sábado, 15 de setembro de 2018




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 Southernmost - Rumo ao Sul , de Silas House, tradução de Elvira Serapicos, 2018
Comentário crítico: Um livro gostoso de ler, com um tema intrigante. Após uma enchente que destroe a cidade onde reside o pastor Asher Sharp, onde ele tenta apoiar um casal homosexxual, e de deixa levar pelos preconceitos de sua esposa, sua vida toma um rumo totalmente diferente. O ocorrido, faz com que ele reveja sua infancia e adolescencia, quando sua mãe expulsa o irmão homossexual de casa. O irmão mais velho, que eram muito amigos. Ele , já no passado, não conseguiu fazer frente a atitude arbitrária da mãe.
Uma edição bem feita, de forma a facilitar a leitura.
Um casal que uniu-se por terem a mesma fé. Ele foi lendo e crescendo, verificando que o que pregava não tinha nada haver com a espiritualidade. Que sua leitura da Biblia era equivoda. Sua esposa,não parou no tempo, uma pessoa com conceitos rigidos.
Eles tem um filho de nove anos, menino sensivel, o que incomoda a mãe.
Li em menos de cinco dias.
Ele diante do impedimento de conviver com o filho, numa decisão judicial, foge com o menino em busca de seu irmão.
Encontra o irmão, agora padre. Mora por tres meses em Key West, trabalha e conhece pessoas amorosas. O lugar onde vivem esse período é paradisiaco. 
Ao encontrar o irmão , se dá conta que tem que voltar, que não pode manter-se com o filho fugindo sempre.
O livro termina ele ainda preso.
Eu que trabalhei sempre com os conflitos humanos que produziram crime, o que continua a me chocar, e uso da pena de prisão para resolver conflitos familiares, que necessitam de falas, de circulos restaurativos. Que finalidade tem a prisão ai?
Na visão do menino, a mãe, inicia algumas modificações, e promete que irá defender o pai, para que ele saia mais rápido da prisão.
O tio, não conseguiu perdoar o irmão que não foi em sua busca quando fugiu de casa.

sábado, 1 de setembro de 2018


O reverso do amor materno
                                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes

                A manhã já corria solta, e ela ali, encolhida naquela cama dura, não queria abrir os olhos. Sim, estava presa, não podia acreditar, mas ali estava entre seis estranhas mulheres que não paravam de falar. O som a irritava mais ainda. Na suas lembranças as palavras amargas da mãe ainda ecoavam: - “vadia, preguiçosa, você não vai ser nada. Sai daqui, vai embora. “- “tu não serve para nada”
                A que ponto chegou sua relação com a mãe. Chora baixinho, e logo uma pessoa diz: - não, chora não. Aqui a gente não chora. Ela não conseguia parar. Em seus pensamento, a cena voltava e voltava. Tinha saído com o amigo do cursinho, e fora dançar, como qualquer adolescente de sua idade.  De que adiantava ter dezenove anos senão podia se divertir.  Quando chegou em casa a mãe que não tinha tomado a medicação, passou a agredi-la verbalmente. O repertório dela era sempre o mesmo, sempre desqualificando e colocando a para baixo.  E gritando bem alto: - não te falei que não era para sair, não te quero mais na minha casa, tu faz o que tu queres, anda com esses caras e agora aqui na minha casa. Pode pegar as tuas coisas e ir embora. Ela assustada, não tinha para onde ir. Tentou explicar para mãe como estava se sentindo, que não tinha feito nada demais, só dançara, que esse amigo estudava com ela. Tentou falar sobre seus projetos, de como vinha estudando para o vestibular, mas a mãe não a escutava, gritava mais ainda.
                Tinha bebido um pouco, o cotidiano não era fácil, queria fazer teatro, a mãe não deixava, queria fazer bale, não tinha recursos, queria namorar, não podia. Nem meditar estava mais conseguindo. Desde os seis anos quando os pais separaram sua vida virou esse inverno. O pai morava numa cidade próxima, mas pouco as visitava. Quando estava em casa a vida era bem mais leve.
                O pai era um homem triste, mas carinhoso, atencioso. Trabalhava, não ganhava muito. A mãe tinha o salário maior, até que sofreu um acidente de carro e teve que aposentar-se por invalidez. Desse dia em diante a vida deles nunca mais foi a mesma. A mãe que por muito tempo precisou usar cadeiras de rodas e necessitava de ajuda permanente, brigava com todos, não conseguiam fixar uma cuidadora. Além das sequelas físicas restaram as emocionais. A avó materna, que era sua aliada faleceu.  Os recursos econômicos foram se extinguindo e restou para ela e a irmã os cuidados com a mãe. A irmã ingressou na faculdade, e foi trabalhar, e ela que não conseguia trabalho ficou ali subjugada pela mãe e suas loucuras. O que está acontecendo comigo que nem trabalho consigo? A pergunta ecoava em seus pensamentos sem resposta, estava emaranhada com a mãe e a irmã.
                Desenhava muito bem, interpretava otimamente, adorava fazer ioga. Não conseguia ser como a mãe e a irmã, aprender as tarefas administrativas, as ciências exatas eram muito chatas, e complicadas. Seus sonhos eram muito diferentes, queria ser atriz, queria dançar. Isso incomodava a mãe.
                Quando a gritaria acalmou, passaram se os minutos e a mãe, parecendo mais tranquila, a chamou para ver um filme. Deixou-se cair nos braços da mãe e acomodou-se ao seu lado. A mãe sentiu o cheiro da bebida e reiniciou a briga. A mãe lhe bateu no rosto, puxou-lhe os cabelos, como se fosse um menininha. Já era uma mulher, moça, jovem, porém mulher. Ali foi a gota d’água, ela pegou a mãe pelo pescoço, e apertou forte. Deve muita vontade de estrangulá-la. Parou e saiu correndo para seu quarto. Chorou muito. A mãe levantou-se e chamou os vizinhos, que chamaram a polícia. A irmã contou que ela vinha se drogando, mentira. Bebida sim, mas droga não. Elas não a viam como era. Sempre a viam como um monstro, não a respeitavam na sua singularidade. Ela odiava a irmã. E agora odiava a mãe também.
                 Quando nasceu precisou ficar uns dias a mais que mãe no hospital, teve icterícia. Quando veio para casa a irmã que era mais velha que ela dois anos, não a aceitou muito bem. O pai era com quem melhor se entendia. Sempre foi uma menina magra, de poucas palavras, mas muito sensível. Adorava dançar, e a avó pagou para que fizesse bale. Na escola, as disciplinas sempre gostava mais de português, de literatura e de filosofia. Adorava ler, escrever, cantar e dançar, o que a mãe sempre a criticava. Onde tudo isso iria levá-la, sua mãe uma mulher pragmática. A irmã foi estudar economia.
                Quando amanheceu uma companheira de cela pediu para a guarda tirá-la da cela, e foi conduzida ao serviço de psicologia da prisão.
                Não conseguia falar, só chorar e tremer, num misto de frio e medo. Não queria retornar para a cela, tinha medo que as outras a matassem, que lhe fizessem mal. Queria ficar quieta e só, e poder pensar sobre o que tinha se passado. Sentia-se muito mal, parecia que ia morrer, tamanha era a dor de cabeça. Falava que se tivesse que ficar ali, era melhor que morresse. Que ia matar-se, que a vida não tinha mais sentido. Estava com raiva da mãe por tê-la colocado naquele lugar. Não precisa ter feito queixa. Tinha que estudar para o vestibular, não podia perder as aulas, o cursinho já estava pago.  A tia tinha feito isso por ela, e agora como seria. Teria que ficar ali presa quanto tempo?  Precisou ser levada ao atendimento de emergência para ser medicada.
                Como sua liberdade provisória demorou para vir, foi sendo atendida pela psicóloga, e foi refletindo sobre sua vida com a mãe. Pensou que quando saísse da prisão não ia mais morar em casa, ia trabalhar e parar de estudar.
                Sua irmã imaginava que ela queria roubar a mãe, que seus amigos eram usuários de drogas, que ela poderia tentar fazer algo contra sua mãe. Ela era vista com uma estranha para a família.
                Tinha já feito tentativas de alçar voo, sem sucesso. Saiu de casa aos 16 anos e foi morar na praia e trabalhar. A saudade de casa, da mãe e da irmã não a deixaram ficar.  A segunda vez, não fazia muito, estava em casa de volta há mais ou menos seis meses. Porque não conseguia ficar longe dessas pessoas que não a amavam. Os momentos que a mãe e a irmã eram carinhosas eram mínimos, a maior parte do tempo ocorriam os maus tratos, o que se passava com ela. Pensou que devia ser o medo do mundo, dos estranhos. Agora isso ia ser diferente.
                Começou a pintar e a ler, isso a ajudava passar as horas naquele lugar. Aproveitou para ler, ler tudo que lhe caia nas mãos, chegou a trabalhar uns dias na biblioteca da casa prisional. Como não chegava sua liberdade, raspou seus cabelos, fez uma promessa para sair daqui. Era devota de Santa Teresinha. Antes de receber a graça, já pagou a promessa.
                Quando sua liberdade saísse, ela já tinha uma proposta para si mesma de nova vida. Morar na cidade do pai, e trabalhar. O vestibular, o estudo, ficaria para segundo plano. A mãe, essa, ela agora não mais queria ver. Estava morta para ela.


Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

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