domingo, 29 de maio de 2016

O menino e o esquilo



                Nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, tinha agora sete anos, e  minha  avó convidou-me para visitar uma amiga que lá mora. Logo me imaginei no avião, ia então poder andar  novamente, aquilo tudo era uma maravilha.  Última semana de aula não conseguia nem dormir direito já se vendo no bondinho do Pão de açúcar.
                Sempre viajava com a família toda, o pai, o tio, a prima, as tias, nessa vez ira só ele a avo. Ficava imaginando que programas iriamos fazer. Sabe que na hora de dormir a avo ira ler para ele como sempre faz. Escolhem juntos os livros antes de viajar. Esse ano escolhemos um sobre as lendas do sul.
                Chegando ao Rio a amiga da avo, e seu esposo os esperavam no aeroporto. Quando o avião aterrissou dia ensolarado, uma visão linda do Cristo, e da baia da Guanabara. O coração aos pulos, mãos suando frio. Saudades da mãe e do pai.  Serão poucos dias, só sete, vamos as descobertas.
                A Estrada Velha da Tijuca, onde nos hospedamos, é toda arborizada, os pés de jaca, com aquelas estranhas frutas penduradas. Um cheiro estranho delas exalava. Viu um pequeno animalzinho que se esgueirou pelas arvores, não conseguiu precisar que animal era. O amigo dize que era um esquilo, que eles andam ali pela floresta da Tijuca, que irá poder vê-los de perto.  Ah amei ficar ali na janela ao acordar e observar os saguis, que andavam de galho em galho, correndo pelos telhados, os pássaros muitos diferentes, cantos diversos. Os esquilos não reapareceram ali.

                Saímos cedo para aproveitar o dia, o Cristo Redentor, o Bondinho de Santa Tereza, os Museus, as praias, o metro, o Pão de Açúcar, passeios de barco. Dias de muita felicidade e descobertas. Um dia estávamos sentados na praça da Republica, olhando as cotias que comiam frutas, e um pequeno esquilo chegou bem próximo a mim. Eu por sorte tinha amendoim e alcancei para ele, que com sua mãozinha pegou rapidamente. E ele assim ficou fazendo várias idas e vindas. Até que meus amendoins terminaram. Ele tão pequenino, com olhinhos tão vivazes, ágil e serelepe. Eu queria morar então no Rio de Janeiro. O metro andei e fiquei em êxtase, rapidamente estávamos em nosso destino. Mas aquela demonstração da natureza, mexeu comigo. Na Urca, os saguis, que já os via da janela da casa de nossa amiga, tinha os alimentado. Saguis existem também na minha cidade, no zoológico, não assim na natureza. Agora esquilo, ali solto na praça, que não tinha medo de mim, eu um pouco de receio, nos aproximamos, e ficamos ali naquela brincadeira de ir e vir. Esquilos foram os primeiros que vi, fora dos filmes, do micro.  Eu arrependido, de não ter mais amendoins comigo.  Tinham outros esquilos na arvore, mas apenas este vinha em busca do alimento. Caso fosse pipoca que eu tivesse não daria a ele. Pipocas são gordurosas, e fazem mal a esses pequenos animais. Mas amendoim faz parte de sua gastronomia. Tem pessoas que tão qualquer alimento para eles. Eles estão ali livres na praça. Os humanos que os cuidam deviam ser mais responsáveis. Eu nem como amendoim, coisas de minha avo, que já tinha estado ali naquela praça em sua lua de mel, e já tinha visto os esquilos, que ela também ama.
                Fiquei pensando o que será que ele viu em mim, que veio. O cheiro do amendoim talvez? E os outros porque também não se aproximaram? Ele muito pequenino, aquele rabinho longo, um olhar de felicidade. Bem no alto da arvore vi tinha um ninho. Seria ele a mamãe esquilo, um pequeno esquilo fazendo suas primeiras inserções pelo mundo, assim como eu? Dois tímidos, num encontro gastronômico e de afetividade ali na Praça da República. A cidade antiga, e movimentada ao redor, o ruído dos carros, e ali aquela paz, aquela sombra, e aquela interação com a natureza. Ficamos bom tempo ali, observando as cotias, que também são atrativas, e em grande número. Elas mais arredias, não se aproximam, andam em bando.


                Sonhei com o esquilo, ele me dizia que tinha saudades de quando tudo ali era floresta. Seu avô lhe contara, ele mesmo não tinha conhecido a floresta. Vivia ali naquela arvore, muito raramente conseguia ir até uma outra próxima. Tinha muito medo dos humanos. Alguns esquilos já morreram esmagados na mão de meninos que não se dão conta que eles são seres vivos. No sonho ele tremia muito de medo, assustado. Quando me viu, pediu que eu o segura-se na mão, o que fiz. Eu com pouco de medo, mas ensaio e abro a mão onde ele se aconchega. Ele fica calmo e consegue falar. Acordo assim com essa sensação de bem estar e com muitas saudades do Rio de Janeiro e de sua natureza. Pensei em ir até lá e busca-lo para que morasse na Floresta da Tijuca.




quinta-feira, 26 de maio de 2016


Café com Stella


         

Em 2015, novembro, frequentando o curso de italiano em San Severino Marche,



fizemos uma turma muito animada de pessoas de diversas nacionalidades. Durante as aulas combinamos tomar um café com Stella em Buenos Aires, no famoso Café Tortoni.

No início desse anos iniciamos as tratativas, as programações, e conseguimos estar entre treze pessoas Argentinos e Brasileiros para celebrar nosso reencontro e aproveitar para falar em italiano no mês de maio na Argentina.



 O Café Tortoni fica na av. de maio 825, porém pouco se sabe sobre suas origens. O que se sabe é que um imigrante francês, cujo sobrenome era Touan decidiu inaugurá-lo no fim de 1858 e que o nome do café ele pegou emprestado de um estabelecimento no “Boulevard des Italiens”, no qual se reunia a elite da cultura parisiense do século 19.

No fim do século, o bar foi comprado por outro francês: Dom Celestino Curutchet. Descrito pelo poeta Allende Iragorri como “o típico velhinho sábio francês”, de corpo miúdo e espírito forte, exibia um clássico cavanhaque longo, olhos vivíssimos e usava um solidéu árabe de seda preta, quase um personagem dos quadrinhos, que dava um toque peculiar ao local.


O local era frequentado por grupos de pintores, escritores, jornalistas e músicos que formavam a “Agrupación de Gente de Artes y Letras”, liderada por Benito Quinquela Martin. Em maio de 1926, eles formaram “La Peña” e pediram a Dom Celestino Curutchet que os deixasse usar a adega do subsolo. O dono aceitou encantado porque, segundo suas palavras, “os artistas gastam pouco, mas dão brilho e fama ao café”.

Neste café o tempo parece ter parado como em uma fotografia na qual as pessoas jogam bilhar, cartas, ou simplesmente tomam café com amigos. Este lugar é, cada vez mais, uma parte indispensável da história portenha.


No café Tortoni Jorge Luís Borges, Afonsina Storni, e Carlos Gardel tem uma mesa permanente reservada, marcando sua presença.


Na sexta feira, assistimos a um belíssimo show de tango, mas Stella não pode estar conosco, e nosso café foi adiado. No sábado, com a chegada de outros membros do grupo marcamos encontra-la na não menos histórica Confeitaria Violleta construída em torno de 1920. Com suas janelas com vitrais e portas de vidro curvo, seus vitrais franceses e pisos de mármore italiano. Os vitrais restaurados foram projetados para decorar e iluminar o ambiente agradável de um café daqueles momentos em que as pessoas gastam o tempo de lazer em uma área selecionada.


O edifício foi declarado "Patrimônio Histórico da Cidade" em 1998 pela Legislatura da Cidade de Buenos Aires. Durante vários anos antes da atual restaurar o local foi fechado e semiabandonado. A restauração do edifício, seus componentes e as janelas começaram em janeiro de 2001 e terminou em junho desse ano. Emociona saber que Mercedes Sossa já desfrutou das delicias desse estabelecimento.

E foi um café, com falas em italiano, português e espanhol. Estar entre amigos, retomar relações, bater papos, sorrir solto e descontraído. Um grupo muito heterogêneo, mas que consegue desfrutar da companhia um do outro, interagir e desfrutar das belezas de uma cultura tão especial como a da capital da Argentina.


(http://www.lasvioletas.com/lahoradelte.html)





Nosso propósito, nos encontrar para exercitar o italiano, o que ocorre que fala-se um “portoitaloespanhol”. Com dentre nos há uma jornalista, fazemos um vídeo para nossa professora na Itália. Fazemos projetos de retorno, de retomar o curso não apenas no nosso pais, mas de onde paramos em San Severino Marche. Dias de aprendizado, de caminhadas, de descobertas, de deslumbramento da arte, da língua e da cultura italiana, que nos marcou de tal forma que não conseguimos ficar sem retornar.


Dias frios de outono e sol, bons para caminhar, e Buenos Aires apetece. Rua Florida, praça de Madres de Mayo, Congresso Nacional, a Igreja de San Martin, a Av. Corrientes, o Teatro Colon, e o inesquecível Jardim Japonês. Porto Madeiro e São Telmo, dia de chuva, chuvisqueiro. Sim, aproveitamos e visitamos o estádio do Boca, e o Caminito. Mas nosso percurso era calmo e tranquilo, quando a chuva acentuava, parávamos para um café, um drink, um papo, ver e-mails, face etc.


Porto Madeiro, como não falar da ponte da Mulher, do cais, dos restaurantes, olhar a cidade desde ali, observar ao sabor do bom café argentino e de um alfajor.


Em São Telmo, a feira com muitos artistas independentes, o banco com a nossa Mafalda, a Suzanita, o prédio onde morou seu autor o Quino.




O Jardim Japonês de Buenos Aires (em espanhol Jardín Japonés de Buenos Aires) foi construído no Parque Três de Fevereiro, situado no bairro de Palermo, em Buenos Aires, no ano de 1967, na ocasião da visita à Argentina do então príncipe-herdeiro do Japão, o atual imperador Akihito.


Embora seja um espaço público, a entrada ao jardim é paga, e tudo que é arrecadado é destinado à manutenção do Complexo Cultural e Ambiental Jardim Japonês, este administrado pela Fundação Cultural Argentino-Japonesa. Além de árvores e plantas, o jardim contém um prédio no qual funcionam um centro de atividades culturais, um restaurante, um viveiro (onde é possível comprar bonsais) e uma tenda de artigos variados.














Todos os elementos do Jardim Japonês buscam a harmonia e o equilíbrio. As pontes constituem símbolos: existe uma muito curva e extremamente difícil de atravessar, chamada Puente de Dios (ou Ponte de Deus), que representa o caminho para o paraíso. Outra ponta se chama Puente Truncado conduz à "ilha dos remédios milagrosos".


Além de antigas árvores autóctones como a Tipuana tipu e a Paineira, encontra-se também uma grande variedade de plantas japonesas, entre elas a famosa Sakura, o Acer Palmatuny e as azaléias; no lago há uma grande quantidade de carpas de variadas cores, as quais podem ser alimentadas mediante comida balanceada adquirida no mesmo centro. No centro se pode ver figuras com um claro estilo samurai, uma masculina e outra feminina.


O Café El Gato Negro, um ambiente aconchegante, ao entrar o perfume dos temperos que ali são vendidos, o aroma do café misturado, os doces. Tarde de muita troca, de histórias de viagens de famílias e de amores.




E o no nosso último dia andando pelas ruas de Palermo em busca do jardim Botânico, chegamos por acaso ao Guidos Bar, um ambiente que nos fez pensar que ainda estávamos na Itália, pela decoração, pelo atendimento, pelos pratos, pelo vinho. Não queríamos mais sair dali. La fora ruas lindas arborizadas, ficamos sabendo que por ser segunda feira nem o Jardim Botânico e nem o zoológico estariam aberto. Nos deixamos ficar ali, jogando conversa fora, saboreando um bom vinho e uma boa música, claro sem falar das companhias.




Nos hospedamos na av. Cerrito, no Hotel Salles, bem no Centro da cidade, estávamos próximo a tudo, e quando necessário ao metro, a taxi.

Como nem tudo e perfeito, a Go| trocou meu voo direto por uma conexão na ilha da Magia, e só me restou ler, ouvir música e tomar um cansaço de aeroporto

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Envelhecer não é sinônimo de maturidade

                Ontem assistindo televisão, bem tarde da noite, vejo uma chamada sobre “vovôs na prisão”, entrevistaram vários homens e mulheres de mais de sessenta e cinco anos, uns já bem próximo aos oitenta anos que encontravam-se presos.  A repórter interrogava-se sobre a contradição existente para ela em ser idoso e cometer crimes.
                Em asilos também encontramos idosos abandonados. E muitas pessoas se interrogam como podem abandonar seus idosos.
                Penso que a velhice na prisão, ou a velhice no asilo, não estou falando em clinicas, em casas de convivência. Estou usando o termo asilo para me referir aquelas pessoas que envelheceram numa dinâmica de abandono. Eles por ora abandonaram, e por fim se viram provando do mesmo remédio, ou veneno dependo da perspectiva que se olhe.
                A repórter entrevistou um uruguaio preso no Brasil por mais de doze vezes, ora por bater carteiras no metro, por vender documentos, por estelionato, uma carreira de delitos. E que seu filho de dezenove anos se encontrava também preso. O pai não o via desde os treze anos. Foi feito um vídeo com o filho enviando mensagem para o pai e vice versa. A mãe já é morta. As pessoas chegam assim na vida do outro, resolvem aproximar, não sabe o que produziu a distância. Será que aproximar e uma boa saída para a vida de ambos? Na prisão muitas famílias continuam visitando seus familiares, outras não. O que será que faz umas continuarem com o vínculo outras não? São questões pertinentes, e antes de enveredarmos para cupidos da vida alheia, devemos ajuda-los a resgatar vínculos que eles desejem, e não os que imaginamos que seriam bons. Esse homem chorou ao ver o filhos, não o reconheceu, quando o viu pela última vez era um menino.
                Entrevistaram em outra prisão um homem que havia abusado de meninas, ele tinha com ele o laudo que não houve penetração, mas o abuso de que era acusado, era de passar a mão, o que não deixa vestígios no corpo, só na alma. O que se passa ai, com a sexualidade do idoso? Esse é um crime que povoa dois por cento das prisões brasileiras. Ele viveu a vida inteira integro, trabalhou, criou seus filhos, já avo, viúvo, e agora isso? O que se passa com o seu projeto de vida? O que busca esse homem de mais de setenta anos, que não consegue lidar com seu desejo sexual? Que atua, que viola, que passa dos limites?
                O outro entrevistado era um homem, que segundo a repórter não manifestava sentimento. Será que num ambiente hostil como uma prisão se deve expressar sentimento?  Ele estava preso pela quarta vez, senão me engano, por tráfico de drogas. Ela perguntou se ele se arrependeu, ele foi sincero, dize que quando sair vai ver o que fazer da vida. Sim, já tem experiência de prisão e de vida, sabe que quando sair, se antes não tinha profissão e trabalho, como agora ira, somado a idade, arrumar algo para fazer que o sustente assim como o tráfico.
                E por fim entrevistou um homem que aos sessenta e nove anos matou um vizinho. Ele se diz inocente, mas a comunidade quase o linchou. Em seu relato se observa que é uma pessoa desconfiada, e segundo a família fazia abuso de crack, agressivo com a filha e esposa.

                Então, o que podemos pensar, que envelhecer por si só não garante a nenhum humano a maturidade. Todos envelhecemos, é condição humana, mas amadurecer requer reconhecimento de seus desejos, responsabilidade para com os mesmos. Que o tempo passa de forma diferente para cada um de nós humanos. Que a vida é um constante recomeço. E que idoso não é sinônimo de integridade e de confiança.

domingo, 22 de maio de 2016

Domingo de chuva

Outono, os dias ficam cinzas. Nas arvores as folhas amarelas ou marrons, umas avermelhadas, caem. Os galhos se mostram firmes e fortes. Alguns poucos dias de sol, frio e céu azul. Esse domingo, eu dormi mais do que a cama. Nove horas acordo assustada com os ruídos da rua. A vida já vai longe e eu ali na maior preguiça. Domingo, penso, tranquilo posso ficar por aqui sem nada fazer. Pego meu tablete e vou ver o que tem de novo no face book. Busco um livro na biblioteca virtual e leio um pouco. Lembro, hoje e dia de feira e saio da cama. Um sair lento como uma tartaruga ou feito uma gata. Vou me arrastando até o banheiro para um banho bem quentinho e ver se energia me possui. Tomo café, me visto e vou a feira.
A feira é sempre muito animada, encontro com os vizinhos, com amigos que moram no bairro. Uns vem tomar suco de laranja e comer pastel. Eu já saiu de casa com o café tomado, mas fico por ali batendo papo. Na banca de carnes da Borussia, carne fresca do frigorifico, estou sendo atendida quando escuto: - deixa que eu termino com ela. Ui, que susto, termina comigo, mas estou aqui todo o domingo. Vai eliminar a cliente, pergunto. O homem sorri. O mais velho la do fundo comenta, olha só senhora, ele quer terminar contigo, rimos juntos. Sigo em busca das frutas e verduras.
A chuvinha fina recomeça, e eu me apresso, a feira e bem na frente da minha casa, maior mordomia. Entro em casa, guardo as compras e início o preparo do almoço. Tempero o lombo de porco e deixo marinando. O cardápio, uma maionese com lombo ao forno, suco de limão.
Sento no sofá, e me vou ao telefone, colocar em dia as notícias da família. Uma música ao fundo, Maria Bethânia, tempo, tempo, canta ela. O tempo voa, mas domingo e dia de leveza e lerdeza. Fico ali atirada, nem o tricô me apetece, me alongo, bocejo. Tinha que caminhar, ir ao cinema, mas com essa chuvinha lá fora, vou mesmo e ficar por casa. Escolho um filme e assisto. Almoço e vou cochilar.
Quando acordo o domingo já está bem avançado. Vou ler e ouvir música e assim fico até o sono me possuir por completo.
Domingo de chuva, dia de preguiça, de introspecção, de colocar o sono em dia, que vem há a segunda.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

PORTO ALEGRE, 22 MAIO 2016

terça-feira, 10 de maio de 2016



                        

CAMINHADA AO AMANHECER




             Amanheceu, e eu já estava ali fazendo aquela preguiça matinal, preparando-me espiritualmente e fisicamente para o despertar. Saio da cama me jogo no chuveiro, coloco a roupa para caminhar e com uma maça na mão saio. Moro bem próximo ao Guaíba, e nas manhas de outono, já frias, sentir aquele vento gelado, o sol tímido, desfazendo a serração que caiu durante a noite é uma benção.
                      Caminhar pelas manhas a beira do rio, e um exercício que me põe a pensar, a refletir sobre os dias, a família e os projetos.
                Dias que não caminho, o sono fica alterado, ficar nas atividades manuais ou mentais por si só, não cansa o corpo. Penso que sou uma pessoa hiperativa, preciso, ter vários projetos em que esteja inserida. Escrever uma crônica, um conto, fazendo um bordado, um tapete, uma blusa, a técnica não importa muita, vou em busca da que melhor se adequa ao momento. Lendo um bom romance, ver um filme, dois. O caminhar me conecta, comigo mesma e com o universo.
                O amanhecer e de uma riqueza tremenda, que pela rotina terminamos esquecendo, momento de ser fazer diferente, de buscar novos rumos, novas formas de resolver velhos problemas. Estamos sempre com receios, medos das mudanças, e não nos apercebemos que mudamos de qualquer forma. Nos apropriando da mudança ou não. Quando assumimos o percurso fica mais vivo, mais criativo e mais original.
                      Eu tem dias que saiu pela beira do rio, outros saiu pelas ruas arborizadas, outros vou pela rua que tem lojas.  As pessoas dependendo do horário que saímos são quase sempre as mesmas, raras exceções.
                Alguns caminham ouvindo música, outros correm, uns cumprimentam, poucos juntam algum lixo que encontram no caminho. Eu prefiro ir fazendo exercícios respiratórios, pensando, conversando comigo mesma e observando. Observo a natureza, as pedras, os pássaros, as arvores e as flores do caminho.
                Volto, me alongo e tomou meu chimarrão, e quando vejo o dia já me tomou por completo.
PORTO ALEGRE, 10 maio 2016.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES          


segunda-feira, 9 de maio de 2016

– A Figueira: A figueira é considerada a Árvore Sagrada da Índia e juntamente à oliveira e à videira simbolizava a fartura e a imortalidade. Os antigos egípcios utilizavam a figueira em rituais de iniciação, pois ela representava a sabedoria religiosa.
Atualmente, as folhas da figueira são usadas em esculturas e pinturas para cobrir os genitais, tornando-se símbolo de castidade.
A figueira de bengala é a casa dos espíritos que representam a vida e a procriação. No budismo, a figueira passou a ser o eixo do mundo, pois para os budistas, ela simboliza aprendizado, imortalidade e iluminação.
 Dia das mães de 2016

Eu sou mãe de gêmeos.  Quando estava no sétimo mês de gestação a ecografia nos revelou que minha barriga estava povoada com dois lindos bebes. Fui saber que eram dois meninos no momento do parto. A medida que foram nascendo, o pai lhes deu o nome. Nomes que já havíamos muito conversado sobre a escolha. O primeiro Guilherme, o primogênito, o caçula o Leonardo, cada um com a sua singularidade.  Dias difíceis se seguiram, cuidar e acolher dois bebezinhos não e simples e não e fácil.  Mas com o pai deles, com minha mãe, minha irmã e amigas a vida foi se dando.
Hoje estão ai no mundo, dois homens maravilhosos. Eu sempre me cobrando que não tinha tempo para me dedicar a cada um a seu tempo. Para curti-los suficientemente, para dar a atenção necessária, eu mexia que eram plantonistas, quando me divorcie, sempre tinha um comigo nos finais de semana. Sim claro até chegarem as namoradas. Benditas namoradas, pois eles são lindos demais e são da vida como diz o nosso sábio profeta Kalin Gibran, como arco e flecha, a ânsia da vida se faz.
Cada um seguiu suas escolhas, seu percurso, sempre muito parecidos porque são irmãos, muito distintos porque singulares e únicos.
Hoje, passei esse dia das mães com o meu caçula e parte de sua família. Caminhamos pela Redenção, ou parque Farroupilha como quiserem. Domingo, sol tímido, quente mais não tanto, chimarrão, fico observando, ele se tornou um homem quieto, poucas palavras, bem humorado, amoroso e simpático. Tão lindo quanto seu pai.  A tarde um chá, na casa da sogra dele. E ali entre tantas arvores escolhi essa figueira acima. Sim pois as arvores, todos nos três gostamos de subir nelas. De sentar sob elas para refletir, para olhar o mundo. E ali na Redenção que a pouco foi atingido por um furação e destruiu muitas arvores, ali estava aquela linda figueira intocada, com suas folhas verdes, seu tronco sólido, suas raízes profundas, seus frutos.
E olha a sincronicidade da vida, meia hora depois, me liga o filho primogênito que agora mora na zona rural, sentado na sombra de uma arvore, observando a natureza. As arvores são elos.
Já pela manhã acordei com uma andorinha na janela e ela traz a mensagem do calor do lar, da família, dos relacionamentos afetivos construídos a base do amor.  Ser mãe me socializou.
Porto Alegre 8 maio 2016.

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

domingo, 8 de maio de 2016

E o chão abriu-se aos seus pés


                Ouvimos tanto essa expressão e a pensamos sempre de uma forma metafórica. Outro dia indo para o supermercado, eu e meu neto mais velho, encontramos uma cena tragicômica. Meu vizinho, um homem de peso, entalado num buraco na rua. Ele vinha caminhando com seu cão, quando de repente o chão abriu-se aos seus pés. Literalmente assim como eu estou escrevendo ele foi sugado pelo chão. Pode crer? Caso não tivesse visto também não o acreditaria.
                Há três semanas choveu muito na cidade, muito além do esperado para a época. Quem olhasse para a rua antes do fato ocorrido nada indicava que abaixo daquele calçamento não havia nada a não ser o espaço vazio, o buraco. Ele, meu vizinho, pessoa polemica, gosta de certa notoriedade, e ficou ali, discursando, e um grupo de pessoas ao seu redor. Sua mãe com gelo na toalha para ele colocar na perna. Deve mais sorte que juízo, e o susto foi maior que o dano. Também não e todo o dia que somos sugados pela terra.
                Nossa rua é tranquila, arborizada, toda calçada, um fato surpreendente. Construímos casas, ruas, calçadas, e pensamos que tudo e para sempre. Que tudo e definitivo. E vem a natureza e nos dá um toque: ei, olha a vida ai!  É dinâmica, é cíclica, é um espiral. É Pensamos que por morarmos no mesmo endereço há mais de trinta anos passamos sempre na mesma rua.  Balela!  A rua é diferente a cada dia. E naquele dia meu vizinho teve a prova fatídica disso, e foi-se ao chão. 
                 O medo de alturas, de subir escadas, de subir montanhas, lombadas, nos persegue; o plano, o reto, nos parecem seguros, mas olha ai?  O chão abriu-se sobre os seus pés.  O fato é que somos mortais.
                Aqui em Porto Alegre, ano passado, próximo ao final do ano, um Juiz que caminhava todos os dias no Parque da Redenção, e retornava para casa sem parar, resolveu num determinado dia, cansado, sentar-se num banco a sombra de um eucalipto. Não e que a arvore caiu. E pior ainda, caiu sobre ele e o levou a morte.
                Meu vizinho está vivo, caminhando bem, só resta saber se ele entendeu a mensagem do universo. Não fui eu e nem um dos outros, mais de mil pessoas, que caminham por ali todo dia, que caíram no buraco. Foi ele, e por que ele?
                O buraco pasmem ainda está lá. A Prefeitura sinalizou, para que outros não caíssem, mas o buraco esta lá para que possamos vê-lo. O melhor ainda para que o meu vizinho o aprecie bem e reflita. Eu refletiria.
Porto Alegre, 04 abril 2016
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES


RISCO E RABISCO: A Medicina da proteção do lar. Calor ( no sentido ...

RISCO E RABISCO: A Medicina da proteção do lar. Calor ( no sentido ...: A Medicina da proteção do lar. Calor ( no sentido das emoções ) Ela acompanha o ar quente, é considerada um dos grandes sinais do verão. ...
A Medicina da proteção do lar. Calor ( no sentido das emoções ) Ela acompanha o ar quente, é considerada um dos grandes sinais do verão. Algumas tribos dizem que a andorinha roubou o fogo do Sol e trouxe para a Terra, nas penas do rabo, por isso o rabo daquela forma. É associada ao fogo e ao Sol. Reflete proteção para o lar e preservação de desastres, especialmente fogo e raios. Ela inspira que o tempo estará bom, quando voa baixo indica chuva. Ela também come insetos, ajuda a controlar os insetos e numa forma xamânica de pensar, que tipos de insetos nos aparece para atormentar ( principalmente os mentais ) ? Aquelas irritações acumuladas Também nos ensina a livrar-nos de perspectivas mundanas.
A chave para ela também é a objetividade. Por manter sua objetividade você estará hábil para proteger o lar e aquecer sua vida e a vida dos que se aproximam de você. A andorinha ajuda a limpar o meio ambiente de pestes e a criar uma energia de amor e calor em nossos lares ( do site  http://www.xamanismo.com.br/Poder/SubPoder1189789601It002#Andorinha)

Domingo, 08 maio 2016, dia das mães, acordo com uma andorinha cantando na minha janela. Elas seguidamente estão por aqui, mas faziam muitos dias que não a escutava. Preguiça de sair da cama quentinha, agora ja com os primeiros frios do outono. E ficar ali encolhida acolhendo o som desse pequeno passaro me faz pensar no calor da minha casa. Nessa casa onde sonhei e eduquei os meus filhos. Filhos hoje ja homens, pais de seus proprios filhos. Pensei na minha mãe, na forma como fui educada, na minha avo materna e paterna, de como eram diferentes. Uma me ensinou a cozinhar a outra a beijar e namorar. 
E a andorinha ali minuscula, mas que nos ensina a sentir e a olhar para os sinais do universo, da terra, do vento. Parece que hoje nao vai chover, ela esta no alto, diz na medicina da andorina que chove quando ela voa baixo, eu moro no nono andar. 
Sempre adorei observar os animais, desde menina, inclusive quando pequena algumas maldades fiz para saber do funcionamento de sapos ,passarinhos e joaninhas.  Hoje aprendi que ao observarmos a naruteza e particularmente os animais em geral , e hoje um passaro, podemos interagir melhor conosco e com os que nos relacionamos. Nem o sol hoje sabemos e o centro do universo. Na medida que conseguimos sentir , intuir, e perceber nosso lugar no mundo e na vida dos que amamos o dia transcorre e vamos em frente, seguimos nosso percurso.
Salve a andorinha, e fico aqui escutando o seu delicado som.
PORTO ALEGRE ,8 maio 2016.
Magaly Andriotti Fernandes




sexta-feira, 6 de maio de 2016

Entre as arvores e a liberdade de expressão



Outro dia um amigo contou –me que ao caminhar pelo parque próximo a sua casa como lhe e de habito, se indispôs como o funcionário que colocava luzes nas raízes das arvores. Queria que ele parasse, que não terminasse aquele serviço de iluminar o parque. Para ele era o caos. Como as arvores irão viver assim iluminadas o tempo inteiro. Como os pássaros que ali fazem seus ninhos iram procriar.
Não satisfeito foi até a administração do parque e fez a sua queixa, não foi escutado e ali parou. Não deu sequência. Retornou para casa cansado, triste, mais triste do que saíra.  O caminhar que era algo que o distraia, que rejuvenescia a alma, naquele dia não.  Não conseguiu entender como aqueles boçais, assim se referiu aos dois homens que iluminavam o parque, continuavam mesmo após ele expor as suas razoes. Ele tem buscado informações sobre o cuidado de arvores, e verificou que em parques como o Central Parque nos Estados Unidos, tem a preocupação com o humano, de tornar o parque um lugar seguro e agradável, onde se pode inclusive andar à noite, e com a sobrevivência das arvores e dos animais que dependem delas pássaros, cotias, esquilos etc.
E eu fiquei me perguntando, o que houve com a minha geração, que perdeu o sentido da reivindicação, como se fazer ouvir numa comunidade tão grande quanto a de uma capital. Porque o obvio, o cuidado com as arvores e os pássaros, fica relegado. Como o humano ao cuidar de si, não se apercebe que o planeta precisa de cuidados tanto quanto ele. Como se deu essa dicotomia, essa dissociação.
Um minuto basta para que esse meu amigo tivesse sua vida totalmente alterada. Ele um homem forte, estava a ponto de partir para vias de fato com o funcionário e com a sua chefia. A luta pelas arvores, maravilha, politicamente correta. A forma da luta, será essa? Como se fazer ouvir então? Qual o fórum para sua luta?
Os parques de nossa cidade estão realmente espaços proibidos na noite. Iluminar seria uma solução? Solução essa para quem? Tem como contemporizar? Parece que sim, ele achou uma forma. O que ocorre com as cidades que seus cidadãos não são consultados, que não são ouvidos, mesmo quando essa fala tem a ver com uma melhor qualidade de vida.
Sugeri a ele que se acorrente a uma arvore, e chame a imprensa e fale então o que propõe. Ideia esdrúxula.  Como podemos exercer nosso conhecimento, nossos desejos numa cidade grande? Ficamos passivos, vendo nossas arvores irem sendo mortas aos poucos, nossos pássaros não mais podendo se acasalar?  Qual a melhor forma de encaminhamento para o cuidado com as arvores e a vida dos pássaros, um drama não pessoal, mas sim da comunidade.
Uma simples conversa, e eu preocupada com as arvores, com os pássaros, mas principalmente, com meu amigo, que poderia num segundo ter mudado totalmente sua vida se partisse para briga como era sua intenção. Segurou-se, ficou triste, sentindo-se impotente diante da vida. Mas a sua forma me pareceu mais um gesto na busca de que alguém se encarregasse de si, do seu desejo e de seu planeta.  Passei vinte e oito anos ouvindo pessoas que chegaram as vias de fato em suas vidas, que num segundo, mataram, roubaram, violentaram. Um segundo e tudo mudou em suas vidas. Meu amigo também, não conseguiu mudar o destino das arvores do parque, mas mudou o seu. Anda por ai livre, ainda cheio de dúvidas, preocupações, quem sabe um dia ele se associa a um grupo de defensores da natureza, quem sabe um dia ele escreva textos sobre isso. Quem sabe vai até o legislativo de sua cidade e busca algum político que escute a sua causa?
Magaly Andriotti Fernandes

Porto Alegre, 09março 2016.

RISCO E RABISCO:                       A solidão do final de tarde...

RISCO E RABISCO:                       A solidão do final de tarde
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:                       A solidão do final de tarde                   Uma janela minúscula e uma vista surpreendente. La no alto do Monas...

Amanheceu

                               Amanheceu peguei a viola botei na sacola e fui viajar, plagiando Almir Sater, amanheceu vim para o computador e resolvi que era hora de escrever.  Morar no nono andar nos dá essa tranquilidade, poucos ruídos, acordo ao som dos pássaros, atualmente as caturritas tem sido as principais cantoras.
                              
                            Dar asas à imaginação, dar corpo, cheiro e forma para esses pensamentos e sentimentos que me povoam.  Em Porto Alegre estamos vivendo um momento muito diferente, uma sensação muito grande de insegurança paira no ar. E olha que não sou pessoa de me assustar, ou de me impedir de sair, de ir a rua. O que se passa. Seria o governo do Estado e sua política de insegurança, que desde o seu primeiro dia, já apregoou que o Rio Grande do Sul está falido, e não fez nenhuma proposta.  Sim porque quando alguém se candidata para um cargo, e não faz o que necessita, o barco fica à deriva e é esse o sentimento, de um barco sem rumo, sem projetos. Sendo eu uma pessoa que trabalhou por bons trinta anos com o comportamento humano, com o comportamento humano violento, me sinto assim, imaginem o leigo. A sensação deve estar aumentada. E com isso as pessoas ficam vulneráveis. 
                          A cidade em si, que e competência do Prefeito, também ao caminharmos ou andarmos de carro, vemos o descaso, obras inacabadas, demoradas, menosprezando a inteligência do morador, do cidadão. Nosso símbolo histórico a ponte na Borges, está lá fonte de mosquitos, num tapume, sem que a comunidade saiba o que mesmo está sendo feito ali, que tipo de restauração será.
                              Mas vocês devem estar se perguntando, mas que falta de imaginação, ao amanhecer falar do governo, do prefeito, com tantas maravilhas para se dizer, se escrever e se falar. Penso que tenho que trocar com vocês desse sentimento, pois ao compartilharmos nos fortalecemos, nos damos conta que somos muito mais do que um governante, que mal governa, que a cidade é cada um de nós, e todos nos juntos. E que cada um de nós faz sim a diferença. E que não podemos nos deixar levar por essa sensação, e nos impedir de caminharmos nas ruas de nossa Porto Alegre, sim pois esse é um Porto alegre. 
                               Uma cidade com parques, com ruas lindas, com bons mercados, bons shoppings, bons teatros, bons cinemas, e que já tivemos as melhores escolas do pais. Hoje ula la, as escolas estão ai sem reparos, professores mal pagos, mal preparados, uma educação assim como o governador falida. Uma educação sem vida, sem colorido. Isso também nos traz o desalento, a falta de perspectivas. Uma educação sem música, sem artes, sem esportes, sem literatura.
                               E assim como a música tenho pensado muito em ir viajar, em sair desses pagos, com canta o Vitor Ramil. Mas sair seria a solução. O último que sair apague a luz. Vejo que ser criativo e muito difícil, pois as frases até aqui tem dono, e não sou eu. E os temas, nos são comuns. Vejo que o desafio está ai e está posto nessa Porto Alegre, que é sim uma boa cidade para morar e educar os netos.

Porto Alegre, 5 abril 2016

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

                      A solidão do final de tarde
 

                Uma janela minúscula e uma vista surpreendente. La no alto do Monastério de Santa Catarina, Irta olhava os pássaros que voavam, e pousavam nas flores que enchiam os campos. As oliveiras estavam carregadas e logo viria o momento de colhe-las. Seus pensamentos não ficavam por ali, assim como os pássaros voavam.

                 Minha mãe por essa hora deve estar escondida, assustada. Morar naquele pais, era assim um pavor cotidiano. Ela se recusou a sair, a tentar uma nova vida. Sua irmã mais velha tomou o rumo das Américas, o irmão foi junto. Ela sempre sonhou com a Europa, com a Itália, em seus sonhos os castelos, as igrejas sempre a atormentaram e a deslumbraram
.
                Hoje ela ali no meio daquela calmaria, nem conseguia acreditar. Acorda as cinco, fazer sua higiene, sair para a oração, em seguida para o campo, onde cultiva ervas medicinais. São poucas as mulheres ali naquele convento, em número de nove, de nacionalidades diferentes. Ela logo que chegou nada entendia, mas foi aprendendo o idioma, agora já pensa inclusive nessa nova língua e cultura. Ama mexer na terra aguardar o tempo que deve colher os chás, para melhor aproveitar suas propriedades curativas. Aprendeu o tear, onde fica horas e horas fazendo tapetes, roupas, que são doados para ações sociais para ajudar imigrantes de seu pais e outros que andam por ali.

                Suspira, inspira aquele ar fresco do final de tarde de outono, vislumbra o sol que já está se pondo e deseja tudo de bom para sua família tão distante. Uma lagrima escorre, e pensa que o mundo é feito de escolhas e decisões. Irta decidiu mudar-se, ir em busca de seus sonhos, foi difícil, foi, é difícil ainda hoje, mas ali está ela. E sim descobriu que ser freira, que morar no claustro era sim a sua missão de vida. Suas cartas para irmã não tem respostas, fica imaginando o que pode estar se passando em sua vida, se já tem filhos, que tipo de trabalho a fez ficar por aquelas terras distantes.

                Agora suas irmãs são aquelas, três italianas, quatro vietnamitas, uma francesa. Pouco falam entre si, mas seguem uma rotina diárias de atividades que lhes permite uma vida confortável e razoável junto ao claustro. Cultivam chás e produzem cremes, xaropes, e tecidos que são vendidos na comunidade. Dali de sua minúscula janela ela olha e vê o mundo que lhe tranquiliza, que lhe faz sentir-se parte, mulher e freira, agora no lugar onde antes era só sonho.
Porto Alegre , 5 maio 2016.
Magaly Andriotti fernandes


terça-feira, 3 de maio de 2016


RECOMENDANDO LIVRO INFATO-JUVENIL

Um livro leva a outro, mesmo que a literatura seja infato juvenil, para mim que sou uma avo, e uma descoberta importante. Presentear o neto e as netas de livros, ler juntos, e muito gostoso. Hoje eles ja leem para mim, adoro. O endereço no you tube abaixo vamos poder ouvir a Patricia Pirota falando de tres livros :Um da Marina Colasanti (Doze Reis e a Moça no labirinto do vento), outro da Roseana Murray (Caminhos da Magia) e por fim do Lourenço Cassare( Estava nascendo  o dia que conheceria o mar).


https://www.youtube.com/watch?v=z7q56PdoHi4




                                      

                                       AS PESSOAS MATAM

                               

                            Eu tinha 23 anos quando pela primeira vez me dei conta que o ser humano tem a capacidade de matar outra pessoa. Eu era na época estagiaria de psicologia numa das maiores penitenciarias do Estado.
                               E ali me sentei para ouvir aquela pessoa privada da liberdade. Eu com meus ideais firmes e fortes da psicologia de ajudar ao outro. E aquele estranho homem botou-se a falar de si, do que o trazia ali, do que o mantinha por muitos anos preso. Ele um agricultor, um homem que adorava plantar, acordava cedo, saia para a lida do campo. Até que um dia seu vizinho, por questões de limite das terras chegaram as vias de fato. Ele puxou do facão e não mais ficou quieto para os desmandos do vizinho, que tinha colocado a cerca em suas terras, o impedindo de fazer uso da agua que ali, exatamente naquele pedaço de terra, e que lhe pertencia.  A raiva era muita, já tinha tentado conversar, já registrara ocorrência policial, mais de dez vezes, e nada tinha sido feito. Aquele dia sonhou com seu avô, um homem brabo, forte, que não levava desaforo para casa. Acordou pegou seu facão e foi para o campo.
                                               Agora passados dez anos, chora muito ainda, cotidianamente e pede perdão a Deus, por ter tirado a vida de seu vizinho. Como pude, se pergunta? Como pude tirar a vida de um pai de família, a que ponto cheguei. Podia ter me mudado, vendido aquela terra. Minha família ficou lá sem assistência, não convivo com meus filhos, a família dele também ficou desamparada. E o pior a situação não se resolveu, hoje nossos filhos se odeiam e o conflito com os limites da terra perduraram.
                                               Cheguei em casa destruída, chorava muito, e jurava nunca mais voltar para o estágio. Não conseguia aceitar que um ser humano pudesse matar o outro. Mesmo que hoje arrepende-se do feito.  Corri para meu analista, para supervisão.
                                               Naquele ano e nos outros vinte e nove que se seguiram, não só os homicídios, como muitos outros atos de crueldade povoaram minha escuta. Alguns diferentes desse não se arrependeram, fariam tudo de novo, hoje com mais requintes de crueldade. Muitos, mas muitos sim, refletiam, falavam sobre, achavam novas possibilidades de viver, de forma diferente daquela em que tornaram ato seus piores sentimentos. E pena que a sociedade ainda hoje pense que a prisão é solução para esses conflitos que resultam em morte, dano.
                                               Aprendi que o crime, é um ato humano, eminentemente humano. Que os animais, os leões, os tigres, e outros matam para a sobrevivência. O animal racional, humano, mata por prazer.
Porto Alegre, 03 maio 2016

Magaly Andriotti Fernandes

segunda-feira, 2 de maio de 2016




                                           

                                                       A Escola e a Prisão


                           Hoje resolvi escrever sobre a avenida Teresópolis, rua principal do bairro em que vivi meus anos de infância. E olha o que descobri: quando nasci, o bairro ainda não se chamava assim, que só no mês de dezembro passou a ter esse nome. Eu nasci em setembro. E o que mais me agradou, que os primeiros moradores foram italiano. Eu em busca de minhas origens e uma parte delas e italiana, fiquei feliz. Meu avô, um agricultor na cidade, me ensinou o gosto pelo plantio, pelas hortas e pomares. O gosto pelo cheiro da terra, por mexer na terra, por plantar e colher. E ali tinha muita plantação de uvas, bergamotas. E como me lembro, do cheiro, do sabor das frutas colhidas direto do pé. Nosso pátio era pequeno, mas era todo plantado. E naquela época ainda se podia criar em casa galinhas e porcos, o que fazíamos.
                         E descobri também que em primeiro de março de 1917, as irmãs de São Jose assumiram a direção da Escola Paroquial do bairro Teresópolis, em Porto Alegre, fundada por Monsenhor André Pedro Frank, por ordem do Arcebispo Don João Becker. Em 1933 passa a se chamar oficialmente Colégio São Luís, onde eu e minha irmã mais velha estudamos. Eu fiz apenas o primário, ela o primário e o ginásio. Lembro que em 1967 eu por ser a menor aluna da escola tive a honra de entregar flores ao Arcebispo nos festejos dos cinquenta anos da escola. Ah sim a escola só estava ali onde está até hoje em 1957, antes sua sede era próximo a paroquia Nossa Senhora da Saúde. Aliás hoje não tem mais esse nome e não são mais as irmãs que o administram.
                     E o presidio feminino esse passou a existir em 1950 com o nome de Instituto Feminino de Correção, até 1970 quando ganhou o atual nome Penitenciaria Feminina Madre Pelletier. Nos anos iniciais era administrado como diversos presídios femininos da América Latina pelas irmãs da Concreção Bom Pastor. Quando pequena muitas vezes fui levada pela mão do guarda para casa pois roubava jabuticabas nas arvores no pátio do presidio. Almocei ali algumas vezes com uma amiguinha que o pai era agente de segurança, eu não lembro, mas minha mãe contava. Ela comprava pães, ovos de pascoa das apenadas, inclusive deu aulas de corte e costura para as mulheres presas e por muito tempo íamos na capela antes dela pegar fogo e não mais ser restaurada. E o mais incrível e que terminei meus anos de trabalho como psicóloga nessa penitenciaria. 
                         Para quem não conhece o bairro, a escola e a prisão são vizinhas, uma ao lado da outra. E pelo visto a prisão já estava ali quando a escola iniciou a funcionar.
                          Nunca imaginei que um dia trabalharia na prisão, e muito menos na prisão feminina, mas o destino quis e lá constitui o meu fazer. Quando pequena tenho lembranças de estar tomando banho no tanque, naquela época era comum se tomar banho no tanque, no verão, é claro. E quando menos se esperava, vinha uma mulher correndo de rolos na cabeça, os guardas com cães, pastores alemães atrás, e eu ali só de expectadora. Minha casa ficava atrás da Penitenciaria, numa rua que fazia divisa com o terreno. E não existiam muros altos como hoje existem.
                             Na escola nunca ouvíamos nada sobre o presidio, e não haviam ruídos, só aquela triste imagem, aquele triste prédio ao lado. Para ir para casa tinha que passar em frente ao presidio, o que fazia sem nenhum problema, ou temor. Ele estava ali em nosso cotidiano. Tanto que depois de muitos anos me habilitei a trabalhar com essa realidade.
Porto Alegre, 2 maio 2016.
Magaly Andriotti Fernandes

RISCO E RABISCO:                   SAUDADES  DA   AVENIDA TERESOPO...

RISCO E RABISCO:
                  SAUDADES  DA   AVENIDA TERESOPO...
:                   SAUDADES  DA   AVENIDA TERESOPOLIS                                    Nasci e morei no bairro Teresópolis,...



                  SAUDADES  DA   AVENIDA TERESOPOLIS  

              

                  Nasci e morei no bairro Teresópolis, até meus 18 anos. Meus pais e irmãos ali continuaram vivendo. Eu mudei para o bairro vizinho.
                Minha família veio do interior para a capital muito antes de eu nascer e se estabeleceram numa casa em rua paralela à avenida. Meu avô materno além de caixeiro viajante era chazeiro, ou seja colhia, plantava e vendia ervas medicinais. Caminhávamos muito pelo bairro, na busca de chás. O morro Apamecor, o da Agronomia, o de Teresópolis eram nosso campo de busca. Mas a avenida, essa tinha seus encantos.
                Minha mãe e suas irmãs, que eram quatro, e meus dois tios, tiveram ao todo onze filhos, e do mês de novembro até o natal todos vinham lá para casa em tempos diferentes. Era habito caminharmos pelas ruas passeando. Minha mãe e tias gostavam de roubar flores das casas: rosas, mudas de dália, temperos, folhagens. E nós as crianças corríamos pela rua, brincando de pega, pega, ou conversando simplesmente, subindo nos murros; bons tempos.
                Lembro das vezes que tive que ir na farmácia Suzana fazer vacina antitetânica, pois devo ter perfurado meu pé, pelo menos umas três vezes, com prego. Era uma espoleta, corria descalça, subia em arvores.  A casa ao lado era a do Dentista, esse também era um local que eu tive que enfrentar por diversas ocasiões. Vinha com a bochecha inchada, noites sem dormir de dor de dente, fistulas, mas o dentista era todo amoroso.
                O mercado na esquina da rua Carvalho de Freitas, onde para se comprar leite tinha que levar o tarro. Eu tinha um pequeno para as bonecas e o da mãe. O doce de leite era comprado a granel. E eu para o faze-lo terminei cometendo loucuras, vendi o diário, uma foto de minha irmã para o meu cunhado. Veja bem trocar o diário da irmã pelo famoso doce de leite - MUMU.
                O cinema Teresópolis ficava na avenida, e nos domingos, com os tios e primos íamos assistir os filmes de Mazzaropi, era uma bagunça total, jogávamos pipoca na cabeça dos outros, falávamos durante o filme. As cadeiras faziam ruídos, eram duras, desconfortáveis. Mas a festa era garantida.
                O bonde, durante a minha infância, ainda passava por ali. E era comum as pessoas se jogarem embaixo do bonde.  Seguido as crianças desciam correndo a lomba para ir ver o morto. Eu nunca tive coragem, mas ouvia os relatos, saia correndo e contava para mãe. Numa dessas vezes, quando cheguei gritando, uma freguesa da mãe desmaiou (ela era costureira). O esposo dela que tinha problemas mentais ficou esperando no carro, enquanto ela experimentava roupa, e quando ela ouviu a notícia pensou que ele tivesse se suicidado.
                O presidio já estava ali desde que me conheço por gente. Por períodos íamos comprar pão no presidio, chocolates feitos pelas mulheres presas. Havia uma capela que a comunidade também frequentava ali, até pegar fogo e não mais ser restaurada.
                As balas de coco do asilo da esquina. Penso que ali morava uma fada, pois só assim para descrever uma pessoa capaz de fazer balas tão delicisiosas. Quando as colocava na boca se desmanchavam. A senhora que as fazia tinha que ter alguma mágica.
                E a escola, onde fiz todo o primário, o Colégio São Luís. Lembro da irmã formigueira, assim chamávamos uma freirinha, pequena, que estava sempre abaixada cuidando do jardim. Da irmã Rosa Celeste minha amada professora da segunda série, e da agressiva freira do terceiro ano, que nem o nome recordo, nos deixava seguido sem a merenda, sem ir ao banheiro. Ali não só aprendi a ler mas como gostar de ler. Chama atenção que escola e presidio convivem lado a lado, anos a fio sem nenhuma intercorrência.
                Não podemos deixar de falar da praça em frente à igreja Nossa Senhora da Saúde, que foi um espaço de brincadeira, de troca das primeiras filosofias, de namoro. Sim porque naquele tempo era algo viável, sentar e namorar ali. Nessa igreja me batizaram.
                E falando um pouco dos moradores da avenida :havia uma família sui generis   de vinte e três filhos, onde o casal se chamava Maria e Jose, todos os filhos tinham dois nomes, os homens eram Jose alguma coisa e as mulheres Maria... A casa da professora de piano, a loja de armarinho do Jorge.
                Essa avenida acompanhou o meu desenvolvimento, a percorri desde meu momento do nascimento até a vida adulta. Meus últimos anos de trabalho foram na prisão feminina, ao lado da escola onde fui alfabetizada. Para acessar a casa da minha irmã e da minha única sobrinha preciso passar pela avenida até hoje. Essa avenida que hoje perdeu todos os encantos.

PORTO ALEGRE, 9 ABRIL 2016.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES.         
               
               


                

domingo, 1 de maio de 2016


                                                            As  arvores e suas raizes

                                   
                      Em março fui a Colonia de Sacramento, no Uruguai, com uma amiga. Ali como em quase todo o Uruguai o numero de arvores antigas e belas chama minha atençao. Amo as arvore, e quando estao assim com suas raizes expostas me atraem mais ainda. Uma sedução que não sei explicar, mas posso ficar horas ali a sombra as observando. Ficar ali sentada, ou como quando era pequena fazendo daquelas raizes lugares imaginarios, ora espaços e peças de casas, ora  cidades inteiras.

                     Agora adulta e morando numa cidade onde existem muitas arvores, mas que aos poucos o cimento as foi contornando, não se pode ver suas raizes, e seus troncos não podem engordar, crescer, ampliar-se como as que vemos ai. Hoje eu resolvi entao bordar, trazer para o tecido essas imagens. Imagens essas que me tranquilizam, que me trazem paz.
                     O que são mesmo as raizes, elas são a forma como a arvore se sustenta, como busca seu alimento, como se firma. Existem raizes muito profundas, que vao longe no solo em busca da agua. elas se entrecruzam, fico ali pensando se falam, se cumprimentam, as que ficam a baixo, ficam bem ou sentem-se sufocadas. A convivencia resulta pacifica?. Ja encontrei raizes mortas por baixo de umas mais grossas, mas é raro.
                      Ai nessa sombra havia uma moça que acendia uma vela. Fico imaginando, que deve estar fazendo uma oração, uma oferenda, deve assim como eu ter buscado essa sombra como um espaço de interação com o universo, de reflexão e de encontro.
                       Sim , concluo que minha paixao com as arvores esta associado a essa possibilidade que so as arvores tem de estar em contato com as profundezas da terra,e ao mesmo tempo que  com o ar, e com a chuva, com o espaço sideral. Ficam ali com suas cores lindas conforme a estaçao, ou muito verdes, no verão, ou avermelhadas  e  ou amarronsadas quando chega o outono, ou multicoloridas quanda chega a primavera, e no inverno neutras, as vezes dependendo do lugar ficam brancas pela neve, se assemelhando ao todo.
                         As arvores sao elos e são refugios.
PORTO ALEGRE, 1 MAIO 2016
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
                         


Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

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