segunda-feira, 17 de julho de 2017


                                        Amanhecer em casa

                                                                                                   Magaly Andriotti Fernandes 

Depois de passar setenta dias na Itália, indo de cidade em cidade, chegar, sentar a poeira é um pouco difícil. Passei um ano programando meu retorno para estudar italiano, a língua e a cultura. Decidir quais cursos, quais cidades diante de um pais com belezas tão singulares.
Os primeiros trintas dias minha base foi em Casalbordino, no Curso Scuola Nova Arcadia. Morei com uma brasileira de São Paulo, e uma  argentina de Mar del. Prata, na via Fontana número 5. Uma cidade pequena, com mais ou menos 4 mil habitantes. Cidade medieval, onde a agricultura, a fabricação de vinho e óleo de oliva é prioridade.
O sol esteve comigo quase todos os dias do percurso. Aqui na região de Abruzzo viajamos por Vasto, Pescara, Chieti, Ortona, Agneno entre outras. Castelos, agro turismo, até fazer pasta na chitarra um instrumento do medievo eu fiz. O sino da igreja toca a cada quinze minutos. Sempre que nasce alguém ele toca, sempre que morre alguém ele toca. Em abril tocou quinze vezes por morte. Uma cidade de anciãos. Na missa conversei com uma senhora de 103 anos que mora sozinha, ativa e com projetos.
                Casalbordino é uma cidade acolhedora, com alimentos saudáveis a bom preço, uma dieta mediterrânea. Peixe fresco comprado de uma pescadora de 72 anos. Uma mulher feliz com sua relação com o mar.
                O canto lírico, a história da língua italiana, Dante Alighieri e outros, a cada igreja muitos afrescos. Em minhas fotos estou sempre sorrindo...sim eu me sentia literalmente viajando, uma viagem espacial, transcendental, imersa na cultura
                Escolhi a Itália pois meus bisavós maternos de lá vieram, da região de Veneto, que deixei para visitar numa próxima ida. Fui a Veneza pela segunda vez e o choro compulsivo uma presença obrigatória. A praça de San Marcos para mim é um lugar sagrado.
                Estive em Alberobello e em Polignano ao Mare. O primeiro terra dos trullis, casa pequenas feitas de pedra sem cimento, pura magia. Onde se come uma das melhores sobremesas: “teta de la mama”.  E a segunda, mar e rochas, um contraste sem palavras. Nela tem a estátua do escritor da musica Volare, tão conhecida por nós brasileiros. Êxtase, era assim que me senti nesses lugares. A estrada toda florida pela plantação de damasco e cerejas.
                Outros trinta dias em San Severino Marche, minha escola do coração, a cada ano estão melhores, professores apaixonados pelo que fazem, estudiosos, te fazem aprender de forma amorosa e lucida. Da região de Marche revi, a Gruta de Franzassi, a florida Spello, Spoleto, Assis (onde se sente ali a presença de Santa Clara e São Francisco de Assis), Gubio e a história de Francisco e o lobo. Macerata e o Sferisferio, onde pensei que nessa volta conseguiria ouvir uma opera, mas cheguei muito antes da temporada. Firenze a bela cidade da arte renascentista, dessa vez consegui entrar no Domu, ir na Academia de arte, ver original do Davi.
                O terremoto no início do ano com epicentro no monte Sibili, não permitiu o retorno a Norcia, e Caltelmucio, mas ensinou a força desse povo.
                As duas últimas semanas passei em Roma, vi o Papa duas vezes, ouvi uma missa toda em latim com cantos gregorianos, vi a Pieta. Na Capela Cistina, literalmente voei, lindo demais, Michelangelo foi um gênio, a tridimensionalidade de sua obra, nos insere e nos transporta. Cada rua tem um pouco da história, o perfume dos jasmim poeta,  o vento do deserto, me fez sentir que tinha 12 anos, e ouvir minha professora do ginásio contanto o percursos dos romanos na conquista pelo mundo. O Coliseu e seus corredores, as cenas de leões devorando pessoas, para mim elas estavam ali postas, vivas ainda.
                As fontes, a Fontana de Trevi, essa que me embriaga, que me dá vontade de jogar-me e sair nadando, ou de ficar ali simplesmente boiando naquelas aguas límpidas. Muitos turistas já o fizeram, multa de 400 euros.  Sonhar de ir a Fontana e não ter ninguém pelas ruas, pois Roma é uma cidade onde milhares de pessoas por lá passam, nunca se esta sozinho, sempre se disputa um lugarzinho ao sol. Ruas com músicas, clássica, popular, com apresentações teatrais.
                Por setenta dias, todas as manhas eu estava em sala de aula. Chegar, retomar a rotina, refazer projetos, inserir-se.
Porto Alegre, 17/07/2017





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