As árvores nos desvelam
Da minha
janela posso ver no mínimo três espécies diferentes de arvores e palmeiras. E
dependendo da estação as cores das folhas e flores modificam a paisagem, é tudo
muito mágico.
Sempre amei as
arvores. Quando pequena minha casa ficava ao lado de um pequeno bosque cuidado
pelas religiosas da escola onde fiz o primário. E eu brincava junto as raízes
de uma frondosa paineira. Passava quase
que dia inteiro perdida naquele recanto.
Subir em
arvores, na pereiras, nos cinamomos entre outras. Brincar com os amigos lá de
cima, fazer guerras, que diferente das entre países que solucionávamos e
terminávamos cada vez mais amigos.
As paineiras
eram lugares de sonhos e de pesadelos. Minha mãe, que era muito brava, quando
queria me repreender me ameaçava de amarrar junto aos espinhos da paineira. Já
viste o tamanho dos espinhos dessa arvore. Aquilo me apavorava, pois minha mãe
era uma mulher de palavra. O que fiz caso um dia ela resolvesse concretizar?
Tirei um a um os espinhos da paineira mais próxima de casa. Sim das outras nem
me preocupei, pois ela com certeza não iria longe.
E as pereiras,
tinham muitas próximas a nossa casa. Pera maça, pera d’água, pera dura e ficar
lá em cima esperando a turma que vinha brincar. Os galhos não são firme, muitas
vezes a queda era livre. Sentar no alto, sentir a brisa, comer a pera ali
mesmo, suculenta.
As
nogueiras... enormes, na épocas das frutas aquele sucesso. Minhas primas e eu
por várias vezes as comíamos verdes, dor de barriga na certa. O pai, a tia
avisavam...e a pressa, o desejo...
aquele gosto.
Os coqueiros e
seus frutos também muito disputados pelo grupo de amigos. Não só a poupa mas
depois de secos, quebrar e comer a amêndoa. Minha mãe fazia rapadura com elas
se conseguíssemos quebrar muitos.
Nas férias
íamos para a fazenda onde um dos meus tios era capataz, e lá sim não faltavam
arvores para se subir e brincar. As figueiras, deitar na sua sombra, ouvir as
histórias de pescadores. Adormecer ali depois do almoço, acordar com aquela
brisa do rio Jacuí.
Quando fico
triste, saio a caminhar e abraço uma arvore. Se achar uma de galhos grossos e
baixos, sento ali e fico.
Ano passado um
temporal de vento, um furacão, seja lá que nome se dá a essa força da natureza,
derrubou centena de arvores na minha cidade. E quando falo em centena não é força de expressão, foram mais
de quatrocentas . E não só arvores velhas, mas arvores novas. Não só derrubou
como as torceu, galho a galho. O sentimento era de arraso, de profunda
tristeza. E o pior de tudo e que as pessoas não entenderam a mensagem. O
prefeito resolveu que não vai replantar todas essas arvores, mesmo no município
tendo uma Lei que diz que a cada arvore cortada, arrancada de deve plantar duas
outras.
E nas viagens
por países diferentes que vamos descobrindo novas arvores é muito emocionante.
Em Portugal me apaixonei pelas corticeiras, e a forma como eles colhem a
cortiça. Pelas oliveiras, me abracei a uma de mais de mil anos. Na Holanda quando me defrontei com o bosque,
me reportei para os contos de fadas de Andersen e me pus a chorar, lindo
demais.
Em Roma, ao
descer do ônibus próximo ao Coliseu, aquelas arvores muito altas, Pinos
domésticos, antigos, fortes. Estar em Roma, e naquela sombra...uhuu emoção,
emoção.
Pelas estradas
da Toscana os Ciprestes, as Oliveiras, as Amendoeiras... e muitas outras que eu
não saberia nomear, uma viagem à parte.
Montevideo tem
uma arvore para cada três habitantes, uma cidade para se caminhar, sentar nas
praças e parques e curtir, respirar e apreciar os diferentes aromas. O
umbuzeiro, esse seduz, engrandece. Ficar sob ele, encostada ou não, abraçada,
só ali permanecer, rejuvenesce uns cem anos.
Os Jacarandás
em Buenos Aires, floridos justificam um tango. Sair por aquelas praças assim
enlaçada com um belo argentino a bailar.
Porto Alegre
04 fevereiro 2016.
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