A borboleta coruja
Magaly Andriotti Fernandes
Liloca adora fazer casinha para as
bonecas nas raízes da paineira. Ela e as amigas ficam ali horas a
brincar. Nos meses de março e agosto as
arvores ficam rosas de tantas flores.
O chão permanece um limo só. As flores caem muito com o vento e cobrem
tudo. Elas são suculentas. As meninas usam o pistilo para fazer comidinha
para as filhas. O perfume é suave, só enjoativo, senão limpa todo o dia.
Bem próximo, um jardim cuidado
pelas freiras da Escola, vizinha a sua casa, repleto de rosas, margaridas, amores perfeitos e uma infinidade de flores. E com isso borboletas diversas
rodeam. Liloca resolveu fazer uma coleção de borboletas. Ela ganhou de
presente um saco de filo com o qual corria atrás das borboletas para
aprisiona-las. Em seu quarto tinha um painel de cortiça onde espetava os
insetos com alfinetes. Já tinha ali umas 12 espécies diferentes.
Um final de tarde bem na paineira
pousou uma borboleta muito escura e linda, suas asas pareciam com dois olhos. A
menina levou um susto, logo pensou que era uma coruja. Ao aproximar-se ela vou.
Liloca ficou intrigada. Aquela borboleta, nunca há tinha visto. Precisava dela
para a sua coleção. Chegou em casa e correu para o computador em busca de
informação. Hum... uma borboleta coruja?
Então existe mesmo uma com esse nome. Sua observação e seu espanto tinham
sentido. E agora como capturar uma ?
Suas amigas ficavam horrorizadas com
essa coleção e perguntavam: - porque
você precisa matar as borboletas? Não vê que assim elas não ficam colorindo a
vida?
Liloca também ficava triste, mas
precisava conhece-las melhor. Em casa nos dias de chuva, que não conseguia sair
de casa ficava ali a olha-las e a pesquisar mais sobre elas. Sabia que as
borboletas eram extremamente importantes para a polinização, sabia que elas
colocavam seus ovos nas folhas de determinadas plantas, e que esses ovos se transformavam
em lagartas, e as lagartas em pupas.
Descobriu uma técnica de plastificar
as borboletas de sua coleção para que elas não se desmanchassem com o tempo.
Fotografou-as e passou a escrever sobre elas. Quanto tempo viviam, que flores
gostavam de pousar. Pesquisa muito restrita, pois ficava apenas nas especies do jardim. No computador, pode aos poucos ir fazendo comparações, e ampliando
seu conhecimento e amor pelas borboletas.
Um dia, no meio das folhas, achou uma
borboleta coruja morta, inteirinha. Puxa que maravilha! Pegou-a com todo cuidado e a levou para o seu
mural. E pensou: elas tem um tempo determinado de vida ou não? Penso que sim.
Foi ler e viu sim que podem viver até três meses. Não lembra de ter
encontrado outra borboleta morta pelo jardim. Quem seriam os predadores das
borboletas. Já tinha visto o gato da
vizinha correndo atrás de uma. Que gosto teria uma borboleta…eca…isso, ela podia
ficar na descrição, não precisaria experimentar.
Esse encontro com a borboleta coruja
morta foi um divisor de aguas em sua vida. Prometeu para si mesma não mais
captura-las. Só três meses de vida, elas faziam do jardim um paraíso. As flores
precisavam delas para polinizar. Ia esperar que a morte viesse naturalmente.
Sim pois a que encontrou não tinha sido atacada, não devia ter sido atacada...
estava totalmente inteira, perfeitinha. E ai: uma borboleta tem coração? Como ela
simplesmente deixa de viver? Para e cai?
Adoro os teus textos. São maravilhosos.
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