sábado, 19 de agosto de 2017


A borboleta coruja
Magaly Andriotti Fernandes
Liloca adora fazer casinha para as bonecas nas raízes  da paineira. Ela e as amigas ficam ali horas a brincar.  Nos meses de março e agosto as arvores ficam rosas de tantas flores.  O chão permanece um limo só. As flores caem muito com o vento e cobrem tudo. Elas são suculentas. As meninas usam o pistilo para fazer comidinha para as filhas. O perfume é suave, só enjoativo, senão limpa todo o dia.
Bem próximo,  um jardim cuidado pelas freiras da Escola, vizinha a sua casa, repleto de rosas, margaridas, amores perfeitos e uma infinidade de flores. E com isso borboletas diversas rodeam. Liloca resolveu fazer uma coleção de borboletas. Ela ganhou de presente um saco de filo com o qual corria atrás das borboletas para aprisiona-las. Em seu quarto tinha um painel de cortiça onde espetava os insetos com alfinetes. Já tinha ali umas 12 espécies diferentes.
Um final de tarde bem na paineira pousou uma borboleta muito escura e linda, suas asas pareciam com dois olhos. A menina levou um susto, logo pensou que era uma coruja. Ao aproximar-se ela vou. Liloca ficou intrigada. Aquela borboleta, nunca há tinha visto. Precisava dela para a sua coleção. Chegou em casa e correu para o computador em busca de informação.  Hum... uma borboleta coruja? Então existe mesmo uma com esse nome. Sua observação e seu espanto tinham sentido. E agora como capturar uma ?
Suas amigas ficavam horrorizadas com essa coleção e perguntavam:  - porque você precisa matar as borboletas? Não vê que assim elas não ficam colorindo a vida?
Liloca também ficava triste, mas precisava conhece-las melhor. Em casa nos dias de chuva, que não conseguia sair de casa ficava ali a olha-las e a pesquisar mais sobre elas. Sabia que as borboletas eram extremamente importantes para a polinização, sabia que elas colocavam seus ovos nas folhas de determinadas plantas, e que esses ovos se transformavam em lagartas, e as lagartas em pupas.
Descobriu uma técnica de plastificar as borboletas de sua coleção para que elas não se desmanchassem com o tempo. Fotografou-as e passou a escrever sobre elas. Quanto tempo viviam, que flores gostavam de pousar. Pesquisa  muito restrita, pois ficava  apenas nas especies do jardim. No computador, pode aos poucos ir  fazendo comparações, e ampliando seu conhecimento e amor pelas borboletas.
Um dia, no meio das folhas, achou uma borboleta coruja morta, inteirinha. Puxa que maravilha!  Pegou-a com todo cuidado e a levou para o seu mural. E pensou: elas tem um tempo determinado de vida ou não? Penso que sim. Foi ler e viu sim que  podem viver até três meses. Não lembra de ter encontrado outra borboleta morta pelo jardim. Quem seriam os predadores das borboletas.  Já tinha visto o gato da vizinha correndo atrás de uma. Que gosto teria uma borboleta…eca…isso, ela podia ficar na descrição, não precisaria experimentar.
Esse encontro com a borboleta coruja morta foi um divisor de aguas em sua vida. Prometeu para si mesma não mais captura-las. Só três meses de vida, elas faziam do jardim um paraíso. As flores precisavam delas para polinizar. Ia esperar que a morte viesse naturalmente. Sim pois a que encontrou não tinha sido atacada, não devia ter sido atacada... estava totalmente inteira, perfeitinha. E ai: uma borboleta tem coração? Como ela simplesmente deixa de viver? Para e cai?



Um comentário:

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