalumes nas caixas de fósforos para solta-los a noite em casa
quando não tinha luz alguma ligada. Lindo demais. Eles talvez não gostassem.
Com os
pássaros, por um período, tinha uma funda e corria atrás deles tentando
acerta-los. Ainda bem que minha pontaria era péssima. Cuidava do viveiro de
pássaros raros de meu pai e um dia resolvi que eles não eram felizes ali e os
soltei. Meu pai é que ficou bem triste, e o castigo certo.
Os sapos
penso eu foram os que mais sofreram em minhas mãos, por várias vezes tentei
entender como funcionavam, abrindo-os , com a faca. Curiosidade que foi
resolvida por aqueles anos, pois vindo a vida adulta nunca pude lidar com
sangue, nunca me imaginei na medicina, fui para as ciências da saúde mental.
Ouvir, escutar foi o sentido priorizado.
Sempre fui
uma boa observadora da natureza, no caminho que percorro vou descobrindo as
arvores diferentes, pesquiso, descubro o nome. Não sossego enquanto não
encontro. Flores então amo demais. A última que me surpreendeu foi a Abricó
macaco, caminhando pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, uma arvore com bolas
enormes, e quando paro para olhar verifico que tem flores cor de rosa, de um
perfume indescritível, e que beleza!
Pensa se eu fosse um beija flor, poderia estar lá em cima, bica-la,
pousar e ali ficar apreciando, pura transcendência. Uma flor dessas me paralisa,
me chama, me atrai, me deixa embasbacada.
Fui fazer um
retiro de silencio, nele precisava fazer exercícios espirituais, porem o lugar
onde escolhi para me calar e ouvir meu mundo interno era lindo demais. Perdi-me
na natureza. Os buganvílias cor de maravilha floridos, as Marias vão com as
outras de corres diversas, as pitangueiras floridas, as gralhas azuis que
comigo pareciam falar. Os saguis, as cotias, e os pássaros diversos que por lá
voavam. Caminhar a beira mar, a beija da lagoa Peri, minha alma ficou leve e
solta. Sol, mar e natureza eu era ali um beija flor, pequeno e ágil, de aqui
para ali, absorvendo o néctar, os perfumes.
Sonho com
três beija flores brancos, com pequenos riscos pretos, congelados como se
dormissem a pouca altura do solo. Chego perto, os toco levemente, eles voam e
se transformam em luz. Acordo com o coração palpitando de alegria e paz e penso
vou morrer. Deixo ali o que não mais me pertence e sigo.
Porto Alegre
, setembro 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário