A menina e os lobos
Magaly Andriotti Fernandes
Ela vai em uma aparente calma e
autonomia. Fiquei me interrogando quanta autonomia uma menina de dez anos pode
ter? Ela chega num momento em que um casal de lobos ataca as ovelhas dos
moradores da região. E a comunidade quer
matar os lobos. O tio quer um tempo para caça-los e envia-los para um zoológico,
tendo em vista que os lobos estão em extinção.
O pastor que cuida das ovelhas do biólogo,
pensa que consegue falar com os lobos como seu avô e pai faziam no passado. As
pessoas da cidade pensam que ele e um lobisomem. Temem que os lobos possam
comer seus filhos. O biólogo alerta que o lobo, foi tornado um monstro pelos
contos de fadas, mas que mata só para se alimentar, e devem estar de passagem
pois de onde vem não tem mais alimentos.
Uma trama muito interessante, pois
fala dos medos mais primordiais e da irracionalidade humana a partir deles. Da educação dos filhos e das relações familiares.
E da sabedoria de uma menina que pelos conceitos latino-americanos de cuidados
parecia abandonada pelos pais, e não, ela é uma pessoa sabia, carinhosa.
Na relação com o tio, que não a
esperava, que era uma pessoa grosseira, sem paciência, ela consegue entende-lo,
ser afetiva, e auxilia-lo no seu relacionamento amoroso. Com o pastor que tinha
um dom, mas estava com muito medo, e ela o ajuda e seguir seu coração.
Um filme simples, com uma fotografia
linda, uma paisagem silvestre encantadora, morro, floresta e neve. Uma cidade
pequena, preconceitos, velhos hábitos. E uma criança que com seu coração aberto
consegue salvar a família de lobos, e a relação amorosa do seu próprio grupo. E
mostrar para toda uma cidade que tem como resolver os conflitos sem matar, sem
discriminar. O pastor que também pensava que era lobo, conseguiu levar os lobos
para o seu percurso, tira-los da cidade, e ser aceito dentro de sua
singularidade.
Porto alegre, 14 novembro 2016.
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