sábado, 30 de abril de 2016


Retomando a leitura da Marina Colasanti , na  contracapa de seu livro OS ULTIMOS LIRIOS NO ESTOJO DE SEDE leio: " No aeroporto de Hong Kongh, mais do que nunca amei a diversidade. E na diversidade, sumida em meio aquela multidao, me senti igual. Cada um com sua lingua tentando entender e fazer-se entender. Cada um com seu lugar de origem que e so seu. E todos - comprando, esperando,,correndo contra o atraso, acertando o fuso no relogio - todfos em transito. Todos no centro de aqlgum lugar, indo para outro. Como estamos nos todos, sempre. Mesmo quando nao  nos damos conta de que, a qualquer momento, podemos ser cahamados para o voo." ( Trecho da crinoca O centro do mundo, onde fica?)
Que forma mais poetica de se falar da morte. 
Reencontrei Marina Colasanti, uma escritora italo-brasileira. Puro prazer.

RISCO E RABISCO: O leite e o homem que perambulava               ...

RISCO E RABISCO:
O leite e o homem que perambulava
               ...
: O leite e o homem que perambulava                                Na década de sessenta, em Porto Alegre, o leite era vendido em ...

O leite e o homem que perambulava


                               Na década de sessenta, em Porto Alegre, o leite era vendido em litros de vidro, e o usuário levava até o mercado um tarro e o leite era ali repassado. Mey saiu cedinho de casa com seus dois tarros, o da mãe e o das bonecas. Ela uma menina franzina, de nove anos, estatura abaixo de sua faixa etária porem autônoma e determinada. Gostava desse movimento matinal antes da escola.
                                Desceu a lomba, comprou o leite e subiu. Quando bem no meio, um homem branco, de terno de linho branco, cabelos longos a parou. Ela não lembra se ele a segurou pelo braço, se simplesmente pegou o tarro de leite de sua mão, se falou com ela. O medo era tanto que ficou ali estática, paralizada como na brincadeira que gostava de fazer com os amigos. Os olhos eram duas bolitas, arregalados, pelas pernas um liquido quente escorreu de pavor. A vontade era sair correndo, mas como? Como sair correndo, o medo era tanto. Ele bem tranquilo tomou o que podia do leite e devolveu o tarro. Ela quando o viu se afastar, saiu em disparada. Suas pernas curtas e atrapalhadas, a levaram ao chão. Novo choro, o sangue agora escorria dos joelhos machucados.
                                Chegou em casa aos prantos, sua mãe já veio direto para suas orelhas, brigando, e perguntando o que ela tinha aprontado. Sim pois a mãe sempre a via como uma transgressora, como alguém que faz tudo errado. Para seu bem a avó vem lá do fundo da casa, ralhando com a mãe. Pega-a no colo, enxuga as lágrimas, limpa os machucados, abraça bem forte. Agora sim no céu, segura pode então falar, e contar o pouco que lembra. Quando se dá conta que perdeu o tarro das bonecas, novo choro. A mãe não se dá por vencida, e briga e a manda parar de chorar, pois que valor tem um tarro de bonecas, o mal maior para ela era o leite do café que se foi.
                                Com a avó, agora pela mão, retornam o caminho em busca do tarro. E avó, uma mulher sabia, aproveitam e buscam novamente o leite. O homem, um caminhante de rua, já era conhecido no bairro, uma pessoa em sofrimento psíquico, que perambulava. A avó foi tentando explicar, diminuir-lhe o medo e mostrando que ele tinha fome e que não a machucou.
                               Hoje penso que graças a minha ela  fui estudar psicologia.
Porto Alegre, 30 abril 2016

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

RISCO E RABISCO:                                                   ...

RISCO E RABISCO:                                                   ...:                                                                                                                      A rua da minha in...
                                                              
                                                      A rua da minha infância


                Sou avó de um menino e duas meninas e mãe de dois homens.  Quando menina sempre brinquei muito na rua.  Aliás meu lugar até os onze anos era a rua. Brincava de boneca, jogava bola, bolas de gude, colecionava carteira de cigarro, jogava amarelinha, pulava corda. E adorava pegar girinos, sapos mesmo e observa-los. Assim como os pássaros. Hoje observo meus netos que ficam muito tempo dentro de casa, e me entristeço. Observo que os prédios não pensam nas diferentes faixas etárias, que as ruas das cidades não pensam que por elas passam crianças, púberes e adolescentes.
                E as festas que aconteciam na minha rua, ula lá! Festa junina com direito a fogueira, pipoca, brincadeiras, danças com todos os moradores da rua.  Cada vizinho fazia um prato, todos construíam a fogueira, organizavam o espaço comum para a festa, bandeirinhas.
                Em Porto Alegre, há mais ou menos quarenta, cinquenta anos atrás, os terrenos eram quase sítios, as pessoas tinham hortas e pomares. E imaginem vocês que eu, furtava. Sim furtava dos vizinhos, eu e um grupo de crianças, íamos pegar bergamota, uva no pátio dos vizinhos. Eu inclusive furtava jabuticaba no pátio do presidio feminino. Lembro até hoje do sabor de cheiro dessa frutinha, hummm.  O guarda me pegava pela mão e entregava para minha mãe. Eu como era a menor do grupo subia nas arvores para colher as frutas, quando viam o guarda, meus amigos saiam correndo e eu lá ficava. E não dava outra, ia direto para o castigo.
                Brincar de caçador, de cabra cega... ficar até tarde com o grupo de amigos contanto histórias de terror, lobisomem, bruxas. O problema depois era ir para casa sozinha.  A TV chegou eu já estava com uns nove anos, mas tinha horário para se assistir, não se podia assim como hoje assistir a toda hora, e nem os programas infantis estavam à disposição assim e a rua como deixa-la, não tinha como. Escuto até hoje o chamado dos amigos lá de fora, nostalgia.
                Subir nas arvores, esperar as pessoas passarem e jogar cinamomo, sementes de cinamomo. Fazer das raízes das arvores casinha. Usar as arvores para esconder-se dos demais. Sim a rua era arborizada.
                A saída da escola, a corrida para a casa, vinha sozinha, corria e caia. Tinha uma verruga no joelho que sangrava, e novas verrugas nasciam. Uma corrida de temor e liberdade ao mesmo tempo. A rua cheia de mistérios. Ah sim a segurança que o Pedro e o Paulo garantiam, diante do velho do saco!  Isso não tinha preço, era olhar aqueles dois guardas que apontavam na calcada e a tranquilidade retornava, o coração compassava.
                A rua era muito atrativa, a rua era segura, a rua era um espaço de encontro e de troca. Um espaço de convívio das crianças de diversas idades.
                Já com os meus filhos a circulação de crianças na rua, ficou reduzida, e hoje muito menos ainda. Meus netos vão a rua sempre acompanhados de adultos. Minhas netas que agora indo residir no interior do Estado vizinho, estão podendo resgatar o gosto da liberdade de estar sozinhas na rua.
                E a mim resta, as memorias e a firmeza deixadas por esses bons momentos vividos, a saudade da minha rua querida, dos amigos ali feitos. E aos meus netos quiçá uma rua virtual, um novo caminho e um novo percurso se faz.
Porto Alegre, 04 abril 2016.

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

sexta-feira, 22 de abril de 2016

RISCO E RABISCO:                                                  ...

RISCO E RABISCO:                                
                  ...
:                                                                                Ninguém pode sonhar por ti ...
                               

                                               Ninguém pode sonhar por ti                       
     Caminhando por Portugal, não lembro a cidade onde fotogravei essa frase, ninguém pode sonhar por ti.
         E os sonhos que nos fazem realizar, eles são a nossa força motriz. Eles nos desacomodam, nos põe a pensar, nos desassossegam. E que aqui agora nessa cidade além do oceano Atlântico fazendo o caminho reverso dos colonizares do Brasil. Apreciando onde nosso ouro produziu tanto arte, tanta beleza. Por essas ruas estreitas, floridas algumas, casas antigas, um português diferente do nosso nas falas, o coração aos saltos, revendo posições e conceitos.  Fizemos tantas piadas sobre esse povo português, tão acolhedor e aconchegante. Sobre sua lógica de pensar concreta, muito diferente de nos. A vontade e por aqui me fixar e estabelecer. Resgatar as origens da família paterna.
         Eu a cada esquina, a cada dobrada de rua me apaixonou mais, o desejo de ficar vai se fixando. A ai difícil escolha, Lisboa, Porto, Cascais, Coimbra, Tomar, Óbidos, uma cidade mais encantadora que a outra. Imaginem que em duas cidades não existe mais escola maternal, fundamental. Sim, e sabem porque, não existem mais crianças, um pais de adultos e idosos. Algumas portuguesas ainda vestem o preto ad infinito quando ficam viúvas, e as vemos caminhando com suas roupas típicas, outras apenas para atrair os turistas para vender castanhas e outros alimentos típicos.
         A cidade do Porto, o encanto de almoçar na beira do rio, de ouvir a boa música, do artesanato, da técnica do azulejo português hoje aplicada em quadros, bijuterias. Das livraria seculares, dos café e dos castelos, esses cheios de mistérios.  E a minha paixão, as igrejas com seus órgãos. Estar caminhando e ouvir o sino chamando, anunciando a próxima missa, me seduz e me movimenta. Sentar e ouvir uma missa toda ao som da música sacra, do canto, minha alma voa e se eleva. Sou agora uma português com certeza.
         Pois , pois....ninguém pode sonhar por mim, e agora iniciar um novo projeto, uma nova viajem.
Magaly Andriotti Fernandes
22/04/2016


terça-feira, 12 de abril de 2016

RISCO E RABISCO:

RISCO E RABISCO:

RISCO E RABISCO:

RISCO E RABISCO:


 ANDAR DE GONDOLA EM VENEZA
                Por muito tempo andar de gondola em Veneza, foi um sonho, até que chegou o dia, em novembro de 2015 que realizei. Não tem palavras suficientes para descrever a sensação.
                Quando cheguei em Veneza, o coração já batia em descompasso, quando entrei na praça de São Marcos o choro veio naturalmente e aos borbotões. Caminhar por aquelas ruelas, sentir seus odores, que ao contrário do que muitos me diziam era um fedor tremendo, não senti. Era outono, mês atípico, não havia chovido quase todos os dias como ocorre. As aguas eram de um tom esverdeado. Minhas memorias estavam a flor da pele, memorias filogenéticas. Não se sabe para que lado dirigir o olhar, pois tudo e lindo, tudo tem história. O bom mesmo e sentar e contemplar. Foi o que fiz ao final da tarde, tomando uma taça de vinho tinto vendo o pôr do sol: vida pura.
                Penso que é importante contar que sou descendente de italianos e que meu bisavô, veio de Veneto. Não sei quase nada de seus motivos, o que o fez deixar terras tão lindas. Motivos houveram e eles já casados foram para o Brasil. E eu aqui numa sensação de dejavoui.
                Voltando ao meio dia, foi quando andei de gondola. Elas são lindas, éramos quatro na gondola e o condutor, Ivan, Ivan o terrível, brinquei com ele, um italiano belo, simpático e descontraído. A medida que remava e nos levava pelos canais daquela bela cidade, ia contanto historias, passamos pela casa do Casa Nova.  Dali vemos a Ponte dos Suspiros de outro ângulo, e agora nossa vez de suspirar às avessas. Sim as avessas, pois os prisioneiros que ali passavam nunca mais viriam a luz do sol, e nos ao contrário, estávamos apenas iniciando um percurso sem volta para a liberdade. Ivan não cantava, cantamos nos então, cantamos em italiano para não quebrar o encanto.
                Um passeio de trinta minutos, mas que dura a vida inteira, e só se deixar levar pelo embalo da gondola, pela companhia dos amigos, novos amigos do curso, e pela riqueza e a beleza da Itália.
Porto Alegre,12 abril 2016.

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

RISCO E RABISCO: Qual e a sua estrada?A minhaestrada leva a muitos ...

RISCO E RABISCO: Qual e a sua estrada?A minhaestrada leva a muitos ...: Qual e a sua estrada? A minha estrada leva a muitos caminhos. Caminhos curvos. Com vales verdes, caminhos retos com flores perfumadas. ...

RISCO E RABISCO: Uma estrela ao meu lado Viajar de avião é isso.  ...

RISCO E RABISCO: Uma estrela ao meu lado
 Viajar de avião é isso.  ...
: Uma estrela ao meu lado  Viajar de avião é isso.  É ter as estrelas ao seu lado. E como se nos ali, agora pássaros, pássaros gigantes...

RISCO E RABISCO: Tem um gato na minha portaToda manhã saio para ca...

RISCO E RABISCO:
Tem um gato na minha portaToda manhã saio para ca...
: Tem um gato na minha porta Toda manhã saio para caminhar. Hoje pasmem, ao abrir a porta, minha vizinha conversa com um gato amarelo ap...

RISCO E RABISCO: Um beija flor canta para mim Todo dia pela manhã,n...

RISCO E RABISCO: Um beija flor canta para mim Todo dia pela manhã,n...: Um beija flor canta para mim  Todo dia pela manhã, na parada de ônibus, fico ali ouvindo um beija flor, parado no fio, ele canta. Primeir...

RISCO E RABISCO: Andorinhas no amanhecerHoje acordei com o canto da...

RISCO E RABISCO: Andorinhas no amanhecerHoje acordei com o canto da...: Andorinhas no amanhecer Hoje acordei com o canto das andorinhas na minha janela. Moro no nono andar de um edifício próximo ao estuário do...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

RISCO E RABISCO: A LAGARTIXA MINHA INQUILINA                Umalaga...

RISCO E RABISCO: A LAGARTIXA MINHA INQUILINA                Umalaga...: A LAGARTIXA MINHA INQUILINA                 Uma lagartixa branca mora no meu apartamento. Era noite, eu triste, pensativa na situação fin...

RISCO E RABISCO: Paineiras            Mês demarço, é o mês onde as...

RISCO E RABISCO: Paineiras
            Mês demarço, é o mês onde as...
: Paineiras             Mês de março, é o mês onde as paineiras florescem e deixam a cidade rósea. As paineiras povoaram a minha infância...

RISCO E RABISCO: A PRAÇA E O INICIO DEUMA VIDA                Noin...

RISCO E RABISCO: A PRAÇA E O INICIO DEUMA VIDA
                Noin...
: A PRAÇA E O INICIO DE UMA VIDA                 No início da Rua Marechal Floriano, existia uma loja chamada Modas Princesas, e na Gen...

RISCO E RABISCO: DOCE DE COCO                Outrodia lendo Ferna...

RISCO E RABISCO:
DOCE DE COCO
                Outrodia lendo Ferna...
: DOCE DE COCO                 Outro dia lendo Fernando Sabino, me veio a lembrança minha paixão pelo doce de coco, doce de coco em ...

DOCE DE COCO

                Outro dia lendo Fernando Sabino, me veio a lembrança minha paixão pelo doce de coco, doce de coco em calda, especialidade de minha mãe. Quando chegava o mês de novembro, minha família, que pelo lado do avô paterno era de origem italiana, contava com três tias e dois tios, e nove primos vinham hospedar-se lá em casa para os preparos do natal e do ano novo.
                De um ano para o outro criávamos um porco, galinhas, fazíamos cerveja em casa. Meu avô era o responsável por essa façanha. As galinhas cada neto tinha uma, quando chegava a hora do sacrifício, era aquela choradeira. E o porquinho então.  Os adultos sabedores do fato, quando chegava o dia da matança dos pobres bichos, um se responsabilizava por nos levar a passear pelo bairro. Quando voltávamos não tinha mais o que fazer.
                Mas vamos falar dos doces, dos doces em calda, os de laranja, de figo, de abobora e o meu preferido o de coco. Aquele ano a mãe se antecipou. Fomos no mercado público no Centro, e ela comprou os cocos, chegou em casa e já nos colocou para ralar. Sim nos as crianças participávamos muito ajudando no descascar, ralar, picar os ingredientes. Eu adorava tudo aquilo. E a dificuldade era descascar sem comer, só o perfume do coco, eu já ficava salivando à toa. Minha mãe era costureira, fez o doce no final da tarde e deixou na panela grande esfriando para noutro dia colocar nos vidros e guardar. Eu fiquei vendo TV até tarde, e sem que a mãe percebesse ia até a panela e me servia um pouquinho. E assim fui de pouquinho em pouquinho.
                Já madrugada, quando a mãe passou pela sala de TV, viu que ela estava ligada mas já tinha saído do ar, sim naquela época, num determinado horário, não tinha mais nada para se ver na tela. E eu ali de olhos arregalados, minha mãe achou aquilo tudo muito estranho. Quando se aproximou avaliou que eu não estava bem. Levou um tempo para ver que eu tinha comido toda ou quase toda a panela de doce de coco. E o que poderia ter me acontecido? Sim uma congestão. Ainda bem que minha mãe era muito rápida para essas situações, me levou para o banheiro e provocou o meu vomito.
                Vocês devem estar pensando que nunca mais comi doce de coco. Negativo, mesmo esse tremendo mal estar, não me tirou a paixão por esse acepipe. E ainda ampliou-se para as balas quebra-queixo, para as balas de coco e para as cocadas.

                Nesse natal a família ficou sem o doce do coco, pois minha mãe se recusou a fazer novamente, e castigo era sua forma de educar, queria que eu sentisse vergonha quando os demais pedissem pelo doce. O que de fato ocorreu.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
PORTO ALEGRE,11 ABRIL 2016. 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

CARTA ENTRE AMIGAS
      No ano de 2012, no mês de junho, iniciamos entre amigas de Porto Alegre e do Rio de Janeiro a proposta de nos escrevermos cartas com temas estabelecidos. Essa foi a minha sobre medo e coragem:
      Bem gurias, penso que posso chama-las assim? Aqui no sul gurias, substitui o amigas, garotas, mulheres, medo e coragem, ula la la.  O primeiro medo que me vem à cabeça, e o do velho da saco, minha mãe tinha por habito nos assustar com o velho do saco. Na rua diante de um morador de rua, ela o nomeava como velho do saco. Esse era um medo terrorífico, mas fui salva pela famosa dupla do Pedro e Paulo, ou seja como eram chamados os soldados da Brigada Militar, que faziam a ronda ostensiva pelas ruas. Quando os via me sentia segura e podia transitar pelo bairro sem medo.
      Lembro da primeira vez que fui a aula de inglês sozinha, no centro de Porto Alegre, tinha apenas 11 anos, me enchi de coragem, mas morrendo de medo. Pegar o ônibus, descer na Salgado Filho, descer a Marechal Floriano.
      No ensino médio, eu estudei no turno da noite, e quando retornava para casa, nem sempre a mãe me buscava na parada, eu descia e saia correndo, três a quatro quadras que me levam para casa. O medo, não era de assaltos, de agressão de pessoas vivas, mas sim de vampiros, a luz da rua era amarelada, e fazia muitas sombras. Meu pescoço chegava em casa dolorido de tanto contrai-lo
      Meu primeiro dia de estágio de psicologia organizacional numa prisão de alta segurança, onde tive atendia um grupo de presos trabalhadores, la no fundo da galeria, naquele tempo, os servidores entravam nas galerias dos presídios do Estado. Quando la cheguei com o meu supervisor, aqueles homens como num filme italiano, feios, sujos e malvados, o medo foi grande. Porem aos poucos com a técnica, e com a escuta, e integrado com os seguranças da casa prisional fui podendo realizar o meu trabalho.
      Já aos 48 anos, numa viagem de trabalho  no aeroporto de Amsterdã sozinha, minha mala foi perdida. Que horror, ai o medo virou pavor. Mas um gaúcho apareceu para me salvar e ajudar-me na comunicação com aquela sueca, holandesa, sei lá a nacionalidade daquela moça. Meu inglês péssimo, putz. E quando sai dali e não encontrei quem viria me buscar, o coração era só batimento, parecia que ia saltar fora da boca. Quando vi a placa com o meu nome, me botei a beijar e abraçar a pessoa, que ficou apavorada. Essa é uma atitude bem latina. Por pouco não me processou por assedio.
      Outro dia na cidade de Lund, nesse mesmo mês, fiquei tempo demais no banho e perdi o grupo que saia para a janta. Respirei fundo e fui a um restaurante italiano, que era onde eu me garantia para fazer o pedido sozinha. Sai e fui a passo unas cinco quadras. Pasmem, pedi uma cerveja e aprendi que elas tem teor alcoólico diferentes, uma cerveja com 40% de teor alcoólico, a qual só constatei após sofrer os efeitos, voltei feliz e sorridente. As sombras das ruas me faziam pensar num filme bem antigo " O vampiro de Dusseldorf de Fritz Lang, mas ao contrário do medo me senti poderosa e feliz pois nessa época já tinha sofrido um processo de análise pessoal e havia espantado a maioria dos meus fantasmas, e meus medo agora eram de pessoas, segui firme até o hotel.
      Bem gurias, penso que a coragem vem do enfrentamento do medo, do autoconhecimento e do permitir-se viver. E que o medo desde que não nos paralise faz parte do cotidiano. Já na expectativa do novo tema.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
PORTO ALEGRE 16 JUNHO 2012


                 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A PRAÇA E O INICIO DE UMA VIDA

                No início da Rua Marechal Floriano, existia uma loja chamada Modas Princesas, e na Gen. Genuíno tinha uma confeitaria chamada Popular. Na primeira minha mãe trabalhava como costureira, e na segunda meu pai como confeiteiro. Ele amava ternos de linho, e ao meio dia, hora de seu intervalo, todo prosa, vestido de linho branco ficava na praça, por onde minha mãe com então seus 16 anos passava. Seus olhares se cruzaram e logo namoraram. Naquele tempo não tinha essa de namoro logo. E logo casaram.
                Sempre que passo por ali imagino os dois, mesmo que naquela época ainda não existisse nem em sonhos quem sabe. Os vejo ele com seus olhos lindos verdes, seu bigode e sua elegância. Minha mãe magra, de saia rodada. Ela não gostava de pintura, mas era bela ao natural, cabelos encrespados, como era a moda. Sentados conversando, quem sabe arriscando um beijo, ou talvez não minha mãe era muito recatada, e apesar de falante era tímido. E me pergunto o que será que produziu esse amor? Ele era nove anos mais velho que ela. Ele de Santa Catarina ela da Barra do Ribeiro.
                Meu pai um galanteador logo a fez suspirar de amor, porem durante quase toda a vida do casal poucos momentos os tenha visto de mãos dadas, trocando um beijo ou caricias. Eram um casal muito discretos, de pouca fala, pouca discussão. Ela era muito apaixonada por ele, ele as vezes não demonstrava isso, parecia um homem do mundo, mas no fundo não, era seu jeito de ser apenas. Nos últimos cinco ano de suas vidas ai sim reacendeu a chama do amor, quando chegávamos lá (na nossa antiga casa) estavam os dois em altos papos, tomando chimarrão como dois pombinhos. Desde que meu pai ficou na UTI, mexeu com os seus afetos.  Nos três, somos três irmãos, já não morávamos mais com eles a muito tempo. A mãe depois que saiu das modas Princesas, sempre trabalhou em casa como costureira, e ele trabalhava ainda pelas manhas na confeitaria que tinha com minha irmã. Ela se foi, assim não mais que de repente, como uma vela que se apaga. Teve um enfarte fulminante. Aliás quando mais conseguiu trabalhar, morreu. Aliás após a morte da mãe ele morreu um pouco.
                Mas voltando para a praça, ali tenho um sentimento de pertença, de início, de recomeço, de encanto e encantamento.  Passo muito pela praça, pois a confeitaria de minha irmã, fica próxima, mas nunca parei para lá me sentar, respirar fundo e deixar que essa memória filogenética volte.  Hoje a praça faz parte do roteiro dos Caminhos do Centro Histórico, tem dias da semana que ali ficam os antiquários a expor.  Tenho vontade de ali colocar as cinzas dos dois, pois imagina que ainda vivem por ali, passeando de mãos dadas, sentados nos bancos fazendo juras de amor. Mas isso e um outro capitulo.  
                Interessante que minha mãe contou essa história pouquíssimas vezes, mas me marcou de tal forma. Ainda quando pequena lembro de visitar meu pai na Confeitaria Popular, mas não tenho claro que ela ainda fosse ali na Genuíno. As vezes confundo com a Pacola, que ficava na Otavio Rocha e na qual ele também trabalhou. Aquele e um espaço da cidade que para mim ficou marcado com a possibilidade do amor, do romance. Passo por ali de forma segura, me sinto acolhida. Minha mãe e meu pai tinham muitos relatos de bons momentos vividos com amigos do trabalho naquele local, uma outra Porto Alegre.
Porto Alegre, 8 abril 2016

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Paineiras

            Mês de março, é o mês onde as paineiras florescem e deixam a cidade rósea. As paineiras povoaram a minha infância de dupla forma. Embaixo delas brincava de casinha, em suas raízes construí muitos castelos, muitos reinados. Embaixo delas muito chorei de medo, pois minha mãe, que tinha por habito me corrigir com palmadas, com cintadas, com varinhas de taquara, me ameaçava amarar numa paineira e lá me deixar.
            Eu, não me deixava vencer, vá que dia desses ela colocasse em pratica seu dito, me antecipava   e cortava todos os espinhos, com uma faca, tirava um a um. E próximo da minha casa tinha mais de uma paineira. Trabalho árduo e cotidiano.
            Com suas painas fazíamos acolchoados. Colhíamos as painas, tirávamos as sementes, colocávamos para secar ao sol, e depois minha mãe fazia uma capa, ou melhor duas, uma de forro. Tudo pronto costurávamos com agulhas gigantes, com pontoes, de um lado ao outro. Esse acolchoado era por mim muito apreciado, pois durantes os medos noturnos era nele que me abrigava, que fugia dos lobisomens, das bruxas, e pasmem do diabo. Minha mãe acreditava em bruxas, em mulas sem cabeça e historias não faltavam para nos apavorar. Só na vida adulta fui me dar conta que ela também tinha medo de todos esses fantasmas, e que os partilhava no sentido de doma-los. De dando luz aos mesmo, quem sabe eles não voltassem.
            E as flores das paineira, faziam um limo daqueles, escorradiu ficava o solo. Mas também eram boas para se fazer de comidinha nas brincadeiras de casinha. Do perfume não consigo me recordar. Mas o encanto pelo tronco forte, pelas raízes que formavam vários recantos, bons esconderijos para as brincadeiras de esconde e esconde. Ficava por ali horas e horas, algumas solitárias, outra com as amigas e amigos.
            Minha mãe tinha uma amiga que associava a gestação das mulheres em geral ao tempo de florescer das paineiras. A Moza dizia, assim era seu nome, março e agosto, mês das mulheres descobrirem-se gravidas, mês que as paineiras florescem. Se tem alguma ciência não sei, mas era algo próprio dela, de suas relações e de seu poder de observação.
            Hoje na rua que me conduz a casa plantaram um correr de paineiras.  E as lembranças que ficaram foram só as boas, as acalentadoras, as acolhedoras, e a saudade, uma saudade sem fim da minha mãe, que para além das palmadas me deu sentido e graça.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

PORTO ALEGRE 6 ABRIL 2016.


terça-feira, 5 de abril de 2016

Amanheceu
                               Amanheceu peguei a viola botei na sacola e fui viajar, plagiando Almir Sater, amanheceu vim para o computador e resolvi que era hora de escrever.  Morar no nono andar nos dá essa tranquilidade, poucos ruídos, acordo ao som dos pássaros, atualmente as caturritas tem sido as principais cantoras.
                               Dar asas à imaginação, dar corpo, cheiro e forma para esses pensamentos e sentimentos que me povoam.  Em Porto Alegre estamos vivendo um momento muito diferente, uma sensação muito grande de insegurança paira no ar. E olha que não sou pessoa de me assustar, ou de me impedir de sair, de ir a rua. O que se passa. Seria o governo do Estado e sua política de insegurança, que desde o seu primeiro dia, já apregoou que o Rio Grande do Sul está falido, e não fez nenhuma proposta.  Sim porque quando alguém se candidata para um cargo, e não faz o que necessita, o barco fica à deriva e é esse o sentimento, de um barco sem rumo, sem projetos. Sendo eu uma pessoa que trabalhou por bons trinta anos com o comportamento humano, com o comportamento humano violento, me sinto assim, imaginem o leigo. A sensação deve estar aumentada. E com isso as pessoas ficam vulneráveis. 
                               A cidade em si, que e competência do Prefeito, também ao caminharmos ou andarmos de carro, vemos o descaso, obras inacabadas, demoradas, menosprezando a inteligência do morador, do cidadão. Nosso símbolo histórico a ponte na Borges, está lá fonte de mosquitos, num tapume, sem que a comunidade saiba o que mesmo está sendo feito ali, que tipo de restauração será.
                               Mas vocês devem estar se perguntando, mas que falta de imaginação, ao amanhecer falar do governo, do prefeito, com tantas maravilhas para se dizer, se escrever e se falar. Penso que tenho que trocar com vocês desse sentimento, pois ao compartilharmos nos fortalecemos, nos damos conta que somos muito mais do que um governante, que mal governa, que a cidade é cada um de nós, e todos nos juntos. E que cada um de nós faz sim a diferença. E que não podemos nos deixar levar por essa sensação, e nos impedir de caminharmos nas ruas de nossa Porto Alegre, sim pois esse é um Porto alegre. 
                               Uma cidade com parques, com ruas lindas, com bons mercados, bons shoppings, bons teatros, bons cinemas, e que já tivemos as melhores escolas do pais. Hoje ula la, as escolas estão ai sem reparos, professores mal pagos, mal preparados, uma educação assim como o governador falida. Uma educação sem vida, sem colorido. Isso também nos traz o desalento, a falta de perspectivas. Uma educação sem música, sem artes, sem esportes, sem literatura.
                               E assim como a música tenho pensado muito em ir viajar, em sair desses pagos, com canta o Vitor Ramil. Mas sair seria a solução. O último que sair apague a luz. Vejo que ser criativo e muito difícil, pois as frases até aqui tem dono, e não sou eu. E os temas, nos são comuns. Vejo que o desafio está ai e está posto nessa Porto Alegre, que é sim uma boa cidade para morar e educar os netos.
Porto Alegre, 5 abril 2016

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

Quem eu sou

Sou uma mulher em busca de sua alma, que não é a alma gemea, mas a propria. Trabalhei por 28 anos no sistema prisional do Rio Grande do Sul, trabalhei na clinica ,sou psicologa, fui docente de psicologia criminal Trabalhei com paixão, fiz o que gostava, penso que fiz bem, marquei minha presença, e fiz algumas mudanças. Mas a vida e um espiral, e agora aposentada, nessa maturencencia( uma mistura de adolescencia tardia com maturidade, com tempo para escrever, ouvir musica, ir ao cinema, caminhar, ler, e particularmente curtir meus tres netos. E ser avo traz consigo o prazer de ler historias, de contar historias e de inventar brincadeiras.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

                                                               E o chão abriu-se aos seus pés

                Ouvimos tanto essa expressão e a pensamos sempre de uma forma metafórica. Outro dia indo para o supermercado, eu e meu neto mais velho, encontramos uma cena tragicômica. Meu vizinho, um homem de peso, entalado num buraco na rua. Ele vinha caminhando com seu cão, quando de repente o chão abriu-se aos seus pés. Literalmente assim como eu estou escrevendo ele foi sugado pelo chão. Pode crer? Caso não tivesse visto também não o acreditaria.
                Há três semanas choveu muito na cidade, muito além do esperado para a época. Quem olhasse para a rua antes do fato ocorrido nada indicava que abaixo daquele calçamento não havia nada a não ser o espaço vazio, o buraco. Ele, meu vizinho, pessoa polemica, gosta de certa notoriedade, e ficou ali, discursando, e um grupo de pessoas ao seu redor. Sua mãe com gelo na toalha para ele colocar na perna. Deve mais sorte que juízo, e o susto foi maior que o dano. Também não e todo o dia que somos sugados pela terra.
                Nossa rua é tranquila, arborizada, toda calçada, um fato surpreendente. Construímos casas, ruas, calçadas, e pensamos que tudo e para sempre. Que tudo e definitivo. E vem a natureza e nos dá um toque: ei, olha a vida ai!  é dinâmica é cíclica, é  um espiral. É Pensamos que por morarmos no mesmo endereço há mais de trinta anos passamos sempre na mesma rua.  Balela!  A rua é diferente a cada dia. E naquele dia meu vizinho teve a prova fatídica disso, e foi-se ao chão.  
                 O medo de alturas, de subir escadas, de subir montanhas, lombadas, nos persegue; o plano, o reto, nos parecem seguros, mas olha ai?  O chão abriu-se sobre os seus pés.  O fato é que somos mortais.
                Aqui em Porto Alegre, ano passado, próximo ao final do ano, um Juiz que caminhava todos os dias no Parque da Redenção, e retornava para casa sem parar resolveu num determinado dia cansado sentar-se num banco a sombra de um eucalipto. Não e que a arvore caiu. E pior ainda caiu sobre ele e o levou a morte.
                Meu vizinho está vivo, caminhando bem, só resta saber se ele entendeu a mensagem do universo. Não fui eu e nem um dos outros, mais de mil pessoas, que caminham por ali todo dia, que caíram no buraco. Foi ele, e por que ele?
                O buraco pasmem ainda está lá. A Prefeitura sinalizou, para outros não caíssem, mas o buraco esta lá para que possamos vê-lo. O melhor ainda para que o meu vizinho o aprecie bem e reflita. Eu refletiria.
Porto Alegre, 04 abril 2016

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
A LAGARTIXA MINHA INQUILINA
                Uma lagartixa branca mora no meu apartamento. Era noite, eu triste, pensativa na situação financeira a mim vivida pela política de governo implementada no momento, vou a cozinha e lá a vejo. Uma lagartixa branca, assustada, assim como eu. Eu com o novo momento, trabalhei muitos anos e agora dependo de uma única fonte de renda. Salario, mas querem me fazer pensar que e renda. Inclusive pago imposto de renda. Mas isso e outra conversa. Vamos voltar a minha nova parceira a lagartixa.  E muito bom tê-la como hospede.  Quando meus filhos eram pequenos havia outra lagartixa que por aqui morava, mas há muito tempo não vi outra pela casa.
                Lagartixas são símbolos de regeneração, de transformação, de transmutação.  Vem um tempo que tenho prestado atenção aos animais que aparecem no meu dia a dia. E fico pensando que não e por nada que ali estão postos.
                Antes de aposentar, todos os dias haviam dois beija flores que ficavam pousados no fio diante da parada de ônibus. Pousados, pasmem, nunca tinha visto beija flor parado e eles ali ficavam cantando. Meu ônibus vinha e lá ficavam eles.  Símbolo da liberdade, da beleza, da leveza do encanto.
                Agora já livre do trabalho cotidiano. Não me sentia uma prisioneira do trabalho, pois gostava por demais do que fazia, e fazia com gosto. Mas o trabalho implica uma rotina, uma construção, criatividade. E como meu trabalho era público, eu tinha um empregador, eu tinha regras a seguir; tinha horários pre estabelecidos.  E tudo tem um tempo certo, assim como o dia e a noite.
                A lagartixa penso eu me diz que e tempo de transmutação, de mudanças, de novos rumos. Que rumos, o que fazer? Qual e mesmo o meu dom. Até aqui vim tendo que dar conta do meu sustento e de minha família. Agora não mais. Claro meus sustente ainda está a meu cargo, mas o que e isso mesmo? O que eu preciso para viver? Como quero que minha vida seja?
                Tenho viajado, sozinha, com os netos, com amigas, conhecido novos lugares, novas pessoas, novas culturas. Tenho muita vontade morar em uma outra cidade. Cidade essa que não sei ainda qual e. Amei Portugal, amei demais. Penso em morar lá, em Aveiro, em Lisboa, no Porto, em Tomar. Adorei o Espirito Santo, Guarapari, beira da praia, povo acolhedor.  Minas gerais nem se fala, eta povo querido, eta cidades lindas.  São Paulo que parecia assustador, tem como se locomover e ir desbravando cada museu, cada bairro. Florianópolis nem se fala, e linda demais.  Feliz que até aqui consegui não falar na gastronomia desses lugares. Todas maravilhosas.  Amei cada prato, cada sabor, cada cheiro, cada tempero diferente.
                Tenho tentado buscar minha espiritualidade, o que a cada dia parece mais um enigma. Tenho trilhado por caminhos nunca antes me permitidos, digo isso por mim mesma. Estou amando esse percurso, as descobertas. Sinto que estou mais leve, mais amorosa, mais ouvinte.
                Então minha amiga lagartixa…que caminho e esse? Que mudanças tenho eu que implementar, que desapegos mais tenho que fazer?

PORTO ALEGRE, 25 SETEMBRO 2016.
Andorinhas no amanhecer
Hoje acordei com o canto das andorinhas na minha janela. Moro no nono andar de um edifício próximo ao estuário do Guaíba. Dia de primavera, brisa fresca, sol nascendo. E elas ali numa conversa só, em minha janela.  Eu fiquei ali no quentinho de minhas cobertas, escutando, inerte parada, para que não as espantassem.
Andorinhas nos avisam se vem chuva ou não, se  o verão esta chegando.  Para esse ainda muito cedo, mas a chuva essa sim, parece que bem próximo. Elas são leves, penas negras, algumas brancas, são delicadas, voam com magicas.
Elas ficam ali enfileiradas, cantam e eu as escuto. Minha neta mais jovem também já tomou gosto pelo seu canto e quando elas não vem ela estranha. Penso que a vida é isso, essa continuidade, e compartilhar gostos, esse convívio pequeno e minúsculo do cotidiano.
Porto Alegre, 25 fevereiro 2016
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES


Um beija flor canta para mim 
Todo dia pela manhã, na parada de ônibus, fico ali ouvindo um beija flor, parado no fio, ele canta. Primeiro nunca tinha escutado o canto do beija flor, e nunca o tinha visto parado. Os beija-flores para mim eram pássaros ágeis, rápidos e sempre bicando flores. Ele está lá, dia após dia, e sempre no mesmo horário. Mesmo horário, penso que não é bem assim, pois tem dias que saio meia hora antes, meia hora depois, e ele lá no fio. Canta para mim?
Falei para o meu neto de 9 anos sobre isso. Ele dize: vó vai ver ele está morto? Sorri, e expliquei que não que ele tem movimento, tem som, e tem uma sequência de ação. Ele canta um tempo no fio da luz, olha para um lado, olha para o outro e voa em direção a uma arvore no pátio do edifício onde moro.
Esperar o ônibus e algo que muito me angustia, a demora, a perda de tempo. Ouvir o beija flor, me acalma, me resigna. Espero esse ônibus especificamente também, pois gosto de pela manhã ver o rio. Ele tem um percurso mais longo para o trabalho, mas me permite ver arvores, e particularmente o rio. Rio Guaíba, em dias mais calmos, em dias mais cheio, suas aguas ora limpas ora não turvas. Ir para o trabalho tendo a visão do rio, me energiza. Trabalho na prisão, ouvindo mulheres que em determinados momentos de sua vida cometeram crimes. Escuta cotidiana, criativa e dinâmica. Estar ali representa uma porta, uma passagem, uma ou mais possibilidade dessas mulheres e com elas eu também me resignificar
Nesse espetáculo matinal, não só o beija flor está presente. Existe um casal de João de barro que cantam e dançam. Eles estão construindo sua casinha- ninho em cima de um poste em frente a parada. Isso já vem há mais de seis meses. Ele ou ela não saberia precisar, canta lá no alto quando está só, abre as asas e roda. Eu imagino que ele chama por ela, ou vice e versa. Demora mas logo ele ou ela chega, cantam um para outro, o dialogo se estabelece, o barro e colocado no ninho, e esse vem crescendo. Dias de chuva não os vejo por ali.  Não os vejo porque não estão? Não os vejo porque a chuva me deixa introspectiva? Não os vejo porque a sombrinha faz uma barreira?  O ninho cresce.
Eu não gosto de esperar o ônibus, que demora muito. Gosto dessa sinfonia matinal, ora do beija flor, ora do Joao de barro, ora do sabia, e atualmente das caturritas. Caturritas essas que invadiram a cidade, que fazem seus ninhos em arvores altas, que buscam alimentos, grãos, frutinhas, disputando com os demais pássaros que já andavam por aqui. Não tenho visto pardais e nem pombos.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
Porto alegre 20 setembro 2014



Uma estrela ao meu lado

 Viajar de avião é isso.  É ter as estrelas ao seu lado. E como se nos ali, agora pássaros, pássaros gigantes, em momento de contemplação, vivendo entre as estrelas e as nuvens. Hum, tem mais, quem está ai toda bela? Sim, a lua cheia, garbosa, nos trazendo a luz, a claridade e o que é melhor de tudo, o amor. O amor do pássaro pela estrela, da estrela pelas nuvens, e as nuvens, sim elas amam os pássaros... Então em dias de primavera, a brisa, a quem ama? A brisa traz consigo o perfume de todas as flores da terra, o cheiro imperdível da própria terra e das florestas.
                Eu, lá estou eu, nesse universo de puro amor, eu, eu sim, é aí, a quem devo amar? ...só as estrelas dirão. E o meu coração, ou seria "mio cuore ", vindo da Itália ávido por esse momento.......escuta.... " ascolta". Não só escuta mas dança, dança primeiro ao som da brisa suave …e vai rodando e rodando…e à medida que ouve, ouve entre as árvores das florestas…está pleno…cheio de amor para dar e receber. Roda, roda, baila…as estrelas felizes com o movimento…se associam. Ah o amor, o amor, tão belo é tão mágico. Ele vem com o vento, ele penetra em cada uma de nossas células. E nós toma, nos possui, nos obscurece e ilumina. Somos um grande pulsar com o universo de tanta consonância.
                Amigos aqui estou eu assim, com esse sentimento, sentimento daqueles que como eu ,saem no rabo do cometa em busca de seus sonhos. Mãe gratidão pura, lembro de tuas palavras: vais realizar os teus sonhos.  Fui a Itália, ........Fontana do Trevi.....eu ali...como nos filmes  da minha  adolescência. Leila e eu caminhando pela João Pessoa, rua sim, rua de Porto Alegre, depois do filme nos programando para passear por Roma. Ela amava o Pantheon. É o David, o que expressar de tão perfeito. E Netuno "ah esse fiquei tentada a me jogar em seus fortes braços…Boh! Como fazem os italianos descobri algo muito inédito, de onde vem o meu gosto por bundas masculinas. Horrorizou, caro amigo, amo bundas curvas, proeminente, são belas, e quem já as retratava.....esse povo romano.. Mas em Roma não só as estátuas. Os prédios as chiese são belas mas as pessoas ,e sim os homens hummmmm  maravilhosos, preciosos. Le donne são elegantes, charmosas. O homem romano é um homem inovador no vestir-se.
                Lucia (a que fez o meu mapa astral) viu nos astros que o meu amor de outono está no velho mundo. Fui, vivi e não o encontrei, não sei se estava distraída aprendendo a língua. A se tivesse escutado o Calligula..é feito da língua um outro uso ? Sim pois a Itália transpira amor e encontro, romance. O amor de outono tranquilo, macio, falante e ouvinte, caminhante, e acompanhado, um amor de alma, de coração. Os primeiros amores particularmente o de verão era corpo, era carne. O da primavera uma mescla tempo, tempo. Sonhos novos…sonhos antigos…entrega e confia. Pura gratidão.
                Sim Toscana, é  como  falar do filme. Dentre tantos outros que assisti me imaginando naquelas ruas, naquela ponte "sob o sol de Toscana". Sabe, vou contar um segredo, o segredo de estar inserido, de fazer parte do universo. Tivemos na Itália um outono sem chuva, para não dizer que não choveu, choveu em Verona, a terra do Romeu e da Julieta. E o que chuva fria de mãos dada com o vento veio ali nos ensinar. Lavar as mágoas, os amores antigos?  E a altíssima neve, branca pintando os morros, nos gelando e nos aquecendo, nos fazendo sentir fortes e vivos. Encanto, assim, que eu estou encantada, com a natureza, com a arte e a cultura italiana.

                Veneza...dia de sol, de caminhar pelas vias, pelos canais. A praça de São Marcos, choro compulsivo. Andar de gôndola. Ver " il tramonto del sole, a  Ponte dos Suspiros. E eu trabalhei a vida toda nos presídios do meu país ouvindo e acolhendo os suspiros. Veneto a região da qual veio o meu bisnono. O que o fez com sua moglie  irem para o Brasil? Eu fazendo conexões.
                O monastério de Santa Catarina, santa que minha mãe era devota. Tudo a ver com a minha mãe é meu avô paterno, Luís Andriotti. Ele um conhecedor do poder das ervas, ela uma costureira, o gosto pelo cultivo dos chás pela costura, Ora e Lavora, e a indicação de San Beneteto ,que as irmãs seguem à risca ,e minha mãe , e meu avô também.
                Retorno, com gosto de quero mais, muitas descobertas, muitos reencontros, muitos fechamentos e muitas aberturas para um novo início. Agora sim apta e pronta para o amor.
Porto Alegre
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
(texto escrito no avião ao retornor doppo 30 dias na Italia)
               






Qual e a sua estrada?
A minha estrada leva a muitos caminhos. Caminhos curvos. Com vales verdes, caminhos retos com flores perfumadas. Leva principalmente para o meu amor. Que em cada canto do mundo tem um rosto, uma fala um jeito meigo de ser.
O que eu mais gosto, da estrada curva é que as paisagens porque percorro são belas.  E cada uma tem uma história, cada chaminé que sai fumaça, me faz pensar no humano que lá vive, e em seu cotidiano completamente sempre igual, suas plantações me falam de dedicação e de paixão. O cheiro da terra arada e preparada para receber as sementes, me lembra a minha tesão e o meu desejo de chegar, de beijar de abraçar, de ser penetrada por esse homem que me espera.
Na estrada reta, são os perfumes de acácia de eucalipto e de marcela. São colunas de arvores, uma após a outra, cheias de mistérios. Lembro-me dos escaravelhos a comerem folhas e galhos, verdes, grandes e bonitos, porem destruidores dessas matas.
E volto a pensar na chegada, no cheiro másculo que me aguarda, paladar amargo do beijo, nas curvas de seu traseiro e da retidão de sua frente tão forte e tão potente.
Ah ia esquecendo que na minha estrada tem som. Som dos ventos dos pássaros, das folhas, dos insetos do Enigma, senão de um clássico qualquer.
Bem chegamos, e ele me espera
Porto Alegre 25 Outubro 1995.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

(Com esse texto concorri a uma viagem para a Rota 66 nos EUA. Fiquei entre os 1500 colocados, em 1995)

Tem um gato na minha porta
Toda manhã saio para caminhar. Hoje pasmem, ao abrir a porta, minha vizinha conversa com um gato amarelo apavorado.  Não e meu, penso ser do outro vizinho. O gato está com medo, eu também, quando me aproximo ele fica de pelos em pé, eu recuo. Não entro no elevador, vou de escadas. Aviso o zelador e lá fica o gato. Chego e ele ainda está lá. Já avisaram seu dono que o esqueceu fora de casa, e agora o conflito, esperar ou subir. Subo, eu e uma vizinha. Ela mora do outro lado, não tem problema, mas eu tenho que enfrentar o gato. Ele de novo se enfeza todo e eu corro para minha porta, nisso a vizinha novamente abre a porta e fala com ele, já deu agua para o mesmo, mas ele está apavorado. Eu entro.
 Ah os gatos! Outro dia estava totalmente feliz, pois na casa da sogra de meu filho, no interior do Estado, o gato branco dela, sentou-se no meu colo e lá ficou aboletado, tranquilo. Eu também sem medo, pois sempre os gatos me deram muito pavor. Pavor essa e a palavra exata para o medo que sentia desses felinos. Ficamos ali, eu tomando mate, minha neta fazendo carinho nele, e ele ali deitado no meu colo. Até pousou para foto. Então eu pensei: venci esse medo. Os gatos são confiáveis.  Hoje um retrocesso. Ou não, prudência, porque me expor se o gato e do vizinho e ele que descuidou de seu animal de estimação. Não nos conhecemos eu e esse gato ai.  Fiz bem entrar e deixar que outros resolvam.
Porto Alegre, 21 janeiro 2016.

Magaly Andriotti Fernandes


Tem um gato no meu jardim
Veja bem, eu que morria de medo de gatos, agora os vejo por todos os espaços. Chegando da caminhada , quem encontro? Sim esse bichano ai aninhado na arvore, tranquilo , descansando. E eu agora tendo que viver assim entre gatos. Ou na minha porta, como ja escrevi, ou no patio. Esse e apenas um deles, pois tem outros tres gatos pretos, sem dono. Existe um grupo de vizinhas defensoras, dos gatos que os cuidam.
Cuidam dizem elas, pois será que isso e cuidar de um animal? sera que os gatos vivem so de alimento? eles não requerem vacinas, carinho, aconchego?
Minha professora de papel marche, sim faço aulas de papel marche. Ela e apaixonada por gatos, tem tres em sua casa, mas essa efetivamente os cuida. E ai eu me pergunto e lugar de gato e em casa. Eles efetivamente sao animais domesticos?
Mas essa imagem desse gato , ou gata , nao sei como ver o genero dos gatos. Diz minha neta de nove anos que o sabemos pelo numero de cores que eles tem no pelo...olhe la. Mas esse que ai esta independente de seu genero. E gato tem genero? Esse me traz a lembrança do bem estar do meu jardim, da maravilha que e ficar assim sentado na arvore, aboletado, espreguiçado, aconchegado nos galhos. 
Porto Alegre 29 março 2016.

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e... :  "As cinco direções de um corpo" é o novo ...