sexta-feira, 2 de novembro de 2018



Em 9 maio 2018, lancei a Antologia de Contos PRA VER A BANDA PASSAR- CONTANDO HISTORIAS DE AMOR, com outros oito autores. Essa coletanea é resultado da participação na Oficina de escrita literária, coordenada pela escritora Jacira Fagundes. Participo dela desde 2016.
Escrever foi sempre um desafio, e agora aposentada estou podendo me dedicar a ler e escrever.
Escolhemos nos inspirar nas musicas do nosso amado Chico Buarque de Holanda. Eu escolhi tres musicas não muito conhecidas.
A primeira A Ostra e o Vento, que foi feita para trilha sonora do filme de igual nome. E para minha supresa o filme foi baseado num livro com o mesmo título. Nele conto a historia de uma mulher jovem, que mora numa ilha como seu pai que é faroleiro. Uma história de amor, e auto conhecimento.
No segundo , a musica Doze anos, nela Chico fala da infancia de menino peralta. E eu no meu conto , falo de uma menina curiosa, alias o nome do conto é : Curiosidade infantil, que gosta de abrir sapos.
O terceiro e último, um menino, narrador, conta sua viagem com a avó paterna ao Rio de Janeiro, e sua experiencia de falar com um esquilo.
Convido-os a ler. Pode ser comprado pela AMAZON, da editora Metamorfose.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018


O  Porteiro 


                                           

                                                        Magaly  Andriotti Fernandes


Ele chega pontualmente às 5h55min. Fala alto, não se apercebe que sua voz pode acordar os condôminos, logo ele tão cuidadoso. Fala grosso e o som se propaga. Fica ali sentado, atende ao interfone, abre e fecha o portão dos carros e a porta dos pedestres. Não é de muita fala, bom observador, conhece a vida de todos. Só reproduz, uma história, um fato, se alguém lhe interroga. Por si só, não relata e não inventa nada, não gosta de fofocas. Preciso.  Observa todos como uma águia. Seus olhos escondem-se por trás de um grande bigode, bigode denso e escuro, olhos de bom observador. Foi contratado nos primeiros dias após a inauguração da construção. Já há muito tempo poderia ter se aposentado. Chegou aqui com outros dez anos de portaria. O prédio onde trabalhava anteriormente era bem pequeno, não gostava de lá e o salário era bem menor. Nesse, são 480 apartamentos, duas portarias. Ele fica sempre na mesma, argumenta que assim é melhor para segurança. Não aceita trocar. Trabalha no turno da manhã, e raramente cobre a folga de algum colega. Não gosta de falar de si. Faltar ao trabalho, inverno e verão, não importa, segue seu cotidiano. Faltou só quando a mãe faleceu. Tem que sair de casa as 4 horas da madrugada para chegar no horário. Não suporta pensar em chegar atrasado. É um homem de mais de sessenta anos, saudável, forte, peso adequado ao seu biótipo, calvo.
            Desde o início de agosto anda cabisbaixo, pensativo: -  quarenta anos, quarenta anos e todos os dias a mesma rotina. Acorda, faz sua higiene, toma uma xicara de café preto, reflete, não suporta leite, ovos mexidos, hoje, não vai comer. Alimenta seu canário, ele é tudo o que tem de bom e perfeito, o deixa na área de serviço e sai. Por vezes pensa em levá-lo consigo. Isso o distrairia, não varia bem seu trabalho e por isso o deixa, ali solitário. O ônibus fica há três quadras. O motorista e o cobrador, já conheceu muitos. Até a linha do ônibus não é mais a mesma. Agora ele, ele não, sempre fazendo aquele mesmo percurso, indo para o mesmo destino. Outro dia aquela vizinha, a primeira a ocupar o apartamento do bloco Y, no décimo andar, lhe perguntou: - tu quem és?  Quando trocaram o porteiro e eu nem sabia? Imagina, sempre a cumprimentou. Quantas vez já interfonou avisando que chegara alguma encomenda, ela mesmo recebeu de suas mãos, fazia algum comentário sobre política. Ele que se preocupava em não deixar nenhum estranho entrar. Em zelar pela segurança de todos.  O que essas pessoas pensavam sobre ele? E aquela menina desaforada do bloco G, que chegava gritando, dizendo palavrões, ele aceitava quieto, calado, não fez nunca queixa aos país.
            O que fez de sua vida! Não casou, cuidou da mãe até três anos passados, quando um câncer a levou. Esse mês completa aniversário de falecimento. Os irmãos nunca cuidaram dela, e não lhe agradeceram por ter dedicado seus dias a cuidá-la.    Chega em casa, faz o almoço, lava roupa e vai ler. Não gosta de televisão, gosta sim de uma boa série policial. Isso também lhe incomoda muito.  Essa semana mesmo, terminou sua serie preferida, Luther.  Isso não é correto, esses diretores deveriam fazer séries que não tivessem fim. Não é certo deixar o espectador assim desamparado.
            A manhã ali naquele prédio é relativamente tranquila. As pessoas, em sua maioria saem para o trabalho. Essa semana tinha o velório do senhor do bloco H. Um homem de setenta anos, bom papo, um enfarto e pronto. Observa que agora residem mais idosos, o número de pessoas ficando pelos bancos a tomar chimarrão é significativo. E ele, quando irá poder ficar assim parado, vendo a vida passar. Bobagem a sua, já tem feito isso. O que é ser porteiro? O que fez para mudar o mundo? Os moradores nem percebem quando ele está mais triste, ou mais alegre.  Também sempre cuidou para não mudar seu comportamento, solicito, gentil, aplicado, escrupuloso e prestativo. Tem aqueles mal-educados, e ele ali firme, correto.
            Naquela segunda feira, um tal fala-fala, onde estaria o porteiro? Não telefonou avisando que não viria, na terça e na quarta a mesma coisa. O sindico achou melhor pedir ao zelador para ir visitá-lo e saber o que estava acontecendo. No apartamento, um cheiro estranho, escuta-se o canário cantando intensamente. Toca a campainha e nada. Pergunta aos vizinhos e ninguém sabe dele. Não tem familiares na cidade. Liga para o irmão, único telefone que registrado em sua ficha funcional. Nada sabe, autoriza ligar para os bombeiros e abrirem a porta. Lá está ele, corpo inerte, azulado, com o uniforme, pendurado em uma corda.

sábado, 15 de setembro de 2018




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 Southernmost - Rumo ao Sul , de Silas House, tradução de Elvira Serapicos, 2018
Comentário crítico: Um livro gostoso de ler, com um tema intrigante. Após uma enchente que destroe a cidade onde reside o pastor Asher Sharp, onde ele tenta apoiar um casal homosexxual, e de deixa levar pelos preconceitos de sua esposa, sua vida toma um rumo totalmente diferente. O ocorrido, faz com que ele reveja sua infancia e adolescencia, quando sua mãe expulsa o irmão homossexual de casa. O irmão mais velho, que eram muito amigos. Ele , já no passado, não conseguiu fazer frente a atitude arbitrária da mãe.
Uma edição bem feita, de forma a facilitar a leitura.
Um casal que uniu-se por terem a mesma fé. Ele foi lendo e crescendo, verificando que o que pregava não tinha nada haver com a espiritualidade. Que sua leitura da Biblia era equivoda. Sua esposa,não parou no tempo, uma pessoa com conceitos rigidos.
Eles tem um filho de nove anos, menino sensivel, o que incomoda a mãe.
Li em menos de cinco dias.
Ele diante do impedimento de conviver com o filho, numa decisão judicial, foge com o menino em busca de seu irmão.
Encontra o irmão, agora padre. Mora por tres meses em Key West, trabalha e conhece pessoas amorosas. O lugar onde vivem esse período é paradisiaco. 
Ao encontrar o irmão , se dá conta que tem que voltar, que não pode manter-se com o filho fugindo sempre.
O livro termina ele ainda preso.
Eu que trabalhei sempre com os conflitos humanos que produziram crime, o que continua a me chocar, e uso da pena de prisão para resolver conflitos familiares, que necessitam de falas, de circulos restaurativos. Que finalidade tem a prisão ai?
Na visão do menino, a mãe, inicia algumas modificações, e promete que irá defender o pai, para que ele saia mais rápido da prisão.
O tio, não conseguiu perdoar o irmão que não foi em sua busca quando fugiu de casa.

sábado, 1 de setembro de 2018


O reverso do amor materno
                                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes

                A manhã já corria solta, e ela ali, encolhida naquela cama dura, não queria abrir os olhos. Sim, estava presa, não podia acreditar, mas ali estava entre seis estranhas mulheres que não paravam de falar. O som a irritava mais ainda. Na suas lembranças as palavras amargas da mãe ainda ecoavam: - “vadia, preguiçosa, você não vai ser nada. Sai daqui, vai embora. “- “tu não serve para nada”
                A que ponto chegou sua relação com a mãe. Chora baixinho, e logo uma pessoa diz: - não, chora não. Aqui a gente não chora. Ela não conseguia parar. Em seus pensamento, a cena voltava e voltava. Tinha saído com o amigo do cursinho, e fora dançar, como qualquer adolescente de sua idade.  De que adiantava ter dezenove anos senão podia se divertir.  Quando chegou em casa a mãe que não tinha tomado a medicação, passou a agredi-la verbalmente. O repertório dela era sempre o mesmo, sempre desqualificando e colocando a para baixo.  E gritando bem alto: - não te falei que não era para sair, não te quero mais na minha casa, tu faz o que tu queres, anda com esses caras e agora aqui na minha casa. Pode pegar as tuas coisas e ir embora. Ela assustada, não tinha para onde ir. Tentou explicar para mãe como estava se sentindo, que não tinha feito nada demais, só dançara, que esse amigo estudava com ela. Tentou falar sobre seus projetos, de como vinha estudando para o vestibular, mas a mãe não a escutava, gritava mais ainda.
                Tinha bebido um pouco, o cotidiano não era fácil, queria fazer teatro, a mãe não deixava, queria fazer bale, não tinha recursos, queria namorar, não podia. Nem meditar estava mais conseguindo. Desde os seis anos quando os pais separaram sua vida virou esse inverno. O pai morava numa cidade próxima, mas pouco as visitava. Quando estava em casa a vida era bem mais leve.
                O pai era um homem triste, mas carinhoso, atencioso. Trabalhava, não ganhava muito. A mãe tinha o salário maior, até que sofreu um acidente de carro e teve que aposentar-se por invalidez. Desse dia em diante a vida deles nunca mais foi a mesma. A mãe que por muito tempo precisou usar cadeiras de rodas e necessitava de ajuda permanente, brigava com todos, não conseguiam fixar uma cuidadora. Além das sequelas físicas restaram as emocionais. A avó materna, que era sua aliada faleceu.  Os recursos econômicos foram se extinguindo e restou para ela e a irmã os cuidados com a mãe. A irmã ingressou na faculdade, e foi trabalhar, e ela que não conseguia trabalho ficou ali subjugada pela mãe e suas loucuras. O que está acontecendo comigo que nem trabalho consigo? A pergunta ecoava em seus pensamentos sem resposta, estava emaranhada com a mãe e a irmã.
                Desenhava muito bem, interpretava otimamente, adorava fazer ioga. Não conseguia ser como a mãe e a irmã, aprender as tarefas administrativas, as ciências exatas eram muito chatas, e complicadas. Seus sonhos eram muito diferentes, queria ser atriz, queria dançar. Isso incomodava a mãe.
                Quando a gritaria acalmou, passaram se os minutos e a mãe, parecendo mais tranquila, a chamou para ver um filme. Deixou-se cair nos braços da mãe e acomodou-se ao seu lado. A mãe sentiu o cheiro da bebida e reiniciou a briga. A mãe lhe bateu no rosto, puxou-lhe os cabelos, como se fosse um menininha. Já era uma mulher, moça, jovem, porém mulher. Ali foi a gota d’água, ela pegou a mãe pelo pescoço, e apertou forte. Deve muita vontade de estrangulá-la. Parou e saiu correndo para seu quarto. Chorou muito. A mãe levantou-se e chamou os vizinhos, que chamaram a polícia. A irmã contou que ela vinha se drogando, mentira. Bebida sim, mas droga não. Elas não a viam como era. Sempre a viam como um monstro, não a respeitavam na sua singularidade. Ela odiava a irmã. E agora odiava a mãe também.
                 Quando nasceu precisou ficar uns dias a mais que mãe no hospital, teve icterícia. Quando veio para casa a irmã que era mais velha que ela dois anos, não a aceitou muito bem. O pai era com quem melhor se entendia. Sempre foi uma menina magra, de poucas palavras, mas muito sensível. Adorava dançar, e a avó pagou para que fizesse bale. Na escola, as disciplinas sempre gostava mais de português, de literatura e de filosofia. Adorava ler, escrever, cantar e dançar, o que a mãe sempre a criticava. Onde tudo isso iria levá-la, sua mãe uma mulher pragmática. A irmã foi estudar economia.
                Quando amanheceu uma companheira de cela pediu para a guarda tirá-la da cela, e foi conduzida ao serviço de psicologia da prisão.
                Não conseguia falar, só chorar e tremer, num misto de frio e medo. Não queria retornar para a cela, tinha medo que as outras a matassem, que lhe fizessem mal. Queria ficar quieta e só, e poder pensar sobre o que tinha se passado. Sentia-se muito mal, parecia que ia morrer, tamanha era a dor de cabeça. Falava que se tivesse que ficar ali, era melhor que morresse. Que ia matar-se, que a vida não tinha mais sentido. Estava com raiva da mãe por tê-la colocado naquele lugar. Não precisa ter feito queixa. Tinha que estudar para o vestibular, não podia perder as aulas, o cursinho já estava pago.  A tia tinha feito isso por ela, e agora como seria. Teria que ficar ali presa quanto tempo?  Precisou ser levada ao atendimento de emergência para ser medicada.
                Como sua liberdade provisória demorou para vir, foi sendo atendida pela psicóloga, e foi refletindo sobre sua vida com a mãe. Pensou que quando saísse da prisão não ia mais morar em casa, ia trabalhar e parar de estudar.
                Sua irmã imaginava que ela queria roubar a mãe, que seus amigos eram usuários de drogas, que ela poderia tentar fazer algo contra sua mãe. Ela era vista com uma estranha para a família.
                Tinha já feito tentativas de alçar voo, sem sucesso. Saiu de casa aos 16 anos e foi morar na praia e trabalhar. A saudade de casa, da mãe e da irmã não a deixaram ficar.  A segunda vez, não fazia muito, estava em casa de volta há mais ou menos seis meses. Porque não conseguia ficar longe dessas pessoas que não a amavam. Os momentos que a mãe e a irmã eram carinhosas eram mínimos, a maior parte do tempo ocorriam os maus tratos, o que se passava com ela. Pensou que devia ser o medo do mundo, dos estranhos. Agora isso ia ser diferente.
                Começou a pintar e a ler, isso a ajudava passar as horas naquele lugar. Aproveitou para ler, ler tudo que lhe caia nas mãos, chegou a trabalhar uns dias na biblioteca da casa prisional. Como não chegava sua liberdade, raspou seus cabelos, fez uma promessa para sair daqui. Era devota de Santa Teresinha. Antes de receber a graça, já pagou a promessa.
                Quando sua liberdade saísse, ela já tinha uma proposta para si mesma de nova vida. Morar na cidade do pai, e trabalhar. O vestibular, o estudo, ficaria para segundo plano. A mãe, essa, ela agora não mais queria ver. Estava morta para ela.


terça-feira, 29 de maio de 2018

RISCO E RABISCO:                                 AS ARANHAS ESUAS...

RISCO E RABISCO:

                                AS ARANHAS ESUAS...
:                                 AS ARANHAS E SUAS TEIAS   MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES Você já parou para apreciar a teia de ara...



                                AS ARANHAS E SUAS TEIAS 
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
Você já parou para apreciar a teia de aranha? Não, então o faça. Elas tem uma precisão geométrica. Nem todas as aranhas fazem teias e nem todas a constroem igualmente. Umas a fazem compacta, outras em forma de rede e ai vai a criatividade desses aracnídeos. Pela manhã, ainda com orvalho elas ficam mais visíveis. Outras vamos caminhando e nos vemos dentro literalmente da teia, ai necessário cuidar para não levar uma picada. Afastar a aranha, pedir desculpas por desmanchar seu trabalho tão minucioso e belo.
Os cientistas estudam as propriedades da teia na tentativa de reproduzi-la, para usa-la nas cirurgias e em outras tecnologias. A textura, a espessura, a flexibilidade e a invisibilidade seriam ideal para as costuras da pele humana, porém ainda não a conseguiram reproduzir. As aranhas produzem em seu abdome um liquido, semelhante uma cera que logo que sai se solidifica. 
Nem todas fazem suas teias para capturar seu alimento, insetos, moscas, pequenos animais. As que fazem, constroem um cabo que facilita sua circulação sem serem vistas pelas presas. São verdadeiras alpinistas.
Passei da fase de teme-las para admira-las. Tenho me perguntado qual a missão das aranhas na natureza?  Elas caminham silenciosas, são multicoloridas, de tamanhos diversos, umas mais ofensivas a vida humana que outras. Mantem o número de pragas reduzidos. São mágicas.
Nos meus sonhos elas eram terrorrificas. Gigantes, capazes de digerir um humano por inteiro. Penso que na minha infância assisti filmes de terror em demasia.  Agora os diretores destes filmes também imaginaram a possibilidade de um erro genético e as aranhas crescerem mais que nós, e poderem nos capturar em suas teias. As teias de aranhas povoavam as casas das bruxa e os castelos mal assombrados.
Eu quando com medo das aranhas sou capaz de mata-las sem do nem piedade.  Piso em cima, aspiro ou queimo. Mato as vezes com requinte de crueldade.  Quanto maior o medo maior a crueldade.
Esses sonhos deveriam ter-me feito repensar minha ação. Deixar de ser cruel com os pequenos animais. 
Que sentido tem eu, uma gigante, diante desse pequeno espécime, destruí-lo; medo, medo maior que a minha estatura. A medida que enfrento meu medo, que o gerencio, vou podendo conviver com os aracnídeos em geral.  Tenho buscado ler sobre elas, agora que a internet me permite conhece-las em seu habitat, olhar e pesquisar sem risco algum. Esse processo me alivia e me amadurece.
Posso agora caminhar pela floresta, parar observar, fotografar, as vezes filmar uma aranha em ação, ou fazendo sua teia, ou comendo algum inseto. Não interfiro, olho penso, depois vou comparar. Comparar com a minha vida, com a vida de outros seres, contemplo.
Descobri que no Brasil existem apenas três espécies de aranhas letais, a viúva negra, a armadeira e a aranha marrom. As que produzem teias normalmente não são peçonhentas.
Saindo do lugar do reagente agressor, hoje posso conviver com as aranhas e aprecia-las. Gostaria de juntar-me a esses estudiosos na busca de reproduzir a teia.  Já que não posso teço, teço o algodão e outros fios. E estou muito distante da precisão aracnídea.

quarta-feira, 14 de março de 2018

RISCO E RABISCO: OS RATOSMagaly Andriotti FernandesDomingo fuiass...

RISCO E RABISCO:
OS RATOSMagaly Andriotti Fernandes
Domingo fuiass...
: OS RATOS Magaly Andriotti Fernandes Domingo fui assistir um filme no museu próximo a minha casa. Nesse mês o museu está promovendo...

OS RATOS
Magaly Andriotti Fernandes

Domingo fui assistir um filme no museu próximo a minha casa. Nesse mês o museu está promovendo cinema e debate. Fica à beira do rio. Foi construído para que de suas janelas nos mostrem a cidade com uma obra de arte. Ali fiquei, segura, por bons momentos. Amo minha cidade.  Amo e tenho medo. Dentro dos lugares não chego a ter medo. Quando penso nisso me vem a lembrança do homem que entrou no cinema e saiu atirando. Credo! Nem a imagem linda de um dia de sol à beira do Guaíba me faz esquecer as macelas da sociedade.
O filme, de David Lynch, Mulholland Drive, fala de uma personagem que manda matar sua amada por ódio, por disputa, e sente remorso, sente medo e sonha, melhor tem pesadelos horríveis. O filme não deixa claro quando é sonho ou quando é realidade. A pessoa que inicia o debate nos faz centrarmos na realidade. Lembro que tem jogo no estádio próximo. Um jogo importante. O motorista do taxi que me trouxe avisou que vai haver um arrastão. Entro em emergência, saio, não termino de escutar o debate que estou gostando. Na rua final de tarde um pôr do sol magnifico. Penso em ficar por ali, sentar e sentir. Não posso, agora sou um rato, assustado. Na minha cidade tem gente que mata, que degola, por nada, por poucos trocados.
Respiro fundo para ver se o medo foge, que nada sou um rato, olho para todos os lados, ligo para um amigo que me avisa que o jogo está quase terminando. Corro, chamo o carro que vai me levar para a minha torre. Lá no nono andar onde moro me sinto segura. Lá penduro minha roupa de rato na porta, ao lado de fora.
Caso ligue o rádio pela manhã, a primeira notícia é de morte, assalto e furto. Senão ligo e desço para caminhar, tem um grupo de vizinhas que fica sentada tomando chimarrão, que são as verdadeiras caturritas do apocalipse. – Cuidado, caminha aqui dentro, não vai para a rua. Disparam várias histórias de pessoas que foram assaltadas nas proximidades. O rato ainda dorme. Caminho assim mesmo, oro para o meu anjo da guarda e sigo. Ele, o rato, já acordando, olho para todos os lados, ao menor barulho pulo, salto, meu coração dispara. Isso lá é vida. Morar na capital do Estado me transformou num rato. Um rato assustado e apavorado.

domingo, 11 de março de 2018

RISCO E RABISCO:                                            Abacate...

RISCO E RABISCO:                                            Abacate...:                                             Abacateiro Magaly Andriotti Fernandes Na casa onde tinha meu consultório, existia um gran...


                                           Abacateiro
Magaly Andriotti Fernandes
Na casa, onde tinha meu consultório, existia um grande abacateiro.  Lembro que quando retornava das férias em março, o chão ficava cheio de abacates maduros. E os sabias faziam aquela festa. Comiam todinhos deixando apenas as cascas limpinhas, bonito de ver.
Abacateiro, onde está seu abacate diz a música do Gilberto Gil, Refazenda, que eu adoro. E pasmem, não é muito simples no pomar termos essas frutas: apesar de serem hermafroditas –flores masculinas e femininas na mesma inflorescência – as variedades de abacate apresentam comportamento distintos quanto ao período do dia no qual ocorre abertura das flores. Algumas cultivares abrem as flores femininas pela manhã e as masculinas a tarde, enquanto outras apresentam comportamento inverso. Assim no pomar, se almejamos frutas, é preciso que plantemos os dois tipos de planta para garantir a fecundação das flores. E a música continua... “abacateiro saiba que na refazenda tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar”.
Ali onde trabalhava existia apenas um pé, mas nas vizinhanças possivelmente devia existir outro tipo de abacateiro. Os abacates eram grandes e suculentos. Quando os sábias deixavam alguns para nos. Alias para isso colhíamos antes de caírem ao chão, antes mesmo de amadurecerem, e esperávamos o resto do processo de maturescência para saboreá-los.  A magia da polinização. As flores necessitam estarem abertas no mesmo período do dia para que surja o fruto.  Fiquei surpresa e admirada com essa descoberta, a natureza é sabia. E passei a gostar mais ainda dos abacates.
Uma fruta tão rica em vitaminas, de um verde tão encantador. Eu não tinha observado que o abacateiro dava flores. E que tinham flores que abrem pela manhã, outras a tarde. E que existem flores femininas e outras masculinas. Vivemos e não nos inteiramos da riqueza do amor que está na nossa proximidade. Bem ali, no pátio, do lugar onde eu, procurava ajudar as pessoas a se encontrarem. Quem sabe em quantas casas as flores estão assim desencontradas. A resposta está ali e não a vemos. Todos os anos o mesmo fenômeno, o abacateiro floresce, suas flores são polinizadas, nós comemos suas frutas.


sexta-feira, 9 de março de 2018

RISCO E RABISCO: Perfumedas cidadesMagaly AndriottiFernandesTenho ...

RISCO E RABISCO:
Perfumedas cidadesMagaly AndriottiFernandesTenho ...
: Perfume das cidades Magaly Andriotti Fernandes Tenho caminhado todo dia pela manhã. Passo por uma rua em que as flores da dama da no...

Perfume das cidades
Magaly Andriotti Fernandes
Tenho caminhado todo dia pela manhã. Passo por uma rua em que as flores da dama da noite estão muito perfumadas. Elas são miúdas brancas e muito aromáticas. Respiro fundo e fico um tempo parada. Viajo no tempo e no espaço, me vejo em Roma, lá também, quando conheci, era primavera e os jasmins poetas estavam florindo. Aquele perfume lembrava minha avó materna e minha infância, me sentia no seu colo e acariciada.
Fiquei pensando, minha cidade é tão atrativa quanto Roma. Você deve pensar – ela está doida. Não estou não, os perfumes nos trazem muitas memorias. Roma é singular, assim como Porto Alegre. Ambas tem histórias distintas. Roma muito mais antiga, respira arte e cultura. Tem pessoas de todo o mundo circulando pelas ruas. Porto Alegre, já por muito tempo teve andando por suas ruas turistas de todo o mundo. Agora vive um triste momento, de atiramento, de esquecimento, e de desorganização. Porém seus perfumes, nos fazem lembrar os melhores momentos que aqui vivemos. E ainda por suas ruas existem muitas flores, e muitos jardineiros dedicados.  No meu bairro existem pitangueiras, goiabas que agora nos pés espalham seu perfume por todo o caminho.
Conheci uma cidade chamada Spello, que fica na Itália, próximo a Assis, que tem um concurso anual de quem melhor decorar suas sacadas com flores. Independente da época que se visita, essa cidade medieval é toda florida. Flores de muitas espécies, de cores e perfumes intensos. É como estar no Paraíso; andar por suas ruas. E pasmem, eles fazem gelatos de flores e frutas. Eu me deliciei com o sorvete de rosas. Momento ímpar, minha alma foi ao nirvana. Ao chegar ao topo de Spello o perfume dos limoeiros, dos limões Sicilianos e surpreendente. As vezes que ali estive, descer e retornar o passeio foi algo muito difícil. A vista associada ao aroma, nos faz transcender, sentirmos com se estivemos nas nuvens.
Outra vez na Bahia, o cheiro do caju nos pés, inesquecível. No Rio de Janeiro as jacas maduras nos pés, cheiro enjoativo, mas próprio da Estrada Velha da Tijuca. Fico sempre imaginando uma jaca caindo, elas são imensas. Ainda bem que naquelas vias poucos caminham. Em Campo Grande, com minha tia e primas apreciamos o perfume dos tamarindos. O aroma do mar, caminhando por Campeche –SC.
Onde nasci e me criei, as paineiras, as pereiras, os ora-pro-nobis, as flores das laranjeiras faziam a festa.
Penso será que todos sentem esses perfumes? Eu sou puro olfato. E onde tem flores, tem borboletas, abelhas e pássaros.  Amo Roma e amo Porto Alegre com seus perfumes característicos.
Porto Alegre, 09 março 2018.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

                                             PIANO E O VIOLÃO


Hoje assisti a um espetáculo musical no Multipalco que chama Évora; um violonista e um pianista.  Para mim dois desconhecidos, mas só a possibilidade de no meio do dia, parar e ficar escutando piano e violão, me fez ir até lá.
Na outra semana já o pianista tinha me feito pensar em como é possível, tocar, cantar e movimentar-se ao mesmo tempo. E fazer tudo isso de uma forma harmônica.
No espetáculo de hoje o violonista, falava com o rosto. A música o possuía de tal forma, que seu rosto ia se transformando. Numa das músicas pensei que ele chorava. As pessoas que me acompanharam não observaram isso.
Fiquei me perguntando como a música se faz? Como harmonizar piano e violão numa única canção. E os dois ali se olhavam e tocavam numa sincronicidade legitima.
A músicas assim como os músicos eram por mim desconhecidas. O compositor sim, Tom Jobim.  Melodias que me fizeram pensar em palavras, palavras que não nomeei. Qual seria a letra dessas canções? Elas tem letras? Ou apenas arranjos? Não entendo nada de música.  Nos últimos anos tenho me aproximado mais desse mundo. Ouvindo, tentando cantar, indo a espetáculos músicas, e ficando por horas em casa escutando cantores diversos.
Observo que quando me deixo levar pela música, meu corpo vai junto e danço. Não tenho muito ritmo, mas me entrego e vou. Na minha cabeça estou no ritmo da música. Talvez quem em olhe não concorde. Agora eu penso que a música produz efeitos em mim que são singulares. Quero aprender a dançar.

E voltando aos músicos e suas expressões musicais e corporais. O do piano precisava olhar as partituras, o do violão tinha as músicas na cabeça. E entre os dois um verdadeiro dialogo.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018


                                        A descoberta do vidro


Sempre fui apaixonada por vidro. Sempre achei algo mágico. E o que,me surpreendi ao  conhecer uma vidraria foi  o processo de como é feito. Nunca  me interrogara, como ele surgiu na humanidade. Parecia que o vidro sempre tinha estado ali, simples assim. 
A pessoa, que nos recebeu ,foi nos contando as diversas teorias, e a que ela, depois que iniciou o trabalho ali, achava mais plausível.
Os primeiros vidros observados foram os produzidos pelos raios na areia da praia. E ao observa-los os povos antigos iniciaram o processo de tentar reproduzir esse feito da natureza.
Ele era muito raro e ganhou proporções de sagrado, até chegar aos nossos dias, em nossas janelas em formado plano, nas garrafas, lustres, e tantas outras utilidades.
Ficar lá observando aquele forno em alta temperatura, os vidreiros numa ação cadenciada, retirando a massa que será moldada, e o produto final, lustres em forma de flor. O vidro sai encandecende na cor vermelha e se molda. Pura magia.
E os vidreiros vão criando anjos, flores, animais, lustres. E ainda outra descoberta, o vidro pode ser soprado, para  resultar em garrafas, vasos e taças.
Na Itália  não consegui visitar Murano, ilha onde a história do vidro ainda hoje é significativa. Existem lá museus dedicados a arte de transformação do vidro em peças de utilização domesticas ou decoração. Aqui bem próximo a Porto Alegre, na cidade de Garibaldi a Vidraria Madelustre, comprou fornos daquele pais e reproduz esse conhecimento.
Imaginem que só no seculo VI  o vidro plano tornou-se realidade.Por muitos séculos a industria do vidro era sinonimo de segredos.
Visitar a Madelustre, para mim ,foi resgatara pesquisadora que estava dormindo no meu interior. Viva o vidro!


sábado, 6 de janeiro de 2018

                          COMENTÁRIO DO FILME MOTHER

            Recebi duas recomendações para assistir ao filme Mother do diretor Darren Aronofsky, e como tinha amado Cisne Negro que ele também dirigiu procurei assistir.
            Um filme tenso e intenso. Um casal, um poeta tentando achar inspiração para seus escritos e uma esposa que tenta restaurar a casa do amado que havia queimado. Recebem ao acaso a visita de dois fãs, e a partir de ai, uma série de situações inesperadas. Um homicídio, na briga entre irmãos pela herança do pai ainda vivo. (Caim e Abel?)
            A esposa sentindo-se invadida, a relação mulher e casa, um unidade, ela sente a casa, a casa a sente. Ele isolado em seu mundo da escrita. Fim do filme me pergunto, o que teria feito o Diretor produzir esse filme e encontrei essa fala:
— Só queria fazer as pessoas se assustarem novamente. E trabalhar com algo que nos tira a todos do sério: a possibilidade de nossa casa ser invadida. E como as pessoas tratam nossa intimidade, nosso planeta, e as consequências disso para todos nós. E, em cinco dias, fui do Paraíso ao Apocalipse com o mito da mãe terra na cabeça — diz Aronofsky
            O filme culmina com cenas de canibalismo do recém-nascido, da queima da casa, e do renascimento. Um filme que por momentos me produziu sono, pela falta de luz, se passa quase que inteiramente na escuridão e no luz que fusque. E em outros momentos tensão. Ao terminar o filme meus músculos todos contraídos.
            Pensei uma nova vida, uma gestação pode produzir muitos efeitos, tanto na mãe, quanto no bebe, quanto no pai, quanto na sociedade. Essa relação mulher-casa, mulher-casa-gestação. Ela ali naquela casa isolada, tentando agradar seu amado, sentindo solitária, isolada tanto quanto a casa, duas em uma. Não mais duas agora três, um terceiro e seus efeitos.
            O som da agua no filme não é algo relaxante, mas algo que faz preocupar-se, quem mais estaria ali? Vida e morte, criatividade truncada.
Que poesia é essa? Que não sai, que produz público?
            O fogo, como elemento de destruição e renovação. A casa se refazendo, tudo volta ao início.
            Concluindo, achei um filme chato, longo demais, assisti até o fim, pois tenho por habito não desistir, e me deixar surpreender. O canibalismo do recém-nascido me fez pensar no que hoje se tem feito com nossas crianças. No genocídio que existe no Brasil. E em quantas crianças se vê morrer mundo afora no cotidiano da mídia. Me fez pensar nessa vida de um casal e na representação do filho como um intruso. Nesse casal que o homem não conseguia produzir, uma mulher que vive para ele, e um terceiro que não é pensado por si só, mas como solução para algo não resolvido.
            Diz que o Diretor pensou em algo bíblico, seria o final do filme o apocalipse???
         



quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

RISCO E RABISCO:                                           Joaninha...

RISCO E RABISCO:                                           Joaninha...:                                           Joaninhas no jardim                                                                           ...

                                          Joaninhas no jardim

                                                                                                                                                Magaly Andriotti Fernandes


   Minha primeira infância passei próximo a  mata povoada por  grande diversidade de animais, insetos e plantas. Sempre fui observadora da natureza. E dentre os insetos, as joaninhas eram as minhas preferidas: vermelhas, petipoa, amarelas, pretas com bolinhas coloridas.

Ali pelos seis, sete ano procurava por elas e as observava. No ano seguinte já iniciei a captura-las e prende-las nas caixinhas e fósforos para saber como funcionavam. Tirava as asas internas para ver se mesmo assim voariam. Não voavam, e eu ficava triste, pois agora não tinham mais asas. Esperava para ver se nasciam. Não nasciam, e a maioria ou sumia ou morria. Penso que o cheiro da caixa de fosforo as matava.
Passado esse período só as contemplava, e o máximo deixava que pousassem em mim e esperava fazerem um percurso pelas minhas mãos e braços, ou as vezes nas roupa. Elas gostavam de roupas coloridas.
Descobri que as joaninhas hibernam no inverno, que elas são 5000 espécies, que existem por todo o mundo, em diversas cores. E o que mais me chamou atenção é que elas comem outros insetos. Pensei que comiam folhas. Comem pulgões, moscas pequenas de frutas, insetos menores que ela. Quando procriam, podem colocar até mil ovos.
Olhar para aquelas pequenas joaninhas, aquela intensidade de vermelho a se movimentarem, me fazia pensar em magia. O mundo é mesmo mundo magico. Até hoje a presença de uma delas me faz viajar no tempo.
Sempre que uma aparece e pousa sobre mim, penso que é sorte. E não precisa nada mais me ocorrer, só de ser por momentos pouso, espaço para que elas repousem, caminhem até seu novo destino fico grata.
Minhas netas e neto também gostam muito desse inseto. Eles ficaram horrorizados quando contei minha experiência de tirar as asas. Quando nasci não existia o google para pesquisa. A vida era concreta.
E os sapos que se alimentam de joaninhas, também estavam na minha lista de curiosidades. As libélulas, que pensei que alimentavam-se de pólen, comem as joaninhas. Elas são um prato cheio para outros animais maiores. A cor intensa, li sobre isso, serve para afugentar seus predadores.
Penso que esse convívio intenso com a natureza, nunca me fez ter vontade de ser vegetariana, sempre me senti uma carnívora, e me vejo na cadeia alimentar dessa forma.
A surpresa existiu, quando descobri os hábitos de vida desse belo inseto joaninha, não a imaginava comendo outros insetos, ela come. Eu a acho perfeita, linda, uma verdadeira obra de arte.
Porto Alegre, 4 janeiro 2018.


Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

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