segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A menina e os lobos

                                                            Magaly Andriotti Fernandes

Hoje antes de sair da cama assisti ao filme francês: “A menina e os lobos”. Fala de uma menina, que os pais estão tão ocupados com o trabalho que não conseguiram se organizar para as férias escolares da filha. A enviam para a casa do tio que é um biólogo que cuida dos animais num parque florestal.
Ela vai em uma aparente calma e autonomia. Fiquei me interrogando quanta autonomia uma menina de dez anos pode ter? Ela chega num momento em que um casal de lobos ataca as ovelhas dos moradores da região.  E a comunidade quer matar os lobos. O tio quer um tempo para caça-los e envia-los para um zoológico, tendo em vista que os lobos estão em extinção.
O pastor que cuida das ovelhas do biólogo, pensa que consegue falar com os lobos como seu avô e pai faziam no passado. As pessoas da cidade pensam que ele e um lobisomem. Temem que os lobos possam comer seus filhos. O biólogo alerta que o lobo, foi tornado um monstro pelos contos de fadas, mas que mata só para se alimentar, e devem estar de passagem pois de onde vem não tem mais alimentos.
Uma trama muito interessante, pois fala dos medos mais primordiais e da irracionalidade humana a partir deles.  Da educação dos filhos e das relações familiares. E da sabedoria de uma menina que pelos conceitos latino-americanos de cuidados parecia abandonada pelos pais, e não, ela é uma pessoa sabia, carinhosa.
Na relação com o tio, que não a esperava, que era uma pessoa grosseira, sem paciência, ela consegue entende-lo, ser afetiva, e auxilia-lo no seu relacionamento amoroso. Com o pastor que tinha um dom, mas estava com muito medo, e ela o ajuda e seguir seu coração.
Um filme simples, com uma fotografia linda, uma paisagem silvestre encantadora, morro, floresta e neve. Uma cidade pequena, preconceitos, velhos hábitos. E uma criança que com seu coração aberto consegue salvar a família de lobos, e a relação amorosa do seu próprio grupo. E mostrar para toda uma cidade que tem como resolver os conflitos sem matar, sem discriminar. O pastor que também pensava que era lobo, conseguiu levar os lobos para o seu percurso, tira-los da cidade, e ser aceito dentro de sua singularidade.
Porto alegre, 14 novembro 2016.


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