segunda-feira, 23 de agosto de 2021

COLCHA EM CROCHET
linha PEROLA, em tons de verde. A Pandemia me ajudou a produzir nas artes manuais.

quarta-feira, 10 de junho de 2020


                                       
                                              COVID19 E O ENCONTRO

                                                                                           MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES


Ela acordou, colocou o abrigo e saiu á caminhar. Foi para o lado do rio, precisava de ar fresco. O dia nublado, friozinho, colocou toca, echarpe e máscara. Ia pegar uma maça, mas viu que não tinha como comer usando máscara. Saiu. Sabia que se pensasse mais um pouco não sairia. A Pandemia, o inverno que já se fazia presente. Respirou fundo e ganhou rua. O porteiro a cumprimentou, e fez uma cara de quem não está entendendo nada. Imaginou que ele deve ter pensado:— essa ai é doida.
                Adorou o ventinho que lhe batia no rosto. E a máscara, uma boa, respirava seu próprio ar quentinho. Acelerou o passo, dobrou a esquina e foi.  Uma chuva bem fininha iniciou. Pensou, não vou voltar. E seguiu. Na rua um carro que outro, o pessoal da feira iniciando montar as barracas.  Achou melhor atravessar no sinal. Quando entrou na Pereira Neto em direção ao rio, ficou com um pouco de medo. Não se via viva alma.  Ouvia seus passos na rua deserta. Chegando na praça, resolveu sentar e desfrutar da solidão. Aquela praça lhe era muito familiar. Setenta e cinco dias sem sair assim sem rumo, seu destino como um ratinho de pesquisa era apenas o supermercado, não aguentava mais. Precisava de liberdade, voar, rever ruas, árvores, movimentar-se. Estava tão ensimesmada que não percebeu um homem aproximar-se.  Ele tomava seu chimarrão bem tranquilo. 
— Posso sentar aqui?
— Tranquilo, a praça é pública.
— Digo do teu lado.
— Sem problema.
— Não tem medo que te contamine?  Não estou usando máscara.
Ele, um homem alto, espadaúdo, barba grisalha, cabelos acima dos ombros, olhos verdes, e um sorriso acolhedor.
Ela tremeu nas bases.
— Vamos sentar cada um na ponta do banco, pode ser?
— Então tem medo?
— Prevenção, nunca é demais.
— Eu venho sempre aqui, nunca te vi.
— Eu, há muito não frequento essa praça. Quando meus filhos eram bebes, vinha seguido, depois quando eles estudavam aqui perto, também. E agora que sou vó, as vezes trago meu neto e netas aqui.
— Netos é? Eu sou solteiro, um solitário. Morro aqui perto, caminho quase todos os dias. Aqui é muito vazio, encontramos poucas pessoas.
— Pensei nisso quando resolvi caminhar aqui e não na frente do Shopping.  Fiquei com um pouco de receio. Medo de assalto. Pensei, domingo pela manhã, os assaltantes devem estar dormindo.
— Ele riu, e não tem medo dos tarados? De mim por exemplo, e deu outra risada.
Ela olhou bem para ele, é de fato, um homem forte, charmoso. E se ele resolvesse ataca-la. O que fazer. Bem pensou, um homem desses era tudo o que eu estava buscando. Acho que ele não vai precisar me forçar a nada que eu não queira. 
— É. Você um tipo fortão... bonitão...de chimarrão em punho…penso que podemos negociar...se for o caso. E deu um sorriso.
— Vamos caminhar, ele falou.
E os dois seguiram o percurso até o rio, lá sentaram novamente e ficaram olhando calados os movimentos da água marrom do Guaíba, e dos pássaros que voavam daqui para lá. Ele lhe ofereceu o mate. E assim passou boa parte da manhã.
— Almoça comigo? Sou um bom assador.
Porto Alegre 07/06/2010

–DESAPARECIMENTO

II


            — Oi, tu falou com a mãe hoje? Tenho ligado, mandei mensagem e ela não responde.
            — Tentaste o fone fixo?
            — Nem sabia que ainda existia.
            — Espera vou tentar. É ela não está atendendo.  Deve estar gravado uma live. Ou vendo filme, ai não atende mesmo. Fico tranquilo, mais tarde eu tendo novamente.
            No outro dia o filho recebeu o telefonema do melhor amigo.
            — Tens falado com a tua mãe? Desde domingo que ligo e nada.  Conversávamos todos os dias, ou ao meio dia ou no final da tarde. Estou preocupado, ela sempre diz quanto vai fazer meditação, que não quer que ligue, que fale com ela. Não dize nada.
            — José, vou até lá hoje, combinei de almoçar com ela. Peço para te ligar.
            Ficou preocupado, e resolveu ir na mãe antes da reunião. Tocou a campainha e nada. Abriu a porta, ainda bem que tinha cópia da chave. Entrou já falando, mãe, oh mãe….
            Ligou para o irmão.
            —Olha estou aqui na mãe e ela não está em casa. Nenhum bilhete, ela não me falou que iria sair. Sempre que sai agora na pandemia me envia mensagens.
            Interfonou para a portaria. O porteiro dize: — olha a vi no domingo bem cedo. Saiu para caminhar toda abrigada. Achei estranho. Não vi quando retornou. Domingo aqui é muito agitado, tu sabes, tem a feira. Observei que as janelas estavam sempre abertas Ultimamente os moradores tem comportamentos estranhos.
            —Obrigado Sr. João. Vou ver se a localizo.
            O irmão, que continuava aguardando na ligação falou — vamos ter que ligar para hospitais, DML, se saiu para caminhar, pode ter sido atropelada, deve ter ido sem documentos.
            Cristiano ligou para a amiga da mãe que morava fora da cidade, perguntando se ela havia se comunicado. Foi até o andar de baixo, onde residia outra amiga, também não estava.  Poderia ter tido onde iria. A mãe tinha dessas, era muito autônoma. E as vezes resolvia não dar satisfação para ninguém. E como ela dizia notícia ruim vem sozinha.  A amiga não sabia de nada e ficou bastante preocupada. Falou que ia ligar para ela. Ele explicou que não adiantava, o fone estava em casa e sem bateria.
            Ele achou melhor ir direto ao pronto socorro, e ao DML. Ligou para secretaria e pediu que desmarcasse a reunião. Nada nem sinal da mãe. Resolveu ir na polícia e registrar o desaparecimento. 
            — Que idade ela tem?
—60 anos, aposentada, estatura baixa, cabelos avermelhados, gordinha
—Tu já ligou para os amigos dela?
—O melhor amigo que me falou que ela não estava respondendo aos telefonemas dele.  Ficou pensando que não ligava todos os dias para sua mãe.  Cada um vivia sua vida independente.  Viam-se com frequência. Vou ligar para meu filho, ver se ela dize algo.
—Oi a vó ligou para ti? Te falou se ia viajar? Ir na casa de alguma amiga?
— Não pai, falamos no sábado. Aconteceu alguma coisa?
— Vim aqui na casa dela, e não a encontro. Mas logo deve retornar.
— Foste no pronto socorro, DML, hospitais? O policial impaciente fala.
— Pronto Socorro sim, DML sim e graças a Deus não estava lá. O porteiro do prédio foi o último a vê-la dize que cedo, tipo sete horas da manhã saiu para caminhar. Estava toda abrigada. Ele achou estranho, pois com a Pandemia ela não estava saindo de casa, só para o mercado. E que não a viu retornar. Observou que as janelas do apartamento estavam ficando abertas, mas que agora nesses tempos de isolamento os vizinhos tinham comportamentos alterados.
— Te aconselho a procurar outros hospitais, aqui somos poucos, vamos fazer algumas tentativas.
Os dias se passaram, ele foi a todos os hospitais da cidade, o irmão que morava em outra cidade veio para ajudá-lo. Os amigos iniciaram a ligar para todos que a conheciam e nenhuma pista.
—Ligaram para o pai, que residia em outro Estado, ele também há muito não falava com ela. Perguntou se ligaram para os ex-namorados dela. Não tinham o telefone. O filho lembrou que o fone dela estava em casa.  Ligaram para o Tomas, ele ficou surpreso e nervoso, não namoravam mais, mas seguido batiam papo. Nessa pandemia não haviam conversado. Mas ele concluiu: — tua mãe deve ter ido se encontrar com alguém. Ela não é pessoa de ficar sozinha. E deve ter esquecido da vida familiar.
O Ernesto: — Eu sempre orientei que tomasse cuidado. Ela é muito intempestiva, sair nessa pandemia caminhar domingo cedo. Vai ver alguém a sequestrou. E ainda mais ela que tem tantos inimigos.
— Inimigos, perguntou o filho? Como assim.
—Uma pessoa que trabalhou na prisão, o que tu achas? Só pode ter inimigos.
O filho logo viu que eram coisas do Ernesto. Sua mãe não tinha inimigo algum, pelo contrário era pessoa de muitos amigos. E no trabalho particularmente, tanto dos colegas como entre os que eram pacientes.
Os dias iam passado e nada de informação. O irmão mais velho retornou para casa, ele seguiu o trabalho, e a polícia não achou nenhuma pista.
No jornal de maior circulação na cidade, meia página com a foto e falando do desaparecimento.
Os filhos colocaram no facebook, instagram e outros a foto dela falando do desaparecimento.


                  O RETORNO
III


            Chegando na casa de Syrlon.
            — Espera aqui, vou ver uma roupa para ti, pode ser. Andamos na rua, sentamos, essas roupas podem estar contaminadas.
            Ela acenou com a cabeça
            — Espero que sirvam, olha  aqui no lavabo, deixo as roupas da rua.
            Trocou-se, e quando entrou ele já estava junto a lareira iniciando o fogo.
            — Fica à vontade, queres me ajudar?
— O que precisas?
Foram para a cozinha ele pediu para fazer a salada, enquanto preparava a carne para assar.
—Não te decepcionas, vou fazer o churrasco no forno.
—Com esse frio, melhor assim.
—Toma vinho? Ou queres uma caipirinha?
—Vinho
Syrlon colocou Zeca Baleiro. Dafne ficou feliz, amava Lenha e quase todas as músicas dele. Adora essa ,era uma provocação.
Lavou as alfaces, as rúculas, as radides, cortou os tomates, escaldou as cebolas.
—Não prefere que eu coloque as cebolas no forno?
—Adoro.
—Coloca palmito, pode ser?
Dafne sentiu um arrepio. Pensou que ele era perfeito. Até palmito ele gostava. Perfeito demais. Não podia beber e perder os sentidos. Era muito doida. Estava ali na casa daquele homem espadaúdo, forte e não avisou ninguém que ia sair para caminhar.
 Entre morrer atacada pelo covit19 fez a opção que seria melhor aquele ataque. Um homem que parecia um urso. E que perfume, amadeirado... e que voz, rouca.
Devo estar no nirvana. E deixou correr.
Foram para a sala ele queria lhe mostrar uma poesia da Adélia Prado. E ai sim ela pensou isso não deve estar certo, alguém está me pregando uma peça.  Deve ter entrado num portal. “Casamento” , sua poesia preferida. Beijaram-se.... e ali ficaram....quietos...ouvindo a música. O cheiro da carne os tirou daquela letargia.
E assim ficaram os dois, entre uma refeição e outra. Pela manhã saiam para caminhar, passavam os dias a ler, conversar, ouvindo música...
Foi procurar no facebook   a foto de Spello, quando encontrou sua foto, e a informação que estava desaparecida. Um balde de água fria, e um retorno rápido a realidade. — Syrlon, olha isso? Não liguei para os filhos, pensam que estou desaparecida.
Os dois riram, se beijaram e ela fez ligação para os filhos. Só sabia de memória o do caçula que era muito parecido com o seu.
— Genaro,
— Mãe, onde tu estás?
—Genaro, mil desculpas, estou na casa de um amigo. Perdi o tempo. Estou bem. Tu podes me dar o fone do teu irmão que eu ligo avisando.
—Mãe liga para a polícia, e diz que tu apareceu. Tomas é a pessoa que mais te conhece mãe. Ele me falou que tu devias estar na casa de alguém.
—Ligo sim.   Tomas tem uma alma muito parecida com a minha.
—Genaro, não vou voltar agora. Salva esse fone, é do Syrlon, se precisares falar comigo. Beijo, te amo.


sexta-feira, 2 de novembro de 2018



Em 9 maio 2018, lancei a Antologia de Contos PRA VER A BANDA PASSAR- CONTANDO HISTORIAS DE AMOR, com outros oito autores. Essa coletanea é resultado da participação na Oficina de escrita literária, coordenada pela escritora Jacira Fagundes. Participo dela desde 2016.
Escrever foi sempre um desafio, e agora aposentada estou podendo me dedicar a ler e escrever.
Escolhemos nos inspirar nas musicas do nosso amado Chico Buarque de Holanda. Eu escolhi tres musicas não muito conhecidas.
A primeira A Ostra e o Vento, que foi feita para trilha sonora do filme de igual nome. E para minha supresa o filme foi baseado num livro com o mesmo título. Nele conto a historia de uma mulher jovem, que mora numa ilha como seu pai que é faroleiro. Uma história de amor, e auto conhecimento.
No segundo , a musica Doze anos, nela Chico fala da infancia de menino peralta. E eu no meu conto , falo de uma menina curiosa, alias o nome do conto é : Curiosidade infantil, que gosta de abrir sapos.
O terceiro e último, um menino, narrador, conta sua viagem com a avó paterna ao Rio de Janeiro, e sua experiencia de falar com um esquilo.
Convido-os a ler. Pode ser comprado pela AMAZON, da editora Metamorfose.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018


O  Porteiro 


                                           

                                                        Magaly  Andriotti Fernandes


Ele chega pontualmente às 5h55min. Fala alto, não se apercebe que sua voz pode acordar os condôminos, logo ele tão cuidadoso. Fala grosso e o som se propaga. Fica ali sentado, atende ao interfone, abre e fecha o portão dos carros e a porta dos pedestres. Não é de muita fala, bom observador, conhece a vida de todos. Só reproduz, uma história, um fato, se alguém lhe interroga. Por si só, não relata e não inventa nada, não gosta de fofocas. Preciso.  Observa todos como uma águia. Seus olhos escondem-se por trás de um grande bigode, bigode denso e escuro, olhos de bom observador. Foi contratado nos primeiros dias após a inauguração da construção. Já há muito tempo poderia ter se aposentado. Chegou aqui com outros dez anos de portaria. O prédio onde trabalhava anteriormente era bem pequeno, não gostava de lá e o salário era bem menor. Nesse, são 480 apartamentos, duas portarias. Ele fica sempre na mesma, argumenta que assim é melhor para segurança. Não aceita trocar. Trabalha no turno da manhã, e raramente cobre a folga de algum colega. Não gosta de falar de si. Faltar ao trabalho, inverno e verão, não importa, segue seu cotidiano. Faltou só quando a mãe faleceu. Tem que sair de casa as 4 horas da madrugada para chegar no horário. Não suporta pensar em chegar atrasado. É um homem de mais de sessenta anos, saudável, forte, peso adequado ao seu biótipo, calvo.
            Desde o início de agosto anda cabisbaixo, pensativo: -  quarenta anos, quarenta anos e todos os dias a mesma rotina. Acorda, faz sua higiene, toma uma xicara de café preto, reflete, não suporta leite, ovos mexidos, hoje, não vai comer. Alimenta seu canário, ele é tudo o que tem de bom e perfeito, o deixa na área de serviço e sai. Por vezes pensa em levá-lo consigo. Isso o distrairia, não varia bem seu trabalho e por isso o deixa, ali solitário. O ônibus fica há três quadras. O motorista e o cobrador, já conheceu muitos. Até a linha do ônibus não é mais a mesma. Agora ele, ele não, sempre fazendo aquele mesmo percurso, indo para o mesmo destino. Outro dia aquela vizinha, a primeira a ocupar o apartamento do bloco Y, no décimo andar, lhe perguntou: - tu quem és?  Quando trocaram o porteiro e eu nem sabia? Imagina, sempre a cumprimentou. Quantas vez já interfonou avisando que chegara alguma encomenda, ela mesmo recebeu de suas mãos, fazia algum comentário sobre política. Ele que se preocupava em não deixar nenhum estranho entrar. Em zelar pela segurança de todos.  O que essas pessoas pensavam sobre ele? E aquela menina desaforada do bloco G, que chegava gritando, dizendo palavrões, ele aceitava quieto, calado, não fez nunca queixa aos país.
            O que fez de sua vida! Não casou, cuidou da mãe até três anos passados, quando um câncer a levou. Esse mês completa aniversário de falecimento. Os irmãos nunca cuidaram dela, e não lhe agradeceram por ter dedicado seus dias a cuidá-la.    Chega em casa, faz o almoço, lava roupa e vai ler. Não gosta de televisão, gosta sim de uma boa série policial. Isso também lhe incomoda muito.  Essa semana mesmo, terminou sua serie preferida, Luther.  Isso não é correto, esses diretores deveriam fazer séries que não tivessem fim. Não é certo deixar o espectador assim desamparado.
            A manhã ali naquele prédio é relativamente tranquila. As pessoas, em sua maioria saem para o trabalho. Essa semana tinha o velório do senhor do bloco H. Um homem de setenta anos, bom papo, um enfarto e pronto. Observa que agora residem mais idosos, o número de pessoas ficando pelos bancos a tomar chimarrão é significativo. E ele, quando irá poder ficar assim parado, vendo a vida passar. Bobagem a sua, já tem feito isso. O que é ser porteiro? O que fez para mudar o mundo? Os moradores nem percebem quando ele está mais triste, ou mais alegre.  Também sempre cuidou para não mudar seu comportamento, solicito, gentil, aplicado, escrupuloso e prestativo. Tem aqueles mal-educados, e ele ali firme, correto.
            Naquela segunda feira, um tal fala-fala, onde estaria o porteiro? Não telefonou avisando que não viria, na terça e na quarta a mesma coisa. O sindico achou melhor pedir ao zelador para ir visitá-lo e saber o que estava acontecendo. No apartamento, um cheiro estranho, escuta-se o canário cantando intensamente. Toca a campainha e nada. Pergunta aos vizinhos e ninguém sabe dele. Não tem familiares na cidade. Liga para o irmão, único telefone que registrado em sua ficha funcional. Nada sabe, autoriza ligar para os bombeiros e abrirem a porta. Lá está ele, corpo inerte, azulado, com o uniforme, pendurado em uma corda.

sábado, 15 de setembro de 2018




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 Southernmost - Rumo ao Sul , de Silas House, tradução de Elvira Serapicos, 2018
Comentário crítico: Um livro gostoso de ler, com um tema intrigante. Após uma enchente que destroe a cidade onde reside o pastor Asher Sharp, onde ele tenta apoiar um casal homosexxual, e de deixa levar pelos preconceitos de sua esposa, sua vida toma um rumo totalmente diferente. O ocorrido, faz com que ele reveja sua infancia e adolescencia, quando sua mãe expulsa o irmão homossexual de casa. O irmão mais velho, que eram muito amigos. Ele , já no passado, não conseguiu fazer frente a atitude arbitrária da mãe.
Uma edição bem feita, de forma a facilitar a leitura.
Um casal que uniu-se por terem a mesma fé. Ele foi lendo e crescendo, verificando que o que pregava não tinha nada haver com a espiritualidade. Que sua leitura da Biblia era equivoda. Sua esposa,não parou no tempo, uma pessoa com conceitos rigidos.
Eles tem um filho de nove anos, menino sensivel, o que incomoda a mãe.
Li em menos de cinco dias.
Ele diante do impedimento de conviver com o filho, numa decisão judicial, foge com o menino em busca de seu irmão.
Encontra o irmão, agora padre. Mora por tres meses em Key West, trabalha e conhece pessoas amorosas. O lugar onde vivem esse período é paradisiaco. 
Ao encontrar o irmão , se dá conta que tem que voltar, que não pode manter-se com o filho fugindo sempre.
O livro termina ele ainda preso.
Eu que trabalhei sempre com os conflitos humanos que produziram crime, o que continua a me chocar, e uso da pena de prisão para resolver conflitos familiares, que necessitam de falas, de circulos restaurativos. Que finalidade tem a prisão ai?
Na visão do menino, a mãe, inicia algumas modificações, e promete que irá defender o pai, para que ele saia mais rápido da prisão.
O tio, não conseguiu perdoar o irmão que não foi em sua busca quando fugiu de casa.

sábado, 1 de setembro de 2018


O reverso do amor materno
                                                                                                          Magaly Andriotti Fernandes

                A manhã já corria solta, e ela ali, encolhida naquela cama dura, não queria abrir os olhos. Sim, estava presa, não podia acreditar, mas ali estava entre seis estranhas mulheres que não paravam de falar. O som a irritava mais ainda. Na suas lembranças as palavras amargas da mãe ainda ecoavam: - “vadia, preguiçosa, você não vai ser nada. Sai daqui, vai embora. “- “tu não serve para nada”
                A que ponto chegou sua relação com a mãe. Chora baixinho, e logo uma pessoa diz: - não, chora não. Aqui a gente não chora. Ela não conseguia parar. Em seus pensamento, a cena voltava e voltava. Tinha saído com o amigo do cursinho, e fora dançar, como qualquer adolescente de sua idade.  De que adiantava ter dezenove anos senão podia se divertir.  Quando chegou em casa a mãe que não tinha tomado a medicação, passou a agredi-la verbalmente. O repertório dela era sempre o mesmo, sempre desqualificando e colocando a para baixo.  E gritando bem alto: - não te falei que não era para sair, não te quero mais na minha casa, tu faz o que tu queres, anda com esses caras e agora aqui na minha casa. Pode pegar as tuas coisas e ir embora. Ela assustada, não tinha para onde ir. Tentou explicar para mãe como estava se sentindo, que não tinha feito nada demais, só dançara, que esse amigo estudava com ela. Tentou falar sobre seus projetos, de como vinha estudando para o vestibular, mas a mãe não a escutava, gritava mais ainda.
                Tinha bebido um pouco, o cotidiano não era fácil, queria fazer teatro, a mãe não deixava, queria fazer bale, não tinha recursos, queria namorar, não podia. Nem meditar estava mais conseguindo. Desde os seis anos quando os pais separaram sua vida virou esse inverno. O pai morava numa cidade próxima, mas pouco as visitava. Quando estava em casa a vida era bem mais leve.
                O pai era um homem triste, mas carinhoso, atencioso. Trabalhava, não ganhava muito. A mãe tinha o salário maior, até que sofreu um acidente de carro e teve que aposentar-se por invalidez. Desse dia em diante a vida deles nunca mais foi a mesma. A mãe que por muito tempo precisou usar cadeiras de rodas e necessitava de ajuda permanente, brigava com todos, não conseguiam fixar uma cuidadora. Além das sequelas físicas restaram as emocionais. A avó materna, que era sua aliada faleceu.  Os recursos econômicos foram se extinguindo e restou para ela e a irmã os cuidados com a mãe. A irmã ingressou na faculdade, e foi trabalhar, e ela que não conseguia trabalho ficou ali subjugada pela mãe e suas loucuras. O que está acontecendo comigo que nem trabalho consigo? A pergunta ecoava em seus pensamentos sem resposta, estava emaranhada com a mãe e a irmã.
                Desenhava muito bem, interpretava otimamente, adorava fazer ioga. Não conseguia ser como a mãe e a irmã, aprender as tarefas administrativas, as ciências exatas eram muito chatas, e complicadas. Seus sonhos eram muito diferentes, queria ser atriz, queria dançar. Isso incomodava a mãe.
                Quando a gritaria acalmou, passaram se os minutos e a mãe, parecendo mais tranquila, a chamou para ver um filme. Deixou-se cair nos braços da mãe e acomodou-se ao seu lado. A mãe sentiu o cheiro da bebida e reiniciou a briga. A mãe lhe bateu no rosto, puxou-lhe os cabelos, como se fosse um menininha. Já era uma mulher, moça, jovem, porém mulher. Ali foi a gota d’água, ela pegou a mãe pelo pescoço, e apertou forte. Deve muita vontade de estrangulá-la. Parou e saiu correndo para seu quarto. Chorou muito. A mãe levantou-se e chamou os vizinhos, que chamaram a polícia. A irmã contou que ela vinha se drogando, mentira. Bebida sim, mas droga não. Elas não a viam como era. Sempre a viam como um monstro, não a respeitavam na sua singularidade. Ela odiava a irmã. E agora odiava a mãe também.
                 Quando nasceu precisou ficar uns dias a mais que mãe no hospital, teve icterícia. Quando veio para casa a irmã que era mais velha que ela dois anos, não a aceitou muito bem. O pai era com quem melhor se entendia. Sempre foi uma menina magra, de poucas palavras, mas muito sensível. Adorava dançar, e a avó pagou para que fizesse bale. Na escola, as disciplinas sempre gostava mais de português, de literatura e de filosofia. Adorava ler, escrever, cantar e dançar, o que a mãe sempre a criticava. Onde tudo isso iria levá-la, sua mãe uma mulher pragmática. A irmã foi estudar economia.
                Quando amanheceu uma companheira de cela pediu para a guarda tirá-la da cela, e foi conduzida ao serviço de psicologia da prisão.
                Não conseguia falar, só chorar e tremer, num misto de frio e medo. Não queria retornar para a cela, tinha medo que as outras a matassem, que lhe fizessem mal. Queria ficar quieta e só, e poder pensar sobre o que tinha se passado. Sentia-se muito mal, parecia que ia morrer, tamanha era a dor de cabeça. Falava que se tivesse que ficar ali, era melhor que morresse. Que ia matar-se, que a vida não tinha mais sentido. Estava com raiva da mãe por tê-la colocado naquele lugar. Não precisa ter feito queixa. Tinha que estudar para o vestibular, não podia perder as aulas, o cursinho já estava pago.  A tia tinha feito isso por ela, e agora como seria. Teria que ficar ali presa quanto tempo?  Precisou ser levada ao atendimento de emergência para ser medicada.
                Como sua liberdade provisória demorou para vir, foi sendo atendida pela psicóloga, e foi refletindo sobre sua vida com a mãe. Pensou que quando saísse da prisão não ia mais morar em casa, ia trabalhar e parar de estudar.
                Sua irmã imaginava que ela queria roubar a mãe, que seus amigos eram usuários de drogas, que ela poderia tentar fazer algo contra sua mãe. Ela era vista com uma estranha para a família.
                Tinha já feito tentativas de alçar voo, sem sucesso. Saiu de casa aos 16 anos e foi morar na praia e trabalhar. A saudade de casa, da mãe e da irmã não a deixaram ficar.  A segunda vez, não fazia muito, estava em casa de volta há mais ou menos seis meses. Porque não conseguia ficar longe dessas pessoas que não a amavam. Os momentos que a mãe e a irmã eram carinhosas eram mínimos, a maior parte do tempo ocorriam os maus tratos, o que se passava com ela. Pensou que devia ser o medo do mundo, dos estranhos. Agora isso ia ser diferente.
                Começou a pintar e a ler, isso a ajudava passar as horas naquele lugar. Aproveitou para ler, ler tudo que lhe caia nas mãos, chegou a trabalhar uns dias na biblioteca da casa prisional. Como não chegava sua liberdade, raspou seus cabelos, fez uma promessa para sair daqui. Era devota de Santa Teresinha. Antes de receber a graça, já pagou a promessa.
                Quando sua liberdade saísse, ela já tinha uma proposta para si mesma de nova vida. Morar na cidade do pai, e trabalhar. O vestibular, o estudo, ficaria para segundo plano. A mãe, essa, ela agora não mais queria ver. Estava morta para ela.


terça-feira, 29 de maio de 2018

RISCO E RABISCO:                                 AS ARANHAS ESUAS...

RISCO E RABISCO:

                                AS ARANHAS ESUAS...
:                                 AS ARANHAS E SUAS TEIAS   MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES Você já parou para apreciar a teia de ara...



                                AS ARANHAS E SUAS TEIAS 
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
Você já parou para apreciar a teia de aranha? Não, então o faça. Elas tem uma precisão geométrica. Nem todas as aranhas fazem teias e nem todas a constroem igualmente. Umas a fazem compacta, outras em forma de rede e ai vai a criatividade desses aracnídeos. Pela manhã, ainda com orvalho elas ficam mais visíveis. Outras vamos caminhando e nos vemos dentro literalmente da teia, ai necessário cuidar para não levar uma picada. Afastar a aranha, pedir desculpas por desmanchar seu trabalho tão minucioso e belo.
Os cientistas estudam as propriedades da teia na tentativa de reproduzi-la, para usa-la nas cirurgias e em outras tecnologias. A textura, a espessura, a flexibilidade e a invisibilidade seriam ideal para as costuras da pele humana, porém ainda não a conseguiram reproduzir. As aranhas produzem em seu abdome um liquido, semelhante uma cera que logo que sai se solidifica. 
Nem todas fazem suas teias para capturar seu alimento, insetos, moscas, pequenos animais. As que fazem, constroem um cabo que facilita sua circulação sem serem vistas pelas presas. São verdadeiras alpinistas.
Passei da fase de teme-las para admira-las. Tenho me perguntado qual a missão das aranhas na natureza?  Elas caminham silenciosas, são multicoloridas, de tamanhos diversos, umas mais ofensivas a vida humana que outras. Mantem o número de pragas reduzidos. São mágicas.
Nos meus sonhos elas eram terrorrificas. Gigantes, capazes de digerir um humano por inteiro. Penso que na minha infância assisti filmes de terror em demasia.  Agora os diretores destes filmes também imaginaram a possibilidade de um erro genético e as aranhas crescerem mais que nós, e poderem nos capturar em suas teias. As teias de aranhas povoavam as casas das bruxa e os castelos mal assombrados.
Eu quando com medo das aranhas sou capaz de mata-las sem do nem piedade.  Piso em cima, aspiro ou queimo. Mato as vezes com requinte de crueldade.  Quanto maior o medo maior a crueldade.
Esses sonhos deveriam ter-me feito repensar minha ação. Deixar de ser cruel com os pequenos animais. 
Que sentido tem eu, uma gigante, diante desse pequeno espécime, destruí-lo; medo, medo maior que a minha estatura. A medida que enfrento meu medo, que o gerencio, vou podendo conviver com os aracnídeos em geral.  Tenho buscado ler sobre elas, agora que a internet me permite conhece-las em seu habitat, olhar e pesquisar sem risco algum. Esse processo me alivia e me amadurece.
Posso agora caminhar pela floresta, parar observar, fotografar, as vezes filmar uma aranha em ação, ou fazendo sua teia, ou comendo algum inseto. Não interfiro, olho penso, depois vou comparar. Comparar com a minha vida, com a vida de outros seres, contemplo.
Descobri que no Brasil existem apenas três espécies de aranhas letais, a viúva negra, a armadeira e a aranha marrom. As que produzem teias normalmente não são peçonhentas.
Saindo do lugar do reagente agressor, hoje posso conviver com as aranhas e aprecia-las. Gostaria de juntar-me a esses estudiosos na busca de reproduzir a teia.  Já que não posso teço, teço o algodão e outros fios. E estou muito distante da precisão aracnídea.

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e... :  "As cinco direções de um corpo" é o novo ...