quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

RISCO E RABISCO:                              FINAL DE ANOHá cinqu...

RISCO E RABISCO:
                             FINAL DE ANOHá cinqu...
:                              FINAL DE ANO Há cinquenta e oito anos é assim chega o final de ano e bate aquela depressão. Mil pergunta...



                             FINAL DE ANO

Há cinquenta e oito anos é assim chega o final de ano e bate aquela depressão. Mil perguntas retornam a minha mente. Que fiz, o que não fiz, meus amigos, meus familiares? Momento ímpar de se fazer uma reavaliação. Uma coisa meio babaca não acham? A vida, diariamente é um eterno recomeçar, porém consensuamos a vida em dias, meses e anos. E eu aqui a pensar que esse ano não dancei como estava nos meus planos, não cantei, não ingressei num coral, não iniciei nenhuma nova atividade profissional.
 Viajei muito, fui para a Itália por setenta dias como havia programado. Seriam noventa dias, na hora de marcar veio aquele medo, aquela angustia de não conseguir ficar tanto tempo longe da família e amigos. Setenta dias mágicos, a cada dia um novo lugar, uma nova aprendizagem. Fiz muitos amigos pelo mundo, Finlândia, Japão, Alemanha, Espanha, México e em outros Estados do Brasil. Aprender a falar outra língua faz com que nosso cérebro funcione melhor. Aprender outra língua e a cultura de um pais nos dá a sensação de verdadeiro voo. A Itália é um pais rico em história e arte. Na medida que passas a te comunicar na língua nativa, a recepção é acolhedora. Eu, uma descendente de italiano, me sinto em casa. Uma oportunidade de viver como se meus bisavós ali estivessem. Resgatar a história de si, da família e dos povos, modifica o amanhã, assim eu sinto.
Dois mil e dezessete foi um ano tranquilo até a metade. No segundo semestre fiz cirurgia, algo que deveria ter repensado, agora fiz.  Meu corpo tem sido esquecido nesse percurso. Me alimento pelo prazer esquecendo o alimento vai compor minha escultura corporal. E tenho ganhado uma grande dimensão. Meu fígado está agora em sofrimento, por excessos gastronômicos, por sentimentos ressentidos, por palavras não ditas, outras quem sabe engolidas. Não posso acreditar que eu, uma falante, guardei palavras. Sim as guardei, tão bem guardadas que foram lá esconderem-se no meu fígado. Pode isso? Vocês devem estar pensando essa mulher é doida. E sou, podem ter certeza. Lendo a medicina chinesa sobre gordura no fígado, descobri uma série de informações importantes sobre mim mesma e meus hábitos alimentares e de vida. E agora, borra mudar! Humm assim fosse tão simples. É simples sim, eu que sou uma complicadora; outra coisa, se faz necessário um proposito, uma meta.
Esse ano, um ano muito peculiar completei cinquenta e oito anos. Sempre há dois anos para fechar uma década, uma crise. Uma crise intensa, já não sei mais o que vim fazer nesse planeta, qual a minha missão, amores etc.
Há um ano iniciei uma oficina de escrita, pensando em aprender a colocar no papel memorias e fantasias. Sempre gostei de escrever, e aprender a fazer crônicas e contos me atrai.  O tear também me tomou bastante esse ano, tecer o seu próprio tecido, uma atividade meditativa.  Com a escrita vem a leitura. Esse ano dediquei-me a ler, a escutar escritores ou em vídeo ou em palestras.  Fiz uma imersão na feira do livro em Porto Alegre de forma bem efetiva.
Ano passado aprendi a costurar, ainda de forma singela, costuras retas. Esse é mais um desafio a que me proponho.
Minha profissão mesmo a psicologia, ficou ali quieta. Depois que parei de trabalhar na prisão, não mais a exerci. Tenho pensado em retomar a clínica, outra orientação teórica, mas parece que esse desejo fica cada vez mais distante.
Minha família cada vez toma menos o meu tempo. Meus netos estão indo para a adolescência.  A pequena é bem independente, e agora esperamos o quarto neto. A vida é um eterno recomeçar. A cada neto uma nova vivência. Os filhos já na vida com suas famílias constituídas seguem seus próprios rumos.  Esse ano dei continuidade ao resgate da família de origem através de minhas primas, mas não o fiz com muita persistência.  Não somos uma família grande. Com a morte do meu avó, ainda na minha adolescência, não mantivemos vínculos sistemáticos. Cada tia, tio foi para um lado. Não crescemos tendo encontros de finais de ano, como era o habito do meu avô.
Os amigos esse foi um ano que deixei para trás pessoas que não me faziam bem, que já se passava uns cinco anos que deveria ter tomado a decisão, e vim arrastando. Esse foi o ano do basta. Ano de conhecer novas pessoas, de me ver de forma diferente, de me abrir para o mundo. Ano de ir ao cinema, ao teatro, de caminhar pelas ruas observando a arquitetura, o movimentos das pessoas, a moda. A amizade é de extrema importância em todas as fases da vida, e nessa pois é como uma família que se pode escolher. Vejo que tenho amigos muito diferentes de mim, e amigos muito diferentes uns dos outros. Essa diversidade é que demonstra a riqueza de nossos sentimentos e emoções.
Esse ano que se encerra é ano de muita gratidão, pela família que tenho, pela que constitui, pelos amigos que cultivei, pelos que deixei pelo caminho, pelos trabalhos realizados, pelo amor, e até mesmo pelas boas brigas acontecidas.

Que venha 2018, já me sinto preparada para ele, ou não? Sinto sim, dar continuidade a leitura, a escrita, a tecelagem e outras artes manuais que aprenderei. Curtir meus netos, cada um na sua singularidade, aprender a viver com os filhos adultos e suas filosofias de vida; ampliar meu círculo de amizades. Quem sabe lançar um livro?  Quem sabe iniciar a dança cotidiana e o canto? Quem sabe trabalhar literatura com crianças e ou adolescentes? E deixar também um espaço para o novo...para desenvolver a espiritualidade.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

RISCO E RABISCO:                                                   ...

RISCO E RABISCO:                                                   ...:                                                      Medo de aranha                                                                    ...

                                                     Medo de aranha

                                                                                       Magaly Andriotti Fernandes
                Essa semana fiquei com minhas netas. Elas moram numa agroflorestal, o que representa um convívio entre homem-natureza intenso e em consonância. Sempre gostei da vida no campo, na floresta. Gosto esse com limites, respeito a natureza, procuro conhece-la, observa-la. Amo pássaros, cores, voo diversos, estilos de vida. Tenho pensado em entrar num grupo de observadores de pássaros.  Tem gralhas, que vem em busca de um habitat para sobrevivência, tucanos, beija-flores, canários e muitos outros.
A flora  lá é linda, muitas palmeiras, abacateiros, bergamoteiras, arvores frutíferas vivendo entre arvores nativas. Dizem que nos cânions existe o leão baio típico dessa região, mas ninguém o vê. Insetos são numa quantidade inumerável. As cinco hora da tarde devemos fechar toda casa para que os mosquitos não a invadam. Eles são em número assustador. Os sapos, esses adoram vir esconder-se dentro de casa. Há uma perereca que vive no banheiro do segundo piso. Outro dia me deu o maior susto, ainda bem que não sentei no vaso, sem antes puxar a descarga, pois la estava ela.  Viu aquela agua, e era natural viver assim na agua. Sabia ela que os humanos fazem daquele lugar suas necessidades. No térreo, minha neta, já batizou o sapo que la vive, de dinossauro. Ele, o nome já diz o quão grande  é, e todo enrugado. Eu amo sapos, desde minha primeira infância, ia em busca dos mesmo. Cheguei a abrir um para saber como funcionava. Eles não me assustam. Na cozinha próximo ao fogão outra perereca, essa marrom que adoro coaxar enquanto se cozinha. E os sapos são predadores dos insetos. Assim como as lagartixas.
Outro dia, me contaram as meninas, entrou uma jararaca. Meu filho não sossegou até coloca-la para fora. Ele diferente de mim, não tem medo, a tirou viva, devolveu para a floresta. Uma aranha caranguejeira no banheiro do quarto do casal. Também, meu filho pegou com luva e a jogou para o mato.
Um dia eu quem sabe chego lá. Aranhas sempre as tive muito distantes. Quando pequena também morava bem próximo ao mato. Minha mãe as temia; eu mais ainda. Tenho verdadeiro temor desse animal.
Depois de muitos anos de analise, já não entro em pavor diante das aranhas, mas chegar a pegar uma quando as encontro na casa, mesmo que com luva e jogar fora. Ah isso não, nem pensar. É muita intimidade para minha cabeça e mãos.
Estávamos as três prontas para dormir, li O menino e o pardal de Daniel Mundurucu. Minha neta mais velha viu uma aranha, daquelas com pernas longas, que tem por todos os lados  e a matou. Ela estava bem ao lado da cama da pequena.
Íamos iniciar a leitura do livro sobre aranhas do francês Laurent Cardon, que amamos. Ele é apenas desenhado e conta a história da mamãe aranha ensinando a filha a fazer teias e a comer insetos. Olho na parede, nas costas da neta mais velha uma aranha enorme. Enorme, um bicho horrível, pequei o livro e me dirigi para matá-la, junto comigo minha neta pequena. Eu fui afasta-la, com medo da reação da aranha, e nisso a aranha desaparece. As gurias a viram saltar, eu não vi. Como dormir num quarto com aquela aranha. Nos mudamos para o quarto dos pais delas. Elas As crianças dormiram logo, e eu fiquei a noite toda entre acordar e dormir. Acendia a lanterna e olhava ao redor, para ver se a aranha não nos tinha perseguido, e também não querendo acordá-las.
Todos meus medos infantis ali de novo. Acordava assustada a sentindo nos meus cabelos. As meninas estavam a salvo na cama dos pais.
Pela manhã, meu primeiro ato foi pegar o aspirador, e aspirar todo o quarto das meninas. Nos encontramos lá eu e a aranha. Ela grande do jeito que era, fugia do aspirador. Me muni do chinelo, mas isso representava uma proximidade por demais suportável. Acertei com o aspirador suas pernas. Ah...ficou sem pernas, eu feliz. Uma parte dela agora já extraída. Não me bastava, aspirei o corpo, e trancou a máquina. Meu instinto assassino veio a tona, busquei uma faca e a enviei para dentro do aspirador. Assim tinha certeza que ela estaria bem morta. Sim não bastava estar morta, tinha que estar bem morta. Alivio total, agora eu era novamente livre para transitar pelo espaço.

Depois sentei, com a cuia de chimarrão e fiquei meditando. Isso não tinha nenhuma lógica, olha o meu tamanho, milhares de vez maior que o da aranha. A luva estava ali na escada, o que me impedia de pega-la e devolve-la para a natureza. O meu medo, um medo ancestral; antes pavor, hoje já proativo. Uma reação de destruição ainda. Nós duas não podíamos viver na mesma casa. Era eu ou ela. Eu venci. Um dia conseguirei viver com elas, cada um no seu habitat.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017




                                       DEPOIS DA FEIRA DO LIVRO - Os ecos do evento


                          Já sou uma apaixonada por Porto Alegre. Ter passado a tarde na feira do livro, ouvindo autores falando da arquitetura na ficção, sobre livros de terror que se tornaram filmes, vantagens e criticas. Ouvir dois autores nordicos que escrevem juntos. E que para conseguir administrar os conflitos que surgiram dessa prática, e que não eram poucos, tiveram que buscar uma terapeuta, e criar um personagem que hoje assina a produção da dupla. Retornar para casa, tendo esse por de sol no Guaiba, essa cor vermelha, é o paraíso.
                           Participava do desafio literário, mas meu poetrix, me colocou fora do pareo. Sem problema , próximo ano enfretaremos o novo. O importante foi ter aceitado o desafio de escrever um estilo nunca antes tentado. Encontrar e conhecer novas pessoas.
                            Ir a feira do livro sempre foi uma rotina na minha vida. Esse ano esta sendo bem atípico, pois me tornei uma rata da feira. Quase todos os dia estou por lá, escolho de duas a tres palestras para participar, já adquiri uns dez livros dos quais já li tres, pura magia.

                           

RISCO E RABISCO: BEIJA- FLOR-Eu sou um dos mais belos beija- flor...

RISCO E RABISCO: BEIJA- FLOR

-Eu sou um dos mais belos beija- flor...
: BEIJA- FLOR -Eu sou um dos mais belos beija- flores que andam voando por ai. Sou um beija-flor de calda longa. estou aqui paradinho, p...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

RISCO E RABISCO: Ser avó                  Cada dia,dos  ultimos do...

RISCO E RABISCO: Ser avó
                  Cada dia,dos  ultimos do...
: Ser avó                   Cada dia,dos  ultimos doze anos,  como avó,tem sido recheado de surpresas. Meu primeiro neto, adora ciência...



Ser avó


                  Cada dia,dos  ultimos doze anos,  como avó,tem sido recheado de surpresas. Meu primeiro neto, adora ciências, games, e agora a musica. Minha neta do meio canta e compoe maravilhosamente, adora dançar e se inicia no violão. E a pequena Liz é uma falante de primeira ordem. Desenhar é uma das atividades que ela ama. Nesse final de semana, desenhou o coelho, o pato e um fantasma . Fantasma esse que é camarada, com ela mesmo dize. E depois duas flores, a Leona sua cachorra quando estava esperando o Iogo.
                          Construimos uma historia para o pato e o coelho. Ali bem proximo onde mora a Liz, havia um lago onde o pato adorava nadar. O coelho era seu vizinho morava no tronco de uma arvore. 
Um dia começaram a ouvir sons estranhos. As cenouras do coelho desapareciam, os milhos do pato igualmente. Eles andavam intrigados. Conversa vai conversa vem, começaram a investigar, e a ficarem mais observadores para ver quem era o autor dos desaparecimentos. Eis que o fantasma, distraiu-se e se deixou pegar em flagrante. Que susto....os dois ficaram apavorados. Um fantasma...que medo! 
                          -Não precisam ficar com medo não...eu sou amigo...peço desculpas por pegar seus alimentos, e que encontrei uma familia de coelhos muito grande que dona coelha não estava conseguindo alimentar. E uma familia de patinhos. Querem vir comigo conhecer?
                         Os dois se olharam meio desconfiados.  - O pato que era mais audacioso, falou: - vamos sim. Onde fica?
                            - do outro lado do lago.
                        E lá foram os tres naquela expedição em busca das duas familias. Porém o coelho deve a feliz idéia de levarem com ela, cenouras e milhos.
                        O fantasma era um excelente cantor. Foram cantando e rindo.
                        Logo encontraram a família da pata e seus filhotes. O pato brincou muito com o gurpo, entraram no lago. Ajudou os menores que ainda não haviam se iniciado na arte de nadar.
                          O coelho e o fantasma so observando.
                         Com a família de coelhos aconteceu a mesma coisa, o coelho interagiu com o grupo.
                          E o mais interessante, que nem um grupo nem outro viam o fantasma, e não sabiam que era ele que trazia-lhes o alimento. Ficaram muito gratos aos novos amigos.
                               O desenhos das flores e da cachorra vamos deixar para um proxima vez a historia. Duas flores com chão, com folhas.
                                  Ser mãe já transformou a minha vida totalmente, e agora ser avó outros movimentos. E eles não param...pois o quarto neto ou neta já esta a caminho. E o coração bate mais forte já imaginando que novas aventuras viveremos juntos.
                    

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

RISCO E RABISCO:                                                   ...

RISCO E RABISCO:                                                   ...:                                                           Eu e as árvores                                                                ...
                                                          Eu e as árvores
                                                                                                                                         Magaly Andriotti Fernandes
Hoje tomando meu café matinal como de costume, na cozinha e em pé, sempre abro a janela e observo como esta tempo, sol, chuva, nuvens; frio, calor. Hoje nublado e fresco. Primavera, mas um típico dia de outono. Aliás esse ano fugi do inverno indo para Itália e agora só me resta o outono. Dei-me conta que daqui onde moro, vejo as arvores de cima. Diferente de quando era menina, saia correndo pela manhã e me emprenhava no mato vizinho a nossa casa, e ficava a brincar nas raízes das paineiras. Paineiras enormes, com troncos largos, onde muitos pássaros viviam e eu podia os observar. Ficava ali, me sentindo protegida embaixo das arvores. Ali fazia meu mundo, e viajava.
Agora isso, quase quarenta anos moro aqui, e apenas hoje me dei conta que estou acima das árvores. Ainda observo os pássaros, mas só enquanto estão no voo. Quando pousam ,a copa das arvores, não me permite vê-los. A cada estação do ano, a coloração e bem diferente. Agora tempos o lilás, o amarelo e o verde. No outono mesmo, as arvores ficam marrom, douradas e ou avermelhadas. No inverno, muitos galhos, poucas folhas, verde mais escuro. No verão assim como na primavera muitas flores. No verão abrem as Flamboyas, lindas, um tapete vermelho. E sou abençoada, existem três pés na minha rua.
Fico, pensando cresci, bobagem, tenho só um metro e meio, não muito diferente de quando era menina. A questão é que vim morar aqui no alto, no nono andar. Essa visão de cima da vida. Posso observar as pessoas saindo para o trabalho. As pessoas indo caminhar, passear. Escuto risadas, choros, gritos, dependendo do movimento e das intenções das mesmas. Estou estrategicamente posicionada, pois não me veem e eu as vejo. Vejo silenciosa e reflexiva. Minha curiosidade nunca foi de exposição ou de fofoca. A vida humana sempre me fez pensar nas suas causas e consequências. Sempre me impliquei no que vejo.
Outro dia vi um assalto, logo liguei para a polícia, me identifiquei, descrevi, e aguardei que eles chegassem. Assim com brigas, agora não mais tão frequente, mas havia um período que vizinhos desciam para brigar no pátio. Já precisei internar uma das vizinhas que estava em franco surto psicótico. Eu internar não, orientar a família de como faze-lo e ajudar no processo.

Estou na realidade com essa sensação estranha de estar sobre as arvores. E não estar subida nelas que é meu lugar preferido, mas acima delas. São lindas, tem Ipês, tem Araucárias, tem Coqueiros, tem Flamboyas, tem outras que não sei o nome. Uma flora vasta nessa rua. As copas são amplas, fechadas e compactas. Daqui de cima é lindo e seguro. Lá de baixo a noite, sem muita iluminação, numa cidade onde as desigualdades são tantas, fica tudo inseguro. Estou me sentindo uma sentinela no castelo.

terça-feira, 7 de novembro de 2017


BEIJA- FLOR

-Eu sou um dos mais belos beija- flores que andam voando por ai. Sou um beija-flor de calda longa.
estou aqui paradinho, para pensar um pouco. Terminei de ver uma linda companheira. Meu coração está batendo muito forte.
-Oi, ela cantou para mim...
-Que cores lindas tu tens. Amo lilas e azul.
E ele ficou ali congelado, não conseguiu dar um piu, um canto siguer. Ela era maravilhosa, o som de sua voz o fazia tremer todinho. E aquela cauda longa, tão necessaria para atrai-la, o deixava ali, parado. Tinha medo de dar um voo e cair.
- Eu estou aqui de passagem, meu ninho fica muito longe daqui.
Ele respira funda e consegue então dizer: - realmente não a tinha visto por aqui.  Voce tambem tem cores vibrantes, e tua voz.
Ela pulou e ficou ao lado dele.
Ele ensaiou um beijo.
Ela já estava virada para ele.
Ali ficaram paralizados. Suas caldas se entrelaçaram.
Voaram juntos, e alto.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017



                                       A borboleta na janela

Estava saindo rumo a feira do livro, e uma serie de escutas a que me propus, quando ali presa na minha janela uma linda borboleta amarela e preta. Borboleta essa que me trás a lembrança imediata da infância. ela  é meu marcador de paginas, sim , algo não muito agradável, mas achei uma dessa especie morta, e a transformei. Na tampa do vaso sanitário outra, igualzinha.
Borboletas são símbolos de transformação. Eu me sinto enclausurada numa mesma forma, num ciclo vicioso de pensamentos, empacada, sem sair do mesmo lugar. Vê-la ali na janela, sai rápido e a libertei. Já se foram os anos em que as colocava espetadas por alfinetes junto ao quatro de cortiça.Sim adorava minha coleção de borboletas, amarelas, brancas, azuis, multicoloridas.
Sempre me dizia, sem problema elas vivem pouco, assim pelo menos enfeitam a minha coleção.
Ela voou do nono andar feliz, livre, vento da primavera. E eu sai rumo a Feira do livro.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

RISCO E RABISCO: Passear de mãos dadas                           ...

RISCO E RABISCO:
Passear de mãos dadas
                           ...
: Passear de mãos dadas                                                                                MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES  ...

Passear de mãos dadas

                                                                               MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

                 Ontem caminhando pela rua de minha casa, retornando do almoço, dia lindo de sol, domingo, vejo um casal de idosos caminhando de mãos dadas. Uma cena linda, os dois conversavam, via-se ao longe que havia ali muita amorosidade.
            Eu que vinha com meus pensamentos saudosista, lembrando meus velhos sonhos de adolescência, e esse era um deles, envelhecer junto com a pessoa amada. Andar pela rua de mãos dadas.  Olhos já cheios de lágrima, suspiro e penso: do que estou me queixando? Eles estão há uma três décadas a minha frente, ainda tenho muita estrada a andar.
            Amar é algo intrincado não acham? Precisamos mais de um para amar.  Pensamento talvez equivocado.  Importante nos amarmos em primeiro lugar. Na novela das nove a globo colocou uma moça que faz uma cerimônia de casamento para casar consigo mesma, para dizer para todos amigos e família que se ama. Um ato meio doido a princípio, insano. Necessitamos da aprovação dos que convivemos para amar, ou não.
            Voltando ao casal que vinha numa linda tarde de domingo, andando de mãos dadas e numa conversa amorosa. A rua linda também arvores todas floridas, primavera na capital gaúcha, os pássaros fazem uma sinfonia, uma trilha sonora ao amor. Eu caminho mais devagar, para continuar observando. Eles entram em casa, trocam um leve beijo. Suspiro, suspiro fundo numa inveja boa.
            Penso essa cumplicidade, esse envelhecer mantendo o diálogo, isso sim é importante numa relação a dois. Sim hoje já me dou conta que consigo viver bem sozinha. Não me impeço de fazer qualquer coisa pois não tenho companhia. Caso algum amigo ou amiga não posso, vou sem só. Sempre é melhor ir a dois, a três, em grupo. Em algumas ocasiões ir só e preferível; o cinema por exemplo. Adoro ir sozinha ao cinema, não fico tentada conversar durante o filme. Tomo um café antes, leio o jornal na cafeteria, as críticas sobre o filme. Depois sim, depois os amigos se fazem necessários, não tem graça ver o filme e não ter com quem comentar, com quem discutir sobre o tema, sobre o diretor, as cenas, a trilha sonora.
            Primavera é isso, caminhar domingo a tarde de mãos dadas com a pessoa amada. Ainda chego lá.
Porto Alegre, 23 julho 2017.



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

RISCO E RABISCO:                                                   ...

RISCO E RABISCO:                                                   ...:                                                          Viver em Spello                                                                 ...
                                                         Viver em Spello
                                                                                                                                                         Magaly Andriotti Fernandes
Em 2015 estive na Itália para estudar a língua e a cultura daquele país. Fiquei um mês em San Severino Marche na região de Macerata. Como parte do curso : conhecer a arte, arquitetura, gastronomia, literatura e música. E nada melhor que indo aos lugares, descobrindo as pequenas cidades para que isso se desse.
De todas elas a que mais me encantou foi Spello. Fica na Umbria na encosta do Monte Subásio, próximo a Assis.  É uma cidade que preserva suas características medievais.  As flores nas janelas, nas vielas independente da estação do ano é a sua peculiaridade. Claro que na primavera ficam ainda mais lindas. Tem um concurso anual de quem enfeita mais a casa e a rua. E no Corpus Christi as ruas da cidade são enfeitadas com tapetes com pétalas de flores, rosas em sua maioria, algo inimaginável. E o gelato também é feito de flores: gelato de rosas, de flor de laranjeira entre outras.
A natureza e belíssima, quando se chega ao topo, pode-se sentar e olhar a cidade lá do alto, as colinas e os limoeiros e as oliveiras. Uma paisagem de tirar o folego.
Spello tem ainda as igrejas magnificas e especialmente a de Santa Maria Maggiore, que tem os afrescos de Pinturicchio. Não deixe de entrar e permita-se ficar ali em silencio, pois essa imersão te leva longe e profundo; os tons da pintura, a dimensão, a tridimensionalidade.
Viver ali penso deve ser um pecado, um lugar sagrado assim para mim se mostrou. Já estive lá em duas ocasiões, uma vez no outono, outra primavera e a cada volta novas descobertas. Eles tem um concurso de bordado de flores, uma gastronomia utilizando flores. Moram ali em torno de 8 mil pessoas. Ela é toda murada, e tem ainda preservada três portas, contam que eram seis.

Existem flores de diversas espécies, cores e perfumes.  Ali se encontra óleo de oliva, vinagre balsâmico, trufas de sabor singular e de produção regional.

domingo, 15 de outubro de 2017

RISCO E RABISCO: AINDA HOJE ROTULOS, DIGNOSTICOS CONGELAM E INSITAM...

RISCO E RABISCO: AINDA HOJE ROTULOS, DIGNOSTICOS CONGELAM E INSITAM...: AINDA HOJE ROTULOS, DIGNOSTICOS CONGELAM E INSITAM FATOS COMO ESSE DE JANAÚBA                                                            ...
AINDA HOJE ROTULOS, DIGNOSTICOS CONGELAM E INSITAM FATOS COMO ESSE DE JANAÚBA
                                                                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes
Ontem me peguei pensado nesse fato tão chocante que aconteceu em Janaúba, o segurança que ateou fogo no Centro Educacional, matando crianças, professora, e ferindo muitas pessoas. Ele próprio matou-se. Trabalhei quase trinta anos ouvindo pessoas que cometeram crimes, e mesmo assim não tenho respostas para esses atos extremos humanos.
Fiquei pensando no contexto onde tudo aconteceu, uma cidade de 71mil hab., no interior de Minas Gerais. Ele o segurança já trabalhava no Centro desde 2008 diz a imprensa. Em 2014 tem registros de que andava com a saúde mental abalada. Ele procurou o Ministério Público porque suspeitava que sua mãe o estava envenenando. Foi solicitado um estudo psicossocial que identificou que ele apresentava um transtorno de personalidade.  E ai me vem uma serie de interrogações. Só o diagnostico resolve tudo? Não seria ele o início de uma intervenção?
No Brasil vivemos ainda hoje um processo intenso de exclusão, que mesmo os profissionais da saúde e do judiciário não conseguem avançar em suas práticas. Lugares que eram para ser espaços de resolução de conflitos, os incrementam e ampliam.
Chegando ao Ministério Público, feito o estudo contanto que a pessoa do segurança de um Centro Municipal onde crianças são cuidadas, apresenta um transtorno o que foi recomendado? Quem o tratou, quem passou a acompanha-lo. O que se passava com essa pessoa que estava desconfiando da própria mãe? Que relação estava ai posta?
O que representava para esse Segurança seu local de trabalho? Que significava esse cotidiano de pelo menos onze anos cuidando de um espaço, onde o seu ser não era olhado e cuidado?
Faltam muitas informações para fazermos aqui conjecturas. Um fato que penso eu não poderia ter sido evitado?
Fatos como esses que tem sido cada vez mais comuns, no mesmo período nos EUA, um atirador em pleno show atira e mata mais de cinquenta pessoas e fere mais de cem.
O que acontece com o ser humano que está agindo de forma tremendamente violenta no extermínio de outros humanos? O Segurança de Janaúba terminou com a própria vida.
Penso que nesses casos deveríamos falar mais sobre eles, investigar que de fato se passou? Não para querer prender, hospitalizar, isolar, excluir o autor de atos cruéis, mas para entendermos que contexto é esse, e como estamos produzindo essa violência. Não só entender mas evitar.  Os meios que construímos para lidar com os atos humanos que resultam em crimes, estão falidos, não resolvem, e pelo contrário tem enfatizado e contribuído para o aumento significativo do mesmo. Prender, julgar, condenar, manter preso. Hospitalizar para salvaguardar. O que está errado nesse processo? O que anda acontecendo com os atores dessas agencias sociais que no seu cotidiano simplesmente repetem atos e não criam, não ampliam. Em alguns espaços se ouve falar em práticas de uma educação não violenta, em justiça restaurativa. Não seria essas já um prenuncia de novas perspectivas e possibilidades.
Cada um de nós não pensa no agressivo que é. Diante de um fato desses se permite desejar a morte, e muitas vezes morte cruel para esses que agiram com crueldade, sem ao menos ter vergonha de seus sentimentos assim expostos e amostra.

Hoje a ciência já avançou tanto que podemos fazer cirurgias de cérebro sem danificar o funcionamento geral dos pacientes. Conseguimos ir de um lado para o outro do mundo voando. Encontramos amigos em lugares inesperados e assim tantos avanços... Porém no que diz respeito as relações humanas ainda não saímos dos tempos das cavernas. Nossas reações ainda são na mesma proporção que o homem das cavernas diante da falta de recursos reagia. Reagia de forma violenta. Como pacificar o mundo? Como pacificar o ser humano? Como me pacificar?

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Dias de chuva
                                                                                                      Magaly Andriotti Fernandes

Eu vinha a dias pedindo que chovesse. Estava querendo hibernar. Adoro ficar em casa dias de chuva. São dias cinzas, aquele ruído de agua caindo instigam a pensar e a refletir sobre a vida.
Adoro dias de chuva para ler, pegar um bom romance sentar-se próximo a janela e ficar ali, sem culpa nenhuma de não estar na rua e mergulhar num romance, num drama ou até mesmo numa ficção.
Agora já há mais de três dias chovendo, já fico pensando que tenho que ter cuidado com o que desejo. Olha ai quanta agua. Eu estou aqui abrigada, geladeira cheia, mil ideias de cardápios.  E os que moram em regiões ribeirinhas, os que moram em casas que tem goteiras? Os que não tem casa? Com essa chuva toda, o que fazer?
Até para as plantações tanta chuva assim não faz bem, ao contrário, destrói plantações inteiras.
Essa chuva coincidiu com o feriado de Nossa Senhora Aparecida, e eu fiquei guardiã da cachorrinha de meu filho caçula. Ela é muito tranquila. Fica deprimida quando seus donos viajam. Escolhe uma poltrona e ali fica. Chamo-a para brincar, brinca um pouco e retorna ao seu trono. Vamos passear na rua, quando a chuva dá uma trégua, e ela logo está pedindo para voltar. Você deve estar pensando, choveu tanto que essa pensa que cachorros falam. Falar não falam, mas existem uma comunicação intensa entre nos. Eu leio os pensamentos dela. Ou melhor os gestos. Quando quer descer fica parada próximo a sua guia de passeio. Quando quer retornar, vai em direção a escada. Os cães são muito inteligentes. Precisamos saber ler o seu comportamento, e a comunicação está feita.
Ela tem medo de trovões, vem correndo para o meu lado e pede colo. Se estou fazendo algum trabalho manual paro um pouco e a tranquilizo. Falo que são apenas trovões. Lembro quando os meninos eram pequenos que eu fazia a mesma coisa. Aliás coisa de gente doida, tranquilizamos nossos pequenos sobre as forças da natureza. A maioria das vezes sim, trovoes, ficam lá fora, os raios da mesma forma. Hoje tem se visto, ventos velozes que destroem tudo, raios que matam pessoas. Meu coração se desassossega. A cachorrinha sente e chora.
Penso que já podia parar de chover. Mas quem eu penso que sou, que o tempo vai acontecer dependendo dos meus desejos.  Que sou o sol?   Que tudo gira em torno de mim?
Pego meu livro e retomo a leitura. A chuva cai la fora, e eu agora já na Sicília, com minha heroína andando a cavalo. Desço numa praia translucida e mergulho.
Um trovão daquele e  a cachorrinha se joga no meu colo.

Porto Alegre, 13 outubro 2017.

sábado, 19 de agosto de 2017

RISCO E RABISCO: A borboleta corujaMagaly Andriotti FernandesLiloca...

RISCO E RABISCO: A borboleta corujaMagaly Andriotti FernandesLiloca...: A borboleta coruja Magaly Andriotti Fernandes Liloca adorava fazer casinha para as bonecas nas raízes de uma paineira. Ela e as amigas...

A borboleta coruja
Magaly Andriotti Fernandes
Liloca adora fazer casinha para as bonecas nas raízes  da paineira. Ela e as amigas ficam ali horas a brincar.  Nos meses de março e agosto as arvores ficam rosas de tantas flores.  O chão permanece um limo só. As flores caem muito com o vento e cobrem tudo. Elas são suculentas. As meninas usam o pistilo para fazer comidinha para as filhas. O perfume é suave, só enjoativo, senão limpa todo o dia.
Bem próximo,  um jardim cuidado pelas freiras da Escola, vizinha a sua casa, repleto de rosas, margaridas, amores perfeitos e uma infinidade de flores. E com isso borboletas diversas rodeam. Liloca resolveu fazer uma coleção de borboletas. Ela ganhou de presente um saco de filo com o qual corria atrás das borboletas para aprisiona-las. Em seu quarto tinha um painel de cortiça onde espetava os insetos com alfinetes. Já tinha ali umas 12 espécies diferentes.
Um final de tarde bem na paineira pousou uma borboleta muito escura e linda, suas asas pareciam com dois olhos. A menina levou um susto, logo pensou que era uma coruja. Ao aproximar-se ela vou. Liloca ficou intrigada. Aquela borboleta, nunca há tinha visto. Precisava dela para a sua coleção. Chegou em casa e correu para o computador em busca de informação.  Hum... uma borboleta coruja? Então existe mesmo uma com esse nome. Sua observação e seu espanto tinham sentido. E agora como capturar uma ?
Suas amigas ficavam horrorizadas com essa coleção e perguntavam:  - porque você precisa matar as borboletas? Não vê que assim elas não ficam colorindo a vida?
Liloca também ficava triste, mas precisava conhece-las melhor. Em casa nos dias de chuva, que não conseguia sair de casa ficava ali a olha-las e a pesquisar mais sobre elas. Sabia que as borboletas eram extremamente importantes para a polinização, sabia que elas colocavam seus ovos nas folhas de determinadas plantas, e que esses ovos se transformavam em lagartas, e as lagartas em pupas.
Descobriu uma técnica de plastificar as borboletas de sua coleção para que elas não se desmanchassem com o tempo. Fotografou-as e passou a escrever sobre elas. Quanto tempo viviam, que flores gostavam de pousar. Pesquisa  muito restrita, pois ficava  apenas nas especies do jardim. No computador, pode aos poucos ir  fazendo comparações, e ampliando seu conhecimento e amor pelas borboletas.
Um dia, no meio das folhas, achou uma borboleta coruja morta, inteirinha. Puxa que maravilha!  Pegou-a com todo cuidado e a levou para o seu mural. E pensou: elas tem um tempo determinado de vida ou não? Penso que sim. Foi ler e viu sim que  podem viver até três meses. Não lembra de ter encontrado outra borboleta morta pelo jardim. Quem seriam os predadores das borboletas.  Já tinha visto o gato da vizinha correndo atrás de uma. Que gosto teria uma borboleta…eca…isso, ela podia ficar na descrição, não precisaria experimentar.
Esse encontro com a borboleta coruja morta foi um divisor de aguas em sua vida. Prometeu para si mesma não mais captura-las. Só três meses de vida, elas faziam do jardim um paraíso. As flores precisavam delas para polinizar. Ia esperar que a morte viesse naturalmente. Sim pois a que encontrou não tinha sido atacada, não devia ter sido atacada... estava totalmente inteira, perfeitinha. E ai: uma borboleta tem coração? Como ela simplesmente deixa de viver? Para e cai?



domingo, 13 de agosto de 2017

RISCO E RABISCO:                                                  ...

RISCO E RABISCO:
                                                 ...
:                                                                                                            UM CAFEZINHO A BEIRA MAR...

                                                 

                  

                                      UM CAFEZINHO A BEIRA MAR

                                                                                                       Magaly Andriotti Fernandes 

           Conhecer Cince Terre foi um sonho. A cada passo, uma planta, um perfume, uma pessoa, como entrar num conto  de fadas. Terminado o almoço, caminhando pela beira do mar, encontramos esse lugar onde se pode tomar um cafe , olhando para o oceano. Eu  me senti inteira, plena, e como boa obsessiva pensei, acho que vou morrer. Muita felicidade para uma unica pessoa. O choro presença constates nesse momento. Tem gente que pensa que choro manisfesta  tristeza, para mim ele vem no momento de êxtase.
          O café na Itália, é muito saboroso, o perfume das cafeterias são singulares.  Muitas vezes o café pode ter sido produzido no Brasil, penso que o melhor nosso é exportado, pois aqui não temos esse acepipe.
          Cheiro de mar, cheiro de cafe, som de ondas, visão dos Deuses....minha alma voa.

Porto Alegre,13 agosto 2017.

RISCO E RABISCO:                                                  ...

RISCO E RABISCO:                                
                  ...
:                                                                         A GATA NA JANELA                                                ...
                               
                                        A GATA NA JANELA
                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes

          Eu sempre adorei observar os animais. Os gatos por muito tempo não eram meu objeto de pesquisa. Agora que refizemos nossa relação, que convivemos a mil maravilhas, sim eu fico em busca de melhor conhecimento sobre esses bichanos.
          A Amora gata das minhas netas, ela é toda tigrada. Pela manha quando abrimos a casa, ela já esta lá miando em busca do alimento. Preguiçosa teve a noite toda para caçar os ratos silvestres, prefere a ração. Vai entrando, se enroscando nas pessoas que estão por ali, carente de carinho e contato. Depois se posta na janela a observar seu filho que corre pela rua comendo insetos e brincando com os cachorros.
          Quando subimos para brincar no sótão ela também é companheira. Deita , se esparrama pela cama no solzinho e la fica. Isso quando minha neta menor não resolve integra-la na brincadeira e a pega no colo, a cobre, coloca no carrinho das bonecas. E ela pacientemente aceita e participa.
           Diante dessas cenas fico pensando, como pude durante tantos anos ter medo desse animal? Como a educação as vezes funciona ao avesso. Minha mãe tinha nojo e medo dos gatos e os transmitiu para as filhas. Desmistificar, retomar e experimentar faz muito bem.
            Essa não é a primeira gata que minhas netas possuem. A mais velha já teve um primeiro gato que não se adaptou ao apartamento onde moravam. O gato fazia "coco" por todo o lado, não aprendia nunca, vivia a noite( o que é da vida dos gatos) pulava, arranhava tudo. Depois a  Lua play, que teve um fim trágico ao ser atacada por cachorros. Essa relação cães e gatos é algo a ser pensado. quando ambos convivem com os donos, brincam, conseguem conviver sem se matarem. Quando não é um risco sempre.
           Olhar assim a Amora na janela, amanhecer na agro floresta, a luz do sol, o som do vento é algo que nos faz navegar para dentro da alma, suspirar.
           Porto Alegre, 13/08/2017






segunda-feira, 7 de agosto de 2017

                                                                             O Silêncio

                                                                                                                    Magaly A Fernandes

Ficar em silêncio nos dias de hoje parece uma difícil tarefa. Fiz um retiro de silencio por oito dias. Quando pensei no tempo, imaginei que não conseguiria. Eu sou uma pessoa que falo pelos cotovelos. Fui em busca de lugares onde se pudesse fazer o retiro. Encontrei diversas possibilidades, e escolhi um primeiro onde eu pudesse dispor de meu corpo da forma que bem entendesse.  Digo isso pois se escolhesse um retiro budista as posições de yoga se fazem necessárias, as restrições alimentares também.
Já nessa busca muitas descobertas fiz de mim mesma. Estou disposta a emagrecer, mas não dispostas a mexer em determinados hábitos alimentares, por exemplo o consumo de carne. Meu corpo tem assumido posições nem sempre flexíveis. E ai outra sinalização para mudanças que se fazem necessárias, na busca do silencio.
Escolhi um pelo critério beleza do local, e possibilidade de ficar em silencio onde eu quisesse dentro daquele espaço. Nem me dei conta que era um Retiro Inaciano. Uma surpresa muito significativa. Santo Inácio foi um revolucionário, um inovador dentro da igreja católica. Eu fui batizada e crismada, mas na adolescência e início da idade adulta me rebelei contra a igreja e seus dogmas. Quando se pensa que a escolha foi ao acaso, não foi. Nossas perguntas internas vão nos levando para determinados caminhos. E lá estava eu lendo a Bíblia, refletindo com os Exercícios Espirituais, renovando minha fé em Deus e não na igreja. Que essa e para mim uma instituição falida. Criei uma dupla dificuldade ficar em silencio e ler a Bíblia.
A orientação do padre jesuíta que nos acompanhava ia levando para um encontro com si mesmo e com esse grande mistério que é Deus. Lendo Jung, e fazendo um paralelo com nossas vidas, fiquei pensando que eu não tive muitos conflitos com Deus, o aceitei de cara, desde muito pequena. A religião talvez por ter iniciado estudar em colégios católicos, e minha família ter feito essa escolha por mim já me deu uma direção. Busquei conhecimento sobre outras religiões, mas na realidade para mim existe uma dissociação entre espiritualidade e religião.
Ao me revoltar contra a igreja, fiz algo que me impediu de desenvolver minha espiritualidade, não aprofundei meu conhecimento sobre as demais religiões. Ocupei minha leitura, minhas buscas com temas afetos a ciência. Como se uma e outra nada tivessem haver, campos opostos e cindidos.
E lá sem falar com minha família, amigos num diálogo interno, revendo conceitos, fazendo um novo percurso nos meus conhecimentos religiosos e pessoais. Sobre minhas relações pessoais, sobre vínculos, sobre amores e ódios, sobre resoluções. O silêncio, nos faz isso, ouvir a própria alma. Ficar ali diante do mar ou diante da lagoa, o lugar que escolhi tinha uma proximidade ao mar e a lagoa. O que essa visão nos remete, ao nosso grande nada. A nossa riqueza, o nosso poder de sermos insignificantes diante da magnitude da natureza, e quando não o reconhecemos querendo nos igualar a ela, a destruímos. A importância de vivermos em consonância como a fauna e flora, com o clima. Nossas casas hoje estão tão distantes dessa proximidade. Eu por exemplo moro no nono andar. Quando falta luz, mais de um dia fico sem água também.  Nós vivemos sem nos dar conta de que luz e agua são dinâmicas, são produzidas (para chegarem em nossa torneira e na nossa lâmpada). E a forma de explorarmos a natureza, a faz se esgotar. Como viver diferente, como utilizar esses recursos, sem violenta-los?
O silencio nos dá a dimensão de solidão e de plenitude.  Estar só e algo muito momentâneo, pois vivemos num mundo povoado por uma diversidade de seres.  La ficava eu, ouvindo os pássaros, tinha horas que pensava, assim não vou escutar minha alma, estou me distraindo. Eles cantam tanto, ficava pensando o que será que dizem uns para os outros. Voam parece que brincam um com o outro, namoram. As gralhas azuis, linda demais. Não lembro te já ter visto esse pássaro assim tão de perto como as vi ali. Outra descoberta, observar os pássaros e os demais animais é uma característica pessoal. Os bem-te-vis, as corruíras, as curicacas, os beija-flores e muitos outros que me ajudaram viajar nesse mistério que é a interação. O som das ondas do mar, diferente da lagoa onde as aguas são paradas. A cor do mar para o esverdeado, e da lagoa amarelada e translucida. A mata ao redor, as pedras, as pedras também falam e nos ajudam nesse percurso de busca de si.
Eu pensando que ali sem internet, sem radio, sem televisão, é mais fácil ficar em silencio. Sim ajuda muito, mas precisamos deixar o mundo lá fora para mergulhar fundo, para olhar esses recursos naturais que existem em nos. Como comemos, como respiramos, como dormimos, como caminhamos, como amamos e ai vai uma série de questionamentos.




segunda-feira, 24 de julho de 2017

                       Caminhos, encontros: possibilidade de ir
  

                                                                                       Magaly Andriotti Fernandes
                                              Conviver em grupo é uma arte. Eu sempre me considerei uma pessoa antissocial. Não era muito tolerante as diferenças. Penso logo digo.
                                              Aos poucos os amigos foram me mostrando que estar junto, para conversar, para passear ou para simplesmente ficar em silencio era muito bom.  Olhar um pôr do sol, tomar um chimarrão, ver um filme, escutar uma música, declamar.
                                              E quando se pensa diferenças, não nos apercebemos que cada um é singular. Somos todos diferentes, uns mais, outros menos. E como viver se não aceitamos a forma especifica de cada um ser e estar no mundo?
                                              Falar do tema já é mais tranquilo e fácil, mas mudar extremamente difícil.  No primeiro semestre do ano passei dias na Itália, e fiquei chocada com o número de imigrantes vivendo naquele pais. Alguns sem emprego, vagando pelas ruas, pedindo esmolas, morando nas ruas. Outros foram por opção, conseguiram um lugar ao sol e se firmaram por lá. Saindo do mercado, do metro, de restaurantes nos encontramos com pessoas, com olhar triste e de fome. Nosso pais não é diferente, porem como nossos moradores de rua vem de outras cidades, são nossos concidadãos não nos chocamos tanto, banalizamos a miséria.  Essa vivencia me fez pensar o que nos faz ter medo do outro ser humano, não os queres pertencentes a nossa nação, a nossa cidade?
                                              E no trabalho, na vida social, quantas pessoas, eu particularmente não tenho simpatia. E se não tenho simpatia, não quero elas por perto. E com as que temos simpatia e escolhemos para o nosso convívio, tem dias que também se tornam cansativas e as queremos distantes. Somos dizem os sociólogos seres sociais, isso nos distingue dos outros animais.
                                              Conviver exige que caminhemos por dentro de caminhos internos, descobrindo nossas qualidades e defeitos. Conhecendo e reconhecendo limites e possibilidades. Quanto mais acolhemos nossa sombra, maior a capacidade de convívio.
                                              O mundo, o planeta é parte de um todo imenso que é o universo. E nos humanos uma partícula. Que movimentos são esses de expulsão e exclusão. Eu há muito tenho procurado emitir energia de inclusão e aproximação. Em cada lugar da terra, nascemos com determinadas singularidades de cor de pele, cor de olhos, cabelos, com uma língua, uma cultura. Cada povo tem seus valores. Essa é a nossa riqueza, somos todos humanos, mas muito singulares. Sou grata aos meus amigos por me ensinarem a viver e conviver com nossas diferenças.
                                              A música, a literatura, a poesia, a pintura e tantas outras manifestações artísticas e culturais são instrumentos de aproximação. Viajar implica em desbravar, não só os aspectos geográficas de um lugar, mas os históricos, culturais e econômicos.  Vamos perdendo, formas de ser e assimilando e aprendendo novas formas. O caminho nos transforma, e nos transformamos o caminho.
                                              Posso caminhar sem sair do lugar, ou posso voar alto, eu escolho.
Porto Alegre 24 julho 2017.

                                             



segunda-feira, 17 de julho de 2017

RISCO E RABISCO:                                         Amanhecer...

RISCO E RABISCO:
                                        Amanhecer...
:                                         Amanhecer em casa                                                                         ...

                                        Amanhecer em casa

                                                                                                   Magaly Andriotti Fernandes 

Depois de passar setenta dias na Itália, indo de cidade em cidade, chegar, sentar a poeira é um pouco difícil. Passei um ano programando meu retorno para estudar italiano, a língua e a cultura. Decidir quais cursos, quais cidades diante de um pais com belezas tão singulares.
Os primeiros trintas dias minha base foi em Casalbordino, no Curso Scuola Nova Arcadia. Morei com uma brasileira de São Paulo, e uma  argentina de Mar del. Prata, na via Fontana número 5. Uma cidade pequena, com mais ou menos 4 mil habitantes. Cidade medieval, onde a agricultura, a fabricação de vinho e óleo de oliva é prioridade.
O sol esteve comigo quase todos os dias do percurso. Aqui na região de Abruzzo viajamos por Vasto, Pescara, Chieti, Ortona, Agneno entre outras. Castelos, agro turismo, até fazer pasta na chitarra um instrumento do medievo eu fiz. O sino da igreja toca a cada quinze minutos. Sempre que nasce alguém ele toca, sempre que morre alguém ele toca. Em abril tocou quinze vezes por morte. Uma cidade de anciãos. Na missa conversei com uma senhora de 103 anos que mora sozinha, ativa e com projetos.
                Casalbordino é uma cidade acolhedora, com alimentos saudáveis a bom preço, uma dieta mediterrânea. Peixe fresco comprado de uma pescadora de 72 anos. Uma mulher feliz com sua relação com o mar.
                O canto lírico, a história da língua italiana, Dante Alighieri e outros, a cada igreja muitos afrescos. Em minhas fotos estou sempre sorrindo...sim eu me sentia literalmente viajando, uma viagem espacial, transcendental, imersa na cultura
                Escolhi a Itália pois meus bisavós maternos de lá vieram, da região de Veneto, que deixei para visitar numa próxima ida. Fui a Veneza pela segunda vez e o choro compulsivo uma presença obrigatória. A praça de San Marcos para mim é um lugar sagrado.
                Estive em Alberobello e em Polignano ao Mare. O primeiro terra dos trullis, casa pequenas feitas de pedra sem cimento, pura magia. Onde se come uma das melhores sobremesas: “teta de la mama”.  E a segunda, mar e rochas, um contraste sem palavras. Nela tem a estátua do escritor da musica Volare, tão conhecida por nós brasileiros. Êxtase, era assim que me senti nesses lugares. A estrada toda florida pela plantação de damasco e cerejas.
                Outros trinta dias em San Severino Marche, minha escola do coração, a cada ano estão melhores, professores apaixonados pelo que fazem, estudiosos, te fazem aprender de forma amorosa e lucida. Da região de Marche revi, a Gruta de Franzassi, a florida Spello, Spoleto, Assis (onde se sente ali a presença de Santa Clara e São Francisco de Assis), Gubio e a história de Francisco e o lobo. Macerata e o Sferisferio, onde pensei que nessa volta conseguiria ouvir uma opera, mas cheguei muito antes da temporada. Firenze a bela cidade da arte renascentista, dessa vez consegui entrar no Domu, ir na Academia de arte, ver original do Davi.
                O terremoto no início do ano com epicentro no monte Sibili, não permitiu o retorno a Norcia, e Caltelmucio, mas ensinou a força desse povo.
                As duas últimas semanas passei em Roma, vi o Papa duas vezes, ouvi uma missa toda em latim com cantos gregorianos, vi a Pieta. Na Capela Cistina, literalmente voei, lindo demais, Michelangelo foi um gênio, a tridimensionalidade de sua obra, nos insere e nos transporta. Cada rua tem um pouco da história, o perfume dos jasmim poeta,  o vento do deserto, me fez sentir que tinha 12 anos, e ouvir minha professora do ginásio contanto o percursos dos romanos na conquista pelo mundo. O Coliseu e seus corredores, as cenas de leões devorando pessoas, para mim elas estavam ali postas, vivas ainda.
                As fontes, a Fontana de Trevi, essa que me embriaga, que me dá vontade de jogar-me e sair nadando, ou de ficar ali simplesmente boiando naquelas aguas límpidas. Muitos turistas já o fizeram, multa de 400 euros.  Sonhar de ir a Fontana e não ter ninguém pelas ruas, pois Roma é uma cidade onde milhares de pessoas por lá passam, nunca se esta sozinho, sempre se disputa um lugarzinho ao sol. Ruas com músicas, clássica, popular, com apresentações teatrais.
                Por setenta dias, todas as manhas eu estava em sala de aula. Chegar, retomar a rotina, refazer projetos, inserir-se.
Porto Alegre, 17/07/2017





Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e... :  "As cinco direções de um corpo" é o novo ...