Escrever é uma paixao, agora colocando em pratica, ou melhor agora tornando publica. Venho escrevendo e guardando para mim mesma. E dada hora de compartilhar e trocar.
domingo, 26 de março de 2017
Menina Flor
Magaly Andriotti Fernandes
Esse é um livro que fiz bordado para minha neta do meio. Fiquei pensando nela agora em plena puberdade, entre a infância e adolescência. Eu entre a vida adulta e o outono da vida. Momentos de muita criatividade e construção. Desconstrução também. Pensei que dos meus dez anos até agora muita coisa mudou, mudou para melhor e avalio. Eu um ano mais velha mudei de endereço deixando para trás todos os meus amigos e meu mundo da infância, mudei de casa e de escola, menstruei. Tudo novo, muito sofrimento e muitas descobertas. Amigas novas que até hoje continuamos cultivando amorosamente esses laços.
Ele começa assim: A menina era uma artista e amava as flores. Pintava, cantava,dançava. A natureza era sua grande mestra.
Minha neta sempre gostou de pintar, dançar, bordar, escrever. Ela já vez bale, dança de rua, ginastica olímpica. Em casa ela tem um espaço para exercitar sua arte. Adoro mexer com o biscuit, mosaico e outros matérias onde faz trabalhos inéditos. Ela agora aos nove anos também fez uma mudança de casa e de escola, mudança dificílima, mas ela já inserida no novo grupo. E diferente da minha, ela mudou de Estado, de cidade, o que implica em uma cultura totalmente nova.
E o livro segue: Pintar , colorir ela amava. Com tinta a óleo, acrílica, a vida era transposta para a tela.
Por um período ela fez escola de Arte numa cidade vizinha.
Com e suas amigas a brincadeira de rodas animava seu dia.
Essa é uma das vantagens de quem mora em cidade pequena, e na zona rural, as brincadeiras, a possibilidade de estar no patio, na pracinha. De caminhar pelas arvores, de subir nelas.
O convívio com os animais, gatos e cães, com pássaros. E também com os nocivos aranhas, cobras, sapos, faz com certeza a vida na infância muito diferente dos grandes centros.
Os recursos que ela contam para utilizar nas suas produções, folhas , flores, experimentar cores.
Continuamos no livro: Sua casa era onde ela preferia estar. E lá tudo era florido.
Ela era a mais velha. Tinha uma pequena irmã.
Sim , depois de seis anos reinando, ela ganhou uma irmãzinha.
E agora um novo desafio. Pasmem, eu e minha irmã, também temos
seis anos de diferença.
Eu penso que não é fácil, de repente ter que dividir o espaço com outra menina.
Minha irmã até hoje é uma segunda mãe. Apesar de eu ter feito ela passar por
mal bocados, ela sempre foi paciente e amorosa comigo.
Vejo que as duas também, estão assim entre o amor e o ódio. E não tem
muito como ser diferente.
Eu com meu irmão mais moço, oito anos mais moço, fui muito
malvada. Ele sofreu um tanto nas minhas mãos. Águas passadas.
Estão vendo, inventar um livro, borda-lo, desenha-lo, mexe, mexe
muito...
Segue:
A menina voou pelo mundo todo.
Sim agora através dos livros. E sempre que podemos nas ferias vamos a cidades diferentes. Mas o que o futuro reserva... só os sonhos da menina dirão.
Andar num zepelin era minha fantasia de criança. Andar no balão voador, olhar tudo lá de cima, sentir o vento nos levando sem rumo.
A vida é um pouco assim, ora vento, ora brisa....nos levando num percurso sem fim.
No retorno da viagem, junto com sua família,ela agora assim como as flores desabrocha.
E assim chega ao fim essa curta historia da menina flor.
Que longe ou perto esta sempre com sua família interna e amada bem juntinho.
Quanto pequena minha família, que era chefiada por um italiano, simpático e congregador, era muito grande. E nós nunca viajávamos. Porem com as historias que meu avo contava, com as que minha mãe lia nos livros para me fazer dormir, me fizeram hoje ser assim, apaixonada pelo desenho, pelo bordado, pela escrita.
Minha mãe fez ate a quarta seria primaria. Ela lia muito e gostava do que lia e com ela íamos longe, muito longe.
Porto Alegre, 26 março 2017.
quarta-feira, 22 de março de 2017
O andarilho do bairro
Magaly Andriotti Fernandes
Ao sair de
casa , com muita frequência, vejo um homem dos seus quase quarenta anos, se é que
dá para precisar sua idade, maltrapilho, caminhando, com sacolas nas mãos. Ele está
sempre sujo, muito sujo. Cabelos curtos e castanhos, isso também é uma incógnita,
pois seu cabelo tem sempre o mesmo tamanho. Seus traços faciais lembram um índio.
Ele caminha, caminha. Não o vi nunca parado ou sentado.
Ele tem um
olhar desfocado, apagado, e vai sempre em frente. Não o vejo em outros locais
da cidade, só aqui no bairro.
Fico
imaginando o que o levou a sair por ai, caminhando assim, a princípio sem rumo.
Nós que o vemos pensamos isso, mas quem sabe ele tenha uma rota imaginaria que
tem que cumprir, um percurso seu, só seu que tenha sentido e que o acalente.
O que ele leva
nas sacolas? Comida? Roupas? Não é possível ter pistas. Elas estão dias mais
cheias, outros dias mais vazias. Que vida é essa? Como viver assim ao relento.
Os dias que chove muito fico imaginando onde será que ele abrigado se é que
está? Um homem magro, muito magro, mas uma magreza que se mantem, assim como
seus cabelos. Algumas coisas nele não andam, não mudam.
Quando eu era
menina, e morava num bairro vizinho, tinha um homem que caminhava pelas ruas,
mas esse tinha o cabelo comprido, usava um terno de linho branco. Penso que
tinha casa, e caminhava durante o dia, pois estava sempre limpo. Um dia quando
vinha do mercado com o leite, no tarrinho, assim que comprava-se leite. Ele me parou,
pegou o tarro e tomou boa parte do conteúdo. E eu ali totalmente paralisada.
Quando ele me devolveu o tarro sai correndo, cai, me machuquei, e cheguei em
casa só choro.
Algumas pessoas,
aprendi no curso de psicologia, não conseguem viver em espaço fechado como uma
casa, um apartamento. Precisam desse espaço amplo, da rua, para viverem e se
significarem. Para aqueles que vivem nas suas casas, nos seus lares, essa vida
não faz sentido. Mas, tem, eles tem sentido, um sentido único e singular.
Hoje voltado
para casa o encontrei, e fiquei pensando o que fazer para ajudá-lo. Sim eu
penso que ele precisa de ajuda. Seu estado de sujeira, de atiramento, se cheiro
que sente-se ao longe. Pará-lo e oferecer para pagar um almoço? Ajuda-lo a
chegar a um serviço onde possa ser acolhido?
O problema
desses serviços que eles assim como eu quero, desejo coisas por ele e para ele.
Não vão aceitar que ele fique indo e vindo, que ele possa vir ali e tomar um
banho, coma algo. Que é a família dessa pessoa? Em que momento ele sai a peregrinar,
a trilhar as ruas do bairro infinitamente?
Não sei se ele
fala, nunca o ouvi, nem vi, falando com outra pessoa. Anda calado, não tenta
aproximar-se, não pede nada, só caminha.
Porto Alegre, 22 março 2017.
domingo, 19 de março de 2017
FEIRA LIVRE
Magaly Andriotti Fernandes
Todo domingo na rua do meu edifício
tem uma feira popular, nela se vende legumes, frutas, artesanato, carnes
diversas, sucos, grãos, doces caseiros e muitas outras coisas para nosso
cotidiano. São produtos fresquinhos, novos e com um bom preço.
Amo ir na feira, primeiro porque
ali é um lugar de encontro, se fala com os vizinhos de perto e de longe, amigos
do bairro. E um colorido para os olhos, aquelas bancas com o verde das alfaces,
crespa, lisa, das couves, dos temperos. Do vermelho dos tomates, do roxo das
uvas, do amarelo do milho, do branco do aipim, do laranja, do marrom.
Minha mãe já comprava na feira, e
para nós crianças era uma festa. Comer pastel frito na hora com suco de
laranja. Quando meus filhos eram pequenos, são gêmeos, perdi um deles. Foi
aquele desespero, aquele corre e corre. E ele quando encontrado, ali na banca
do torresmo, bem tranquilo, comendo, deliciando-se e num bom papo.
Os feirantes são divertidos,
gritam alguns, outros mais discretos, fazem piadas. “Mulher bonita não paga...
mas também não leva”. Tudo é pago em
dinheiro, já que o custo e bem mais baixo que na rede de supermercados local.
Não tenho horta em casa, como meu
avô tinha, então domingo e como se fosse ao pátio de casa. Logo que casei, comprar
chuchu, bergamota, pera, tempero verde, couve era muito estranho. Na casa de
minha mãe era só sair na rua e colher.
Fico pensando que a maioria das
pessoas, que tem essa facilidade de ter ali bem próximo o que necessitam para
sua alimentação, esquecem qual o trabalho que dá para que esses legumes,
verduras e frutas cheguem ali. Esquecem as interferências do clima, os agrotóxicos
que vem sendo utilizados no plantio, e que vem produzindo cada vez mais
doenças. Vejo pessoas brigando verbalmente com o feirante pela falta desse ou daquele
produto; pela qualidade dos mesmos. E nas crianças educadas em apartamentos que
não tem esse contato com o campo. Como fica para elas o conhecimentos dos
alimentos.
Tive um paciente que só conhecia
galinha, essa da máquina de assar. Quando viu o primeiro animal vivo criou uma
fobia.
Porto Alegre 19 março 2017
sexta-feira, 17 de março de 2017
Um morcego na minha casa
Magaly Andriotti Fernandes
Não é a primeira vez que um morcego
entra no meu apartamento. Outra duas vezes meus filhos ainda moravam em casa,
na primeira eram crianças e na outra, adolescentes. Foi aquela correria atrás do morcego. Na
primeira eu gritava e tentava atacar o morcego com uma vassoura, e ele dava
voos rasantes e nos três gritávamos. Até que ele mais assustado que nos vou céu
afora. Na outra meu filho caçula, rápido
e rasteiro, jogou uma roupa sobre ele e o libertou na janela.
E nessa vez eu estava sozinha. Normalmente
levanto e vou ao banheiro quase que de olhos fechados, mas mal abri os olhos e
o vi, e ele a mim. Um mais apavorado que o outro. Ele voo em direção a sala, eu
corri para o quarto e me fechei.
Tentei dormir, mas não conseguia,
ficava imaginando ele me atacando. Deixei a luz acessa, e ai mesmo que o sono
não vinha. Cogitei em chamar o zelador
ou um vizinho. Pensem bem, um morcego, um animalzinho de não menos de
300 gramas, eu uma pessoa adulta, forte, que durante a vida enfrentei diversas situações
de alta complexidade. Agora ali acuada, assustada e sem nenhum por que.
Pensei nas histórias infantis
terroríficas que meu avô materno contava, onde o morcego estava associado ao Drácula,
aquele que sugava sorrateiramente nas noites de lua cheia o sangue das pessoas.
Por muitos nãos quando vinha da aula a noite, meu medo maior era do Drácula, e
não dos assaltantes, mesmo morando num bairro onde era um tema comum. E se ele
fosse o príncipe das trevas??? Levantei peguei uma saia velha, e fui ao seu
encontro. Ele mais assustado do que eu, já tinha saído para o espaço.
No outro dia, na dúvida, por
orientação de meu filho, informando que morcegos não suportam ruídos, liguei o
aspirador de pó, e vasculhei a casa toda. Nem sinal dele. Mudança de estações,
os morcegos procriam, trocam de ninho, não sei ao certo o que se passa, mas é o
período que nos visitam.
O estudo
do xamanismo nos faz pensar no significado de cada animal em nossas vidas, em
nosso cotidiano, e buscando sobre a medicina do morcego, encontrei o seguinte:”
É a medicina da iniciação, das
habilidades ocultas, dos poderes psíquicos. A habilidade para ver nas sombras,
na escuridão. Evocar para expandir conhecimentos intuitivos. A ouvir nossos
ecos, como o morcego, e sairmos de confusões. Quando precisamos abandonar
velhos hábitos, padrões, comportamentos (morte simbólica), nos abrindo para
novas experiências (renascimento).”
Porto Alegre, 17 março 2017.
sexta-feira, 10 de março de 2017
A maternidade (1)
Magaly Andriotti Fernandes
No ritual de
final do ano, no tarô das deusas tirei a carta da maternidade. Meus filhos já
são adultos, já constituíram família, já sou avó, o que essa carta está me
fazendo refletir pensei.
Já há alguns
anos desde que meus filhos foram para a vida fora do lar que tenho tentado
sustentar a tese de que mãe tem limites. Que mãe não e para a toda vida. Não
por eles, que sempre foram muito autônomos. Agora eu, pareço uma permanente
pata choca.
Então tem algo
dessa função que eu preciso ainda aprender, me despedir quem sabe?
Eu sou uma
pessoa quase sempre do contra. Na adolescência quando a maioria da minha amigas
sonhava em casar e ter filhos. Eu levantava a tese de que esse mundo era
caótico demais para se ter filhos. Que era um ato de irresponsabilidade trazer
um novo ser a esse mundo.
Achei minha
alma gêmea e com ela passei a ter sonhos, e dentre eles o de ter nossa
família. E para nosso grande espanto,
pois não tinham muitos gêmeos na família que se soubesse, fiquei gravida de
gêmeos. Uma revolução em nossas vidas de
sonhadores. Minha onipotência nessa época era algo do tamanho de uma montanha
talvez. Eu trabalhava, fazia duas faculdades e ai a maternidade.
Com os filhos
passamos ai mais concretamente tentar mudar o mundo. Sem filho já estava
complicado e agora com dois ao mesmo tempo foi um grande desafio. Penso que sim mudamos nos enquanto casal,
enquanto pessoas; crescemos muito. Alguns sonhos aos poucos fomos abandonando pelo
caminho, construindo outros. Vou me deter só na maternidade, como se fosse
possível. Só fui a mãe que eu fui porque o pai de meus filhos esteve ali
cotidianamente comigo, conosco nessa construção.
Fui uma mãe
muito possessiva. Eu era uma leoa com suas crias. Quando o pai estava por perto
tudo era mais fácil, podia relaxar, caso contrário, não tocassem em meus
filhos.
Eu queria que
eles nascessem em casa, mas sendo gêmeos meu obstetra não aceitou, mas nasceram
de forma humanizada. Fizemos o curso de preparação para o parto normal. O parto em si, por ele eu teria muitos e
muitos filhos, momento muito intenso e emocionante. Eu que sou um poço de
controle, não me dei conta que seriam dois partos. Dois filhos, dois partos.
Não sabia que sofria de uma doença que meu útero depois de expulsar a criança
não voltava a contrair. Tive que induzir o segundo parto, o que por muitos anos
não me perdoei. Até que finalmente entendi que foi o melhor. Ai um dos
primeiros limites na maternidade, e as marcas do mundo se fazendo presentes.
E depois a
cada fase, a cada momento do crescimento de meus filhos foi um constante
aprendizado. Até hoje, agora aposentada, fico me interrogando porque a
sociedade não permite que possamos ficar com nossos filhos até os dois, três
anos sem trabalhar, que eles possam ir para a escola já quando estão querendo
se socializar, brincar com outros. Eu agora tenho todo tempo do mundo só para
mim. Tranquilamente poderia me aposentar mais tarde e ter ficado mais tempo com
eles. Fiquei o máximo que pude, me exonerei de um cargo público. Mas a cobrança
social e grande. E só a presença materna sem as condições financeiras, sociais,
econômicas e culturais não resolve. Então ser mãe requer, implica a nossa
inserção social. Vejo mães alucinadas, que não se dão conta que a vida é uma
permanente relação.
Eu sou muito
grata a minha mãe, que sempre esteve comigo. Eu era uma filha ingrata, deixei
meus filhos na creche por um período. Ela não entendia muito, achava que eu era
uma bruxa. Sempre firme, fizesse eu o que fizesse, ela não me abandonava, ali
firme e forte. Nos duas eu pensava éramos muito diferentes. Hummm
diferentes... nem tanto, hoje olho para
trás e me percebo em muitas coisas muito parecida com ela. Consegui educar meus
filhos sem tantas surras quantas apanhei. Eles levaram sim algumas palmadas,
fiz algumas intervenções mais duras que doeram em mim. Hoje consigo ver outras
possibilidades, mas naquela época não, os recursos emocionais que contava, eram
aqueles.
Ser psicóloga,
penso que muito me ajudou na maternidade. Eu lia muito, e no trabalho optei
pelo trabalho clinico com grupo de familiares. No decorrer da minha carreira
sempre lutei para que as mulheres que assim o quisessem pudessem realizar sua
maternidade da melhor forma. Com esse tema da maternidade no cárcere, fui agraciada
com duas viagens para conhecer o sistemas prisionais na Costa Rica, na América
Central e na Suécia, Holanda e Dinamarca. Minha maternidade me levou
longe…posso dizer. Ou as minha ideias sobre a maternidade.
Agora que
muitas vezes escuto meus filhos, tem períodos de seus desenvolvimentos que fico
pensando, gente como eu era louca. Como eu deixei eles aqui ou ali; com esta ou
aquela pessoa, numa busca incessante pelo novo. E como eu errei.
Ser mãe é ter
que rever, reviver conflitos que estavam lá o fundinho da nossa psique,
guardados, quietos. Não tem jeito eles vem à tona. E o bom, que vamos recriando outras formas de
vivencia-los, ou não. Eu penso que muitos consegui inovar. É um processo constante.
Porto Alegre
10 março 2017.
quinta-feira, 9 de março de 2017
Comentário critico: livros lidos em 2017
BARBA ENSOPADA DE SANGUE , Daniel
Galera, Ed. Companhia das Letras,2012
Meu sobrinho me emprestou esse
livro para ler na praia. Estava indo para Pinheira e ele me falou que a drama
se passava em Garopaba, praia que nos gaúchos apreciamos muito. Não fosse o empréstimo, pelo titulo nunca teria comprado o livro. Depois de lido, fica claro que a barba e o elo entre ele e seu avô paterno, a barba e o resgate de sua identidade, e o fechamento da peça do quebra cabeças de sua historia pessoa em busca da ancestralidade.
Trata-se de um romance que depois
de iniciado é difícil parar. O autor vai levando o leitor pela vida da comunidade
daquele município catarinense, através do relato da vida de um professor de
educação física, que se muda para lá em busca de desvendar os mistérios da
morte de seu avô. Seu pai o chamou para uma conversa, e nela revelou que iria
se matar, e contou também a história do avo, que teria sido morto num baila na
cidade de Garopaba. O avô era um homem briguento, que não levava ninguém para
compadre como se diz aqui no sul. Qualquer discussão puxava da adaga.
Seu pai lhe deixou a cachorra já velha,
mas com a missão de sacrifica-la. Ele não conseguiu fazer isso e adotou-a, e
ela e ele. Logo consegue um apto na beira do mar, próximo aos pescadores, e um
emprego em uma academia.
As pessoas achavam muito suspeito
seu jeito de ser, pois deixou a barba crescer, e ia perguntando pelo Gauderio,
codinome de seu avô. A senhora que lhe
alugava o apartamento lhe aconselhou a não fazer isso. Deu-lhe o nome da
namorada do avo, pois essa seria a única pessoa que lhe podia dizer algo.
A forma de contar, de narrar os
fatos, ele vai entrando com romances, que nos fazem conhecer um pouco mais da
personalidade do personagem principal. Ele sofre de um mal neurológico que
dificulta o reconhecimento dos rostos das pessoas. Porem ele achou um jeito de
lidar com tal problema, quando conhece alguém novo busca algo que lhe faz
lembrar da pessoa, cheiro, marcar, gestos.
O livro é narrado de tal forma
que ao final sente-se falta do personagens, de suas histórias e aventuras.
Permeia o relato a história da
pesca e dos pescadores, a influência da industrialização ali na vida daquele
povoado. A invasão dos turistas e a não preservação da mata.
Um livro encantador, envolvente,
num português de fácil leitura, com personagens excêntricos, bem delineados. Outros
corriqueiros mas que servem para mostrar o inverno na praia, a falta de perspectiva,
e a mudança que ser processou e se processa no litoral catarinense.
Porto Alegre, 09 março 2017
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
terça-feira, 7 de março de 2017
O MAR
Magaly Andriotti Fernandes
Plagiando o poeta, o mar quando bate na praia,é bonito, é bonito e a mim provoca suspiros, olhares e encantamento. Posso ficar ali horas intacta, estática só olhando. Assim como os pacientes catatônicos que no meu estagio de psicopatologia me impressionavam. Quem sabe eles ficam la fixos em algo, que só eles vêm.Ou como um lagarto que fica horas paralisado ao sol, lagarteando como dizem.
Digo intacta, mas caso o mar resolva não apenas rebentar na areia, mas avançar, e com certeza me pegara desprevenida, despreparada e surpreendida, terei então que mover-me. Conforme a mare, ele sobe mais ou menos. Conforme a luminosidade do dia, ele fica mais transparente ou mais turvo. Conforme a estação do ano, mais quente ou mais frio. Tudo isso sei porque alem de olhar adoro ficar submersa, nadando, boiando, mergulhando em suas águas suaves , aveludadas. Quando a onda passa e como se nos acariciasse. Esse conceito ouvi de um menininho na beira da praia enquanto brincava com a areia. Ele dize as águas são como veludo, macias.
Tem uma musica que sempre me vem a cabeça enquanto estou ali, parada..."beira do mar, lugar comum, começo do caminhar para dentro de outro lugar, para dentro do fundo azul...". Saber que do outro lado existe outro continente, outros povos, outras terras. Um só planeta, vários oceanos, ecoa a pergunta infantil, como ele não transborda, como ele simplesmente vai e vem. Quando olho de cima, do avião a pergunta persiste. Quando aprendi que a terra é redonda deu um nó nos meus pensamentos, como pode... sim eu sei a gravidade produz esse efeito, mas é um conceito estático, não dinâmico para o meu cérebro, não esta integrado, quem sabe coisa de gente assim meio doida.
Eu e o mar, lugar onde muito namorei, onde meus filhos foram fecundados. Lugar onde choro quando estou muito triste, onde me alegro, onde me reenergizo. Lugar onde tenho muito medo, um medo ancestral quando mergulho, ou quando fico mais no fundo. Medo esse que me impede de mais me aventurar nas profundezas do mar. O máximo que consegui foi fazer um mergulho de prancha, puxada por uma lancha, olhando com o "snokel" os peixes ,que passavam. Quando vislumbrei uma tartaruga gigante, quis logo ser retirada do mar, mesmo sabendo que a tartaruga dava nem ai para mim, e nada de mal poderia me acontecer.
Em noites de lua cheia ficar ali na beira observando os pescadores, ou apenas o reflexo da lua no mar e ouvindo as ondas, êxtase total.
Um dia ainda vou morar na beira do mar.
Porto Alegre, 07 março 2017
segunda-feira, 6 de março de 2017
RISCO E RABISCO: EU, segundo minha neta caçula ...
RISCO E RABISCO: EU, segundo minha neta caçula ...: EU, segundo minha neta caçula Magaly Andriotti ...
EU, segundo minha neta caçula
Magaly Andriotti Fernandes
Amei me ver assim retratada aos olhos de uma menina de três anos. Multicolorida, braços abertos, cabelos crespos, boca meio sisuda, olhos abertos e um nariz grande o suficiente para sentir os cheiros que a natureza nos brinda, pernas firmes em direção ao amanha.
E essa menina não é simplesmente uma menina, ela é a minha neta caçula. Tenho outra neta e um neto, mais velhos. Eles devem também ter me retratado, mas cada um em seu momento e eu no deslumbre de ser avó, não capturei as imagens. Seria interessante observar as diferentes formas como me viram e me desenharam.
Entendi que o colorido, e digo entendi, pois ela não me dize nada, como boa artista desenhou, que a emoção e o carinho que quero transmitir chega. Que a alegria de estar com ela, a festa e percebida.
Ser avo paterna é deveras muito complicado. Não pensem que é assim , nasce o neto ou a neta e já estamos ali prontos para o momento e as vivencias que decorreram. Com cada neto e neta é um aprendizado. Assim como as cores em suas singularidades os sentimentos que vão acordando e se manifestando.
Digo sempre que no período que fico com elas e ele, faço uma regressão ao meu eu infantil, e tenho que reconhecer que não é difícil. Minha criança interna esta ainda bem viva e arteira. O complicado é ter que depois voltar ao mundo adulto. Tem brincadeiras que eu travo, não vou adiante. Por exemplo elas agora tem um pula pula gigante, e querem que eu entre la e pule com elas, não dá. Isso não é para mim. Uma que estou com o peso bem acima da media, e outra que não me imagino pulando. Subir em arvores, isso sim eu amo. Agora só as mais baixas e com galhos fortes para me suportarem. Essa sim é uma brincadeira que eu gosto. Ficar la encima, olhar os pássaros, jogar com canudinho de taquara bolinhas de cinamomo nos outros.Brincar de casinha, de comidinhas, de roda, de cantar, de contar e de ouvir historias. Sim tem avós e avôs que pensam que só tem a ensinar, mas com as crianças aprendemos muito. E as historias que eles contam são muito criativas e inovadoras.
Eu adoro quando estamos todos juntos, ver os dois mais velhos em conversas filosóficas, religiosas,históricas e cientificas. Eu não saberia dizer se todas as crianças são assim , mas os meus netos são. E o emocionante são as trocas afetivas, como se cuidam e são confidentes um do outro. E a pequena aprendiz os olha, copia, cria e inventa novas formas de estar no mundo.
Com eles minha escritora já se manifestou, produzimos livros a dois, a três. Eu já bordei dois livros. Um a partir de um personagem criado pela caçula, um cavalo rosa, o segundo com a menina flor, minha neta do meio. O primeiro foi a Cobra-cão, nasceu a partir da confecção de uma cobra de tecido de cinco metros. Quando vi a cobra pronta, olhinhos, aquela enorme almofada, o texto foi brotando, uma cobra que queria ser cão de guarda de duas meninas.
Com eles o mundo fica colorido e produtivo. E ai estou eu, assim retratada, colorida e crespa.
Porto Alegre, 03 março 2017.
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