segunda-feira, 20 de junho de 2016



As corujinhas na praia

            Na férias escolares viajo com meus dois netos mais velhos. Este ano a caçula veio conosco. Alugamos uma casa em frente ao mar.
            Na primeira manhã, ainda sonolenta, escuto Vivi dizer:- vô a Liz não está na cama.  Abrindo os olhos, preguiçosa, penso. Como assim não está na cama? Levanto rápido vou olhar e a pequenina não está mesmo lá. Olho na cozinha nada, no outro quarto nada. Sinto um arrepio na coluna, a porta da casa está aberta. Onde andara essa pequenina.
            Saímos os três esbaforidos, no pátio, nada da pequerrucha. O portão aberto, ai meu Deus! Fico aflita, saímos, todos juntos. E logo no terreno ao lado lá no fundo, no meio de muitos” pius”, escutamos uma vozinha: - Oh vó, olha aqui as corujinhas. E lá estava ela, sem nem se importar com o alvoroço que faziam os pais corujas. Quietinha, observando, as vezes uma das mãos fazendo a tentativa de pegar uma das menores. Meu coração tranquiliza, e aproveitamos para ficar ali. Guga foi logo explicando: - gurias ela é a coruja buraqueira, ela come ratos e vive durante o dia. Ela gosta de ficar num pé só.  E as primas, curiosas, olharam novamente para a família coruja. Ele adora ciências e adora ler sobre os animais. Elas também amam história e amam os animais.
            Voltamos para casa e para o café da manhã. Corto mamão, esquento o leite, aqueço o pão, faço ovo mexido enquanto eles vão colocando as roupas de praia. A Liz conta que o cavalo rosa, gosta de corujinhas. Que ela ainda não tem um mas vai ganhar o cavalo rosa da outra vó dela. Que ele tem as grinas rosas também.
            A Vivi conta que na casa delas também tem corujas, mas nunca viram o ninho, que são grande, as vê mais a noite, as vezes fica com um pouco de medo. Guga fala que elas não precisa ter medo das corujas, elas não são predadoras de humanos, só atacam se sentem ameaçadas. A Vivi diz que sabe que elas são símbolos de sabedoria, mas o piado delas que a assusta. E quase todos os dias aparecem tucanos, lindos pássaros, como moram numa agrofloresta existem muitos pássaros por lá. E a conversa vai longe rumo ao mar.
            Saímos para a praia: cadeiras, água, frutas, pás e outros brinquedos.      O sol bem quente, o som do mar, a areia e o ruído das crianças aproxima a coruja dos cômoros.  Guga e Vivi constroem uma cidade na areia. A Liz tem a missão de ir buscar água no baldinho. Vai e vem, grita: a coruja, olhem a coruja. E todos ao mesmo tempo nós viramos para ver que a coruja. Ela impávida no topo do cactos a nos observar.
            Ela fica ali a manha toda, só voa quando nos aproximamos na hora do retorno. Uma passada rápida no ninho das corujas.
            Banho, o almoço, na panela milhos quentinhos que já havia deixado a nos aguardar. O mar abre o apetite, e as crianças já chegam famintas.
            O primeiro que fica pronto do banho já inicia a colocar a mesa, a virar o peixe na farinha, a lavar as alfaces.  Numa ação cadenciada, com risos, piadas, e muita fala nosso almoço é uma festa.
            Guga o contador de piadas já estava lá: Vou contar uma piada do Joãozinho na aula – A professora perguntou? Joaozinho para que servem as ovelhas? Ele respondeu para dar lãs professora, e as galinhas? Para pôr ovos. A professora já estava desconfiada, pois ele estava respondendo a tudo correto e rapidamente. E as vacas, Joãozinho? Para dar temas de casa.  O riso foi total e a Vivi contou outra. E a Liz querendo saber quando íamos retornar para ver as corujas.
            Hora da sesta, fechar bem as portas, para que a nossa pequena exploradora não saia antes que todos acordem. 
            Vó tu lê para mim: A ovelha Ofélia, e mal começo a ler na terceira pagina tenho três netos nos braços do Morfeu, o sono foi mais forte que a vontade de ouvir a história. A noite seguimos lendo Vinte mil léguas submarinas, já tem três férias e não damos vencimento de toda história.
            Foram dias em que observávamos as corujas e elas a nos. Dias de muitas brincadeiras, contos, piadas e risadas. E o mais importante, tempo de descobertas e de convívio.

Porto Alegre 20 JUNHO 2016   
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O gatinho amarelo


               Lá estava eu entre os retalhos de pano e os retalhos da memória. Uma malha amarela se apresenta. Fazer o que? Um gato, uma coruja, uma girafa…olho  nas revistas, olho na internet, moldes diversos. O gato esse animalzinho tão misterioso, que tanto me apavorou e hoje através de meus netos passei a conviver bem.
               Um gato parece ser uma boa escolha, as meninas, minhas netas amam gatos, meu neto também. Fazendo os acabamentos, quando vou bordar os olhinhos, sai do enchimento um pedacinho preto, que serve como pupila , ele é cheio de meias velhas, coisas de vovós, onde já se viu encher um bichinho de pano com meias velhas?
               Meu neto mais velho olhou o bichano e o batizou, Batata. E aí o Batata, lembra a paixão perdida da neta do meio, a Mis Miau, sua primeira gatinha. Sua gatinha atual a Amora.  Os gatos são significativos nessa família. É o Batata agora ajuda pegar no sono, ver os programas preferidos desse trio.
               Os gatos tem se feito presentes no meu cotidiano. No meu prédio, observei, moram no pátio, três gatos pretos cuidados por uma vizinha que não os assume integralmente, um amor parcial. Digo isso porque ela apenas os alimenta, não os leva no veterinário, não os vacina, as vezes conversa com eles e só isso. Como é ser dono de animais? Que cuidados requem esses bichanos?
               Outro dia ao sair para caminhar, na porta do meu apartamento, quem vejo? Um gato amarelo em pavor. Ele com medo de mim e eu com medo dele. Como vou sair de casa?  Interfono para o porteiro que me relata que o vizinho o esqueceu na rua. Corro até a escada e desço, numa manobra arriscada, minha vizinha do lado fica falando com o gato e eu escapo; quando volto o vizinho já o havia levado para dentro.
   Em visita a sogra do meu filho no interior do Estado, sua gata, a Lua Play, sim esse é o seu nome, toda branca e macia, vem e deita no meu colo. Eu que tenho muito, mais muito medo de gato, estou ali com aquela gatinha. Ela me adotou, agora eu, ela e minha pequena neta, formamos um trio, por momentos. Surpreendo-me com essa possibilidade. Lua Play não me unhou, não me mordeu, e ficamos ali num convívio pacifico e gostoso, no solzinho.
               No passado os gatos, eram objetos dos meus pesadelos, diurnos e noturnos. Meu analista tinha um gato. Quando chegava para a sessão seu gato, sabedor dos meus medos, estava ali na única cadeira existente na sala de espera, esparramado, ronronando todo poderoso. Eu ficava em pé, sem mesmo me mexer. Por muito tempo foi assim. Na hora da consulta, ele cheio de si passava pela vidro da janela, para que eu o visse, me olhava e afirmava o seu poder. Bem eu estava ali para me tratar. E parece que deu certo.
               Esse mesmo gato, nos nossos grupo de estudo, o que fazia? vinha com seu longo rabo e ficava passando sob a mesa, mas apenas perto de mim. Eu querendo me mostrar corajosa, morria por dentro, mas nada falava. Hoje quem sabe ele ocupasse o meu colo e poderíamos estudar juntos.
Minhas netas tem agora a gatinha tricolor Amora. Quando vem para mim casa ela as acompanha. Os gatos dormem de dia e vivem a noite sabiam? Amora já me deu vários sustos. Outro dia me deu uma mordida no dedão do pé. Agora já sem medo posso  conversar com os gatos, toca-los, amacia-los, eu e Amora nos tornamos grandes amigas.
Refleti muito sobre o meu medo dos gatos, minha mãe quando eu ainda não era nascida, tinha uma gata, e essa gata, deu cria no enxoval dela, todo bordado em linho branco. Minha mãe ficou com muita raiva da gata. Nunca nos deixou ter gatos em casa.  E meu avô, seu pai, nas história de terror que contava, os gatos estavam associados as bruxas, ao diabo, e sim minha infância tinha sido povoada de crendices e pavores. Meus netos já não tem esse pavor, veem os gatos como são, em sua singularidade e mistério, mas sem medos.
Enfim, o Batata, é um gato mágico, o gatinho amarelo que nos faz dormir, um companheiro que integra três gerações.
Magaly Andriotti Fernandes

Porto alegre, 14 junho 2016.

terça-feira, 7 de junho de 2016



Minha neta é uma artista
                Em 2006, no mesmo mês que eu nasci, nasceu minha neta. Eu já era avó de menino e essa grata surpresa e um desafio, ser avó de menina. Em minha família de origem, entre meus irmãos, só existe uma menina. Eu fui mãe de meninos. Digo fui, pois hoje são homens, na vida seguindo seu rumo.
                Ela, uma libriana, desde muito pequenina uma artista, sensível, decidida e determinada. Dize um desafio, pois amar uma menina, está diretamente ligado a nossa menina interna. Eu até muito pouco tempo era muito masculinizada em conflito  o meu eu feminino. Ai ela, essa pequena flor, me ensinando a delicadeza dos gestos, da voz, do deslocar-se.
                Claro que nossa relação não são só flores, não é não, pois temos temperamentos bem diferentes. E ser avó, para mim pelo menos, não é só realizar desejos, mas interagir, trocar, criar juntas(os), e também brigar as vezes, e se necessário junto com os pais dar limites. Essa história que avó estraga os netos, eu não acredito muito não, e procuro ser uma avó diferente, não sei se consigo, mas tento. Porém não estamos aqui para falar de mim, e sim dela. Ela despertou em mim, mais uma vez aquela menina sapeca e delicada que estava adormecida. A ela, sou muito grata.
                Ela nasceu numa cidade próxima a que eu vivo, mas isso não impediu nosso convívio. Ser avó paterna também é uma construção nova. Pois na cultura os modelos de avós paternas, são pessoas que ficam mais a distância, não participam da vida dos netos. Eu para variar me rebelei com essa proposta. Eu procuro sempre estar próximos do meu neto e das duas netas. E criar espaços de leitura, de viagens, de aventuras e de criatividade. Putz, mas não é fácil, quando vejo estou igual a minha mãe.
                Tenho muitas lembranças de nosso cotidiano até hoje, caminhando pelas ruas de sua cidade rumo a praça, ela uma tagarela. Caminhando nos trilhos do trem, nas ruas da cidade, nas lojas. Ela com mais juízo que a avó, dando limites com relação as compras.
                Quando entrou na escolinha, a mãe dela iniciou o trabalho fora de casa e eu pude estar com ela ali. Ela sentadinha no banco todo multicolorido, os olhinhos de curiosidade, o coração aflito de deixa-la, mas ela toda feliz com a novidade e os novos amigos. Saindo da família, para o convívio com pessoas estranhas. Lembro das apresentações, nossa pequena artista dançando com fantasia de anjinho, ela fazendo bale, ginastica olímpica, dança de rua. E ai teríamos muitos momentos para partilhar.
                Hoje vamos falar da artista, sim o desenho, a dança, o canto. Nos finais de semana com a família reunida ela fazia apresentações musicais com dança. Viajamos juntas nas férias, com seu primo, e os dois amam fazer filmes juntos e gravar. São muito divertidos e parceiros.         No meu aniversário do ano passado ganhei um quadro de borboletas, em mosaico. Eu amo borboletas, ela sabia, e me brindou. Agora ela mora mais longe da minha casa, noutro Estado, então nos vemos com menos frequência, mas ai tenho seus trabalhos para me ajudar a matar a saudade.

                E assim vamos nos nesse construir da relação avó paterna e neta, numa teia sem fim.

MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

PORTO ALEGRE, 07 JUNHO 2016. 

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

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