domingo, 11 de março de 2018



                                           Abacateiro
Magaly Andriotti Fernandes
Na casa, onde tinha meu consultório, existia um grande abacateiro.  Lembro que quando retornava das férias em março, o chão ficava cheio de abacates maduros. E os sabias faziam aquela festa. Comiam todinhos deixando apenas as cascas limpinhas, bonito de ver.
Abacateiro, onde está seu abacate diz a música do Gilberto Gil, Refazenda, que eu adoro. E pasmem, não é muito simples no pomar termos essas frutas: apesar de serem hermafroditas –flores masculinas e femininas na mesma inflorescência – as variedades de abacate apresentam comportamento distintos quanto ao período do dia no qual ocorre abertura das flores. Algumas cultivares abrem as flores femininas pela manhã e as masculinas a tarde, enquanto outras apresentam comportamento inverso. Assim no pomar, se almejamos frutas, é preciso que plantemos os dois tipos de planta para garantir a fecundação das flores. E a música continua... “abacateiro saiba que na refazenda tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar”.
Ali onde trabalhava existia apenas um pé, mas nas vizinhanças possivelmente devia existir outro tipo de abacateiro. Os abacates eram grandes e suculentos. Quando os sábias deixavam alguns para nos. Alias para isso colhíamos antes de caírem ao chão, antes mesmo de amadurecerem, e esperávamos o resto do processo de maturescência para saboreá-los.  A magia da polinização. As flores necessitam estarem abertas no mesmo período do dia para que surja o fruto.  Fiquei surpresa e admirada com essa descoberta, a natureza é sabia. E passei a gostar mais ainda dos abacates.
Uma fruta tão rica em vitaminas, de um verde tão encantador. Eu não tinha observado que o abacateiro dava flores. E que tinham flores que abrem pela manhã, outras a tarde. E que existem flores femininas e outras masculinas. Vivemos e não nos inteiramos da riqueza do amor que está na nossa proximidade. Bem ali, no pátio, do lugar onde eu, procurava ajudar as pessoas a se encontrarem. Quem sabe em quantas casas as flores estão assim desencontradas. A resposta está ali e não a vemos. Todos os anos o mesmo fenômeno, o abacateiro floresce, suas flores são polinizadas, nós comemos suas frutas.


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