segunda-feira, 23 de outubro de 2017


Passear de mãos dadas

                                                                               MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES

                 Ontem caminhando pela rua de minha casa, retornando do almoço, dia lindo de sol, domingo, vejo um casal de idosos caminhando de mãos dadas. Uma cena linda, os dois conversavam, via-se ao longe que havia ali muita amorosidade.
            Eu que vinha com meus pensamentos saudosista, lembrando meus velhos sonhos de adolescência, e esse era um deles, envelhecer junto com a pessoa amada. Andar pela rua de mãos dadas.  Olhos já cheios de lágrima, suspiro e penso: do que estou me queixando? Eles estão há uma três décadas a minha frente, ainda tenho muita estrada a andar.
            Amar é algo intrincado não acham? Precisamos mais de um para amar.  Pensamento talvez equivocado.  Importante nos amarmos em primeiro lugar. Na novela das nove a globo colocou uma moça que faz uma cerimônia de casamento para casar consigo mesma, para dizer para todos amigos e família que se ama. Um ato meio doido a princípio, insano. Necessitamos da aprovação dos que convivemos para amar, ou não.
            Voltando ao casal que vinha numa linda tarde de domingo, andando de mãos dadas e numa conversa amorosa. A rua linda também arvores todas floridas, primavera na capital gaúcha, os pássaros fazem uma sinfonia, uma trilha sonora ao amor. Eu caminho mais devagar, para continuar observando. Eles entram em casa, trocam um leve beijo. Suspiro, suspiro fundo numa inveja boa.
            Penso essa cumplicidade, esse envelhecer mantendo o diálogo, isso sim é importante numa relação a dois. Sim hoje já me dou conta que consigo viver bem sozinha. Não me impeço de fazer qualquer coisa pois não tenho companhia. Caso algum amigo ou amiga não posso, vou sem só. Sempre é melhor ir a dois, a três, em grupo. Em algumas ocasiões ir só e preferível; o cinema por exemplo. Adoro ir sozinha ao cinema, não fico tentada conversar durante o filme. Tomo um café antes, leio o jornal na cafeteria, as críticas sobre o filme. Depois sim, depois os amigos se fazem necessários, não tem graça ver o filme e não ter com quem comentar, com quem discutir sobre o tema, sobre o diretor, as cenas, a trilha sonora.
            Primavera é isso, caminhar domingo a tarde de mãos dadas com a pessoa amada. Ainda chego lá.
Porto Alegre, 23 julho 2017.



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