sábado, 5 de novembro de 2016

                                                                                           

        JOANA

                                                                                                     Magaly Andriotti Fernandes

                Joana não sabia ler e nem escrever, mas adorava falar, adorava inventar histórias. Historias suas, sobre suas filhas, suas netas.
Tinha horas que Joana se metia em encrenca, pois inventava sem preocupar-se com a veracidade dos fatos.
Verdade, mentira, real ou imaginário, quem sabe ela não soubesse bem as diferenças.
Falava, falava pelos cotovelos.
Adorava visitar, amigas, vizinhas, tias, primas e filhas. Não gostava de ficar em casa.
Ficar quieta por casa, só se tivesse algo para tecer, algum crochê encomendado, ou para seu próprio consumo.
Nasceu em baixo de mal tempo, o trabalho era seu nome. Na roça até casar, e depois como doméstica na sua própria casa e na dos outros. Ainda idosa trabalhava.
Casou, pariu seis filhos, os criou, da mesma forma que sua mãe, os colocando em casa alheia para trabalhar.

Só hoje passados anos, já adulta, entendo, Joana, minha avo materna. Hoje já sem ranços, sem raivas guardadas, entendo que ela inventou o mundo que pode. Hoje a amo assim como ela em cada canequinha de carne com manjerona que me ensinou a fazer. Como o pão caseiro, que nos deixava moldar bonecos. Cada vez que faço pastel de carne, massa com galinha, todas suas receitas. As minhas não tem o tempero e o sabor dos dela. Saudade Joana, descasa e fica com Deus.

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