quarta-feira, 14 de março de 2018

RISCO E RABISCO: OS RATOSMagaly Andriotti FernandesDomingo fuiass...

RISCO E RABISCO:
OS RATOSMagaly Andriotti Fernandes
Domingo fuiass...
: OS RATOS Magaly Andriotti Fernandes Domingo fui assistir um filme no museu próximo a minha casa. Nesse mês o museu está promovendo...

OS RATOS
Magaly Andriotti Fernandes

Domingo fui assistir um filme no museu próximo a minha casa. Nesse mês o museu está promovendo cinema e debate. Fica à beira do rio. Foi construído para que de suas janelas nos mostrem a cidade com uma obra de arte. Ali fiquei, segura, por bons momentos. Amo minha cidade.  Amo e tenho medo. Dentro dos lugares não chego a ter medo. Quando penso nisso me vem a lembrança do homem que entrou no cinema e saiu atirando. Credo! Nem a imagem linda de um dia de sol à beira do Guaíba me faz esquecer as macelas da sociedade.
O filme, de David Lynch, Mulholland Drive, fala de uma personagem que manda matar sua amada por ódio, por disputa, e sente remorso, sente medo e sonha, melhor tem pesadelos horríveis. O filme não deixa claro quando é sonho ou quando é realidade. A pessoa que inicia o debate nos faz centrarmos na realidade. Lembro que tem jogo no estádio próximo. Um jogo importante. O motorista do taxi que me trouxe avisou que vai haver um arrastão. Entro em emergência, saio, não termino de escutar o debate que estou gostando. Na rua final de tarde um pôr do sol magnifico. Penso em ficar por ali, sentar e sentir. Não posso, agora sou um rato, assustado. Na minha cidade tem gente que mata, que degola, por nada, por poucos trocados.
Respiro fundo para ver se o medo foge, que nada sou um rato, olho para todos os lados, ligo para um amigo que me avisa que o jogo está quase terminando. Corro, chamo o carro que vai me levar para a minha torre. Lá no nono andar onde moro me sinto segura. Lá penduro minha roupa de rato na porta, ao lado de fora.
Caso ligue o rádio pela manhã, a primeira notícia é de morte, assalto e furto. Senão ligo e desço para caminhar, tem um grupo de vizinhas que fica sentada tomando chimarrão, que são as verdadeiras caturritas do apocalipse. – Cuidado, caminha aqui dentro, não vai para a rua. Disparam várias histórias de pessoas que foram assaltadas nas proximidades. O rato ainda dorme. Caminho assim mesmo, oro para o meu anjo da guarda e sigo. Ele, o rato, já acordando, olho para todos os lados, ao menor barulho pulo, salto, meu coração dispara. Isso lá é vida. Morar na capital do Estado me transformou num rato. Um rato assustado e apavorado.

domingo, 11 de março de 2018

RISCO E RABISCO:                                            Abacate...

RISCO E RABISCO:                                            Abacate...:                                             Abacateiro Magaly Andriotti Fernandes Na casa onde tinha meu consultório, existia um gran...


                                           Abacateiro
Magaly Andriotti Fernandes
Na casa, onde tinha meu consultório, existia um grande abacateiro.  Lembro que quando retornava das férias em março, o chão ficava cheio de abacates maduros. E os sabias faziam aquela festa. Comiam todinhos deixando apenas as cascas limpinhas, bonito de ver.
Abacateiro, onde está seu abacate diz a música do Gilberto Gil, Refazenda, que eu adoro. E pasmem, não é muito simples no pomar termos essas frutas: apesar de serem hermafroditas –flores masculinas e femininas na mesma inflorescência – as variedades de abacate apresentam comportamento distintos quanto ao período do dia no qual ocorre abertura das flores. Algumas cultivares abrem as flores femininas pela manhã e as masculinas a tarde, enquanto outras apresentam comportamento inverso. Assim no pomar, se almejamos frutas, é preciso que plantemos os dois tipos de planta para garantir a fecundação das flores. E a música continua... “abacateiro saiba que na refazenda tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar”.
Ali onde trabalhava existia apenas um pé, mas nas vizinhanças possivelmente devia existir outro tipo de abacateiro. Os abacates eram grandes e suculentos. Quando os sábias deixavam alguns para nos. Alias para isso colhíamos antes de caírem ao chão, antes mesmo de amadurecerem, e esperávamos o resto do processo de maturescência para saboreá-los.  A magia da polinização. As flores necessitam estarem abertas no mesmo período do dia para que surja o fruto.  Fiquei surpresa e admirada com essa descoberta, a natureza é sabia. E passei a gostar mais ainda dos abacates.
Uma fruta tão rica em vitaminas, de um verde tão encantador. Eu não tinha observado que o abacateiro dava flores. E que tinham flores que abrem pela manhã, outras a tarde. E que existem flores femininas e outras masculinas. Vivemos e não nos inteiramos da riqueza do amor que está na nossa proximidade. Bem ali, no pátio, do lugar onde eu, procurava ajudar as pessoas a se encontrarem. Quem sabe em quantas casas as flores estão assim desencontradas. A resposta está ali e não a vemos. Todos os anos o mesmo fenômeno, o abacateiro floresce, suas flores são polinizadas, nós comemos suas frutas.


sexta-feira, 9 de março de 2018

RISCO E RABISCO: Perfumedas cidadesMagaly AndriottiFernandesTenho ...

RISCO E RABISCO:
Perfumedas cidadesMagaly AndriottiFernandesTenho ...
: Perfume das cidades Magaly Andriotti Fernandes Tenho caminhado todo dia pela manhã. Passo por uma rua em que as flores da dama da no...

Perfume das cidades
Magaly Andriotti Fernandes
Tenho caminhado todo dia pela manhã. Passo por uma rua em que as flores da dama da noite estão muito perfumadas. Elas são miúdas brancas e muito aromáticas. Respiro fundo e fico um tempo parada. Viajo no tempo e no espaço, me vejo em Roma, lá também, quando conheci, era primavera e os jasmins poetas estavam florindo. Aquele perfume lembrava minha avó materna e minha infância, me sentia no seu colo e acariciada.
Fiquei pensando, minha cidade é tão atrativa quanto Roma. Você deve pensar – ela está doida. Não estou não, os perfumes nos trazem muitas memorias. Roma é singular, assim como Porto Alegre. Ambas tem histórias distintas. Roma muito mais antiga, respira arte e cultura. Tem pessoas de todo o mundo circulando pelas ruas. Porto Alegre, já por muito tempo teve andando por suas ruas turistas de todo o mundo. Agora vive um triste momento, de atiramento, de esquecimento, e de desorganização. Porém seus perfumes, nos fazem lembrar os melhores momentos que aqui vivemos. E ainda por suas ruas existem muitas flores, e muitos jardineiros dedicados.  No meu bairro existem pitangueiras, goiabas que agora nos pés espalham seu perfume por todo o caminho.
Conheci uma cidade chamada Spello, que fica na Itália, próximo a Assis, que tem um concurso anual de quem melhor decorar suas sacadas com flores. Independente da época que se visita, essa cidade medieval é toda florida. Flores de muitas espécies, de cores e perfumes intensos. É como estar no Paraíso; andar por suas ruas. E pasmem, eles fazem gelatos de flores e frutas. Eu me deliciei com o sorvete de rosas. Momento ímpar, minha alma foi ao nirvana. Ao chegar ao topo de Spello o perfume dos limoeiros, dos limões Sicilianos e surpreendente. As vezes que ali estive, descer e retornar o passeio foi algo muito difícil. A vista associada ao aroma, nos faz transcender, sentirmos com se estivemos nas nuvens.
Outra vez na Bahia, o cheiro do caju nos pés, inesquecível. No Rio de Janeiro as jacas maduras nos pés, cheiro enjoativo, mas próprio da Estrada Velha da Tijuca. Fico sempre imaginando uma jaca caindo, elas são imensas. Ainda bem que naquelas vias poucos caminham. Em Campo Grande, com minha tia e primas apreciamos o perfume dos tamarindos. O aroma do mar, caminhando por Campeche –SC.
Onde nasci e me criei, as paineiras, as pereiras, os ora-pro-nobis, as flores das laranjeiras faziam a festa.
Penso será que todos sentem esses perfumes? Eu sou puro olfato. E onde tem flores, tem borboletas, abelhas e pássaros.  Amo Roma e amo Porto Alegre com seus perfumes característicos.
Porto Alegre, 09 março 2018.



Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

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