terça-feira, 20 de junho de 2017

As árvores nos desvelam
                                                                                                     Magaly Andriotti Fernandes
Da minha janela posso ver no mínimo três espécies diferentes de arvores e palmeiras. E dependendo da estação as cores das folhas e flores modificam a paisagem, é tudo muito mágico.
Sempre amei as arvores. Quando pequena minha casa ficava ao lado de um pequeno bosque cuidado pelas religiosas da escola onde fiz o primário. E eu brincava junto as raízes de uma frondosa paineira.  Passava quase que dia inteiro perdida naquele recanto.
Subir em arvores, na pereiras, nos cinamomos entre outras. Brincar com os amigos lá de cima, fazer guerras, que diferente das entre países que solucionávamos e terminávamos cada vez mais amigos.
As paineiras eram lugares de sonhos e de pesadelos. Minha mãe, que era muito brava, quando queria me repreender me ameaçava de amarrar junto aos espinhos da paineira. Já viste o tamanho dos espinhos dessa arvore. Aquilo me apavorava, pois minha mãe era uma mulher de palavra. O que fiz caso um dia ela resolvesse concretizar? Tirei um a um os espinhos da paineira mais próxima de casa. Sim das outras nem me preocupei, pois ela com certeza não iria longe.
E as pereiras, tinham muitas próximas a nossa casa. Pera maça, pera d’água, pera dura e ficar lá em cima esperando a turma que vinha brincar. Os galhos não são firme, muitas vezes a queda era livre. Sentar no alto, sentir a brisa, comer a pera ali mesmo, suculenta.
As nogueiras... enormes, na épocas das frutas aquele sucesso. Minhas primas e eu por várias vezes as comíamos verdes, dor de barriga na certa. O pai, a tia avisavam...e a pressa, o desejo...  aquele gosto.
Os coqueiros e seus frutos também muito disputados pelo grupo de amigos. Não só a poupa mas depois de secos, quebrar e comer a amêndoa. Minha mãe fazia rapadura com elas se conseguíssemos quebrar muitos.
Nas férias íamos para a fazenda onde um dos meus tios era capataz, e lá sim não faltavam arvores para se subir e brincar. As figueiras, deitar na sua sombra, ouvir as histórias de pescadores. Adormecer ali depois do almoço, acordar com aquela brisa do rio Jacuí.
Quando fico triste, saio a caminhar e abraço uma arvore. Se achar uma de galhos grossos e baixos, sento ali e fico.
Ano passado um temporal de vento, um furacão, seja lá que nome se dá a essa força da natureza, derrubou centena de arvores na minha cidade. E quando falo em  centena não é força de expressão, foram mais de quatrocentas . E não só arvores velhas, mas arvores novas. Não só derrubou como as torceu, galho a galho. O sentimento era de arraso, de profunda tristeza. E o pior de tudo e que as pessoas não entenderam a mensagem. O prefeito resolveu que não vai replantar todas essas arvores, mesmo no município tendo uma Lei que diz que a cada arvore cortada, arrancada de deve plantar duas outras.
E nas viagens por países diferentes que vamos descobrindo novas arvores é muito emocionante. Em Portugal me apaixonei pelas corticeiras, e a forma como eles colhem a cortiça. Pelas oliveiras, me abracei a uma de mais de mil anos.  Na Holanda quando me defrontei com o bosque, me reportei para os contos de fadas de Andersen e me pus a chorar, lindo demais.
Em Roma, ao descer do ônibus próximo ao Coliseu, aquelas arvores muito altas, Pinos domésticos, antigos, fortes. Estar em Roma, e naquela sombra...uhuu emoção, emoção.
Pelas estradas da Toscana os Ciprestes, as Oliveiras, as Amendoeiras... e muitas outras que eu não saberia nomear, uma viagem à parte.
Montevideo tem uma arvore para cada três habitantes, uma cidade para se caminhar, sentar nas praças e parques e curtir, respirar e apreciar os diferentes aromas. O umbuzeiro, esse seduz, engrandece. Ficar sob ele, encostada ou não, abraçada, só ali permanecer, rejuvenesce uns cem anos.
Os Jacarandás em Buenos Aires, floridos justificam um tango. Sair por aquelas praças assim enlaçada com um belo argentino a bailar.

Porto Alegre 04 fevereiro 2016.

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