segunda-feira, 6 de março de 2017

EU, segundo minha neta caçula

                                                                                        Magaly Andriotti Fernandes

                            Amei me ver assim retratada aos olhos de uma menina de três anos. Multicolorida, braços abertos, cabelos crespos, boca meio sisuda, olhos abertos e um nariz grande o suficiente para sentir os cheiros que a natureza nos brinda, pernas firmes  em direção ao amanha.
                            E essa menina não é simplesmente uma menina, ela é a  minha neta caçula. Tenho outra neta e um neto, mais velhos. Eles devem também ter me retratado, mas cada um em seu momento e eu no deslumbre de ser avó, não capturei as imagens. Seria interessante observar as diferentes formas como me viram  e me desenharam.
                           Entendi que o colorido, e digo entendi, pois ela não me dize nada, como boa artista desenhou, que a emoção e o carinho que quero transmitir chega. Que a alegria de estar com ela, a festa e percebida.
                           Ser avo paterna é deveras muito complicado. Não pensem que é assim , nasce o neto ou a neta e já estamos ali prontos para o momento e as vivencias que decorreram. Com cada neto e neta é um aprendizado. Assim como as cores em suas singularidades os sentimentos que vão acordando e se manifestando.
                             Digo sempre que no período que fico com elas e ele, faço uma regressão ao meu eu infantil, e tenho que reconhecer que não é difícil. Minha criança interna esta ainda bem viva e arteira. O complicado é ter que depois voltar ao mundo adulto. Tem brincadeiras que eu travo, não vou adiante. Por exemplo elas agora tem um pula pula gigante, e querem que eu entre la e pule com elas, não dá. Isso não é  para mim. Uma que estou com o peso bem acima da media, e outra que não me imagino pulando. Subir em arvores, isso sim eu amo. Agora só as mais baixas e com galhos fortes para me suportarem. Essa sim é uma brincadeira que eu gosto. Ficar la encima, olhar os pássaros, jogar com canudinho de taquara bolinhas de cinamomo nos outros.Brincar de casinha, de comidinhas, de roda, de cantar, de contar e de ouvir historias. Sim tem avós e avôs que pensam que só tem a ensinar, mas com as crianças aprendemos muito. E as historias que eles contam são muito criativas e inovadoras.
                            Eu adoro quando estamos todos juntos, ver os dois mais velhos em conversas filosóficas, religiosas,históricas e cientificas. Eu não saberia dizer se todas as crianças são assim , mas os meus netos são. E o emocionante são as trocas afetivas, como se cuidam e são confidentes um do outro. E a pequena aprendiz os olha, copia, cria e inventa  novas formas  de estar no mundo.
                             Com eles minha escritora já se manifestou, produzimos livros a dois, a três. Eu já bordei dois livros. Um a partir de um personagem criado pela caçula, um cavalo rosa, o segundo com a menina flor, minha neta do meio. O primeiro foi  a Cobra-cão, nasceu a partir da confecção de uma cobra de tecido de cinco metros. Quando vi a cobra pronta, olhinhos, aquela enorme almofada, o texto foi brotando, uma cobra que queria ser cão de guarda de duas meninas. 
                               Com eles o mundo fica colorido e produtivo. E ai estou eu, assim retratada, colorida e crespa.
Porto Alegre, 03 março 2017.

3 comentários:

  1. Lindo Magaly!
    Assim como teu viver com teu neto e netas.

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  2. Magaly: Que texto mais bonito e sensível. Muito me honra fazer parte tão intimamente dessa história - sermos avós das mesmas netas - que entendo profundamente tua escrita. Que bom seria mais e mais avós Magaly, com essa entrega, percepção e respeito ao ser e fazer criança.

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