Um morcego na minha casa
Magaly Andriotti Fernandes
Não é a primeira vez que um morcego
entra no meu apartamento. Outra duas vezes meus filhos ainda moravam em casa,
na primeira eram crianças e na outra, adolescentes. Foi aquela correria atrás do morcego. Na
primeira eu gritava e tentava atacar o morcego com uma vassoura, e ele dava
voos rasantes e nos três gritávamos. Até que ele mais assustado que nos vou céu
afora. Na outra meu filho caçula, rápido
e rasteiro, jogou uma roupa sobre ele e o libertou na janela.
E nessa vez eu estava sozinha. Normalmente
levanto e vou ao banheiro quase que de olhos fechados, mas mal abri os olhos e
o vi, e ele a mim. Um mais apavorado que o outro. Ele voo em direção a sala, eu
corri para o quarto e me fechei.
Tentei dormir, mas não conseguia,
ficava imaginando ele me atacando. Deixei a luz acessa, e ai mesmo que o sono
não vinha. Cogitei em chamar o zelador
ou um vizinho. Pensem bem, um morcego, um animalzinho de não menos de
300 gramas, eu uma pessoa adulta, forte, que durante a vida enfrentei diversas situações
de alta complexidade. Agora ali acuada, assustada e sem nenhum por que.
Pensei nas histórias infantis
terroríficas que meu avô materno contava, onde o morcego estava associado ao Drácula,
aquele que sugava sorrateiramente nas noites de lua cheia o sangue das pessoas.
Por muitos nãos quando vinha da aula a noite, meu medo maior era do Drácula, e
não dos assaltantes, mesmo morando num bairro onde era um tema comum. E se ele
fosse o príncipe das trevas??? Levantei peguei uma saia velha, e fui ao seu
encontro. Ele mais assustado do que eu, já tinha saído para o espaço.
No outro dia, na dúvida, por
orientação de meu filho, informando que morcegos não suportam ruídos, liguei o
aspirador de pó, e vasculhei a casa toda. Nem sinal dele. Mudança de estações,
os morcegos procriam, trocam de ninho, não sei ao certo o que se passa, mas é o
período que nos visitam.
O estudo
do xamanismo nos faz pensar no significado de cada animal em nossas vidas, em
nosso cotidiano, e buscando sobre a medicina do morcego, encontrei o seguinte:”
É a medicina da iniciação, das
habilidades ocultas, dos poderes psíquicos. A habilidade para ver nas sombras,
na escuridão. Evocar para expandir conhecimentos intuitivos. A ouvir nossos
ecos, como o morcego, e sairmos de confusões. Quando precisamos abandonar
velhos hábitos, padrões, comportamentos (morte simbólica), nos abrindo para
novas experiências (renascimento).”
Porto Alegre, 17 março 2017.
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