sexta-feira, 15 de julho de 2016

                                                           E a vida continua

                Chovia, as duas amigas sentadas num café, entre uma taça de champanhe e outra, a conversa corria solta.
- Tália, para quem eu vou olhar agora?
- Como assim, para os homens guria. Ou estas em dúvida disso?
- Não é isso, há vinte e cinco anos, não que não achasse um que outro homem bonito, eu amava Aristeu, tinha olhos só para ele, não me preocupava em olhar para outros. Quando tinha dezesseis anos, quando nos conhecemos eu o achava tudo, um deus grego. E agora?
- Eu penso que isso é natural. Quando pintar um clima vais sentir. E como andar de bicicleta, nunca se esquece. Logo vais estar namorando novamente.
- Penso que não.
                Uma pedaço de torta, um gole de champanhe, e Dafne fica ali, lembrando de seu grande amor, ah, como o tinha amado. Aqueles cachos, aquele sorriso, e as coxas…ele tinha coxas lindas, e os pelos no peito. Suspirava. Não se sabia se do prazer da torta com a champanhe, ou se das lembranças do amor perdido.
                Tália observava a amiga, e como nunca tinha casado, vivia de namoro em namoro, não estava conseguindo entender onde a amiga queria chegar.
 - Para de suspirar menina.  Vamos sair, vamos dançar, vamos ao teatro, ao cinema, e logo vais encontrar alguém que te atraia. Não te antecipes, dê tempo ao tempo.
- Dafne, eu não nasci para viver sozinha. Adoro ter alguém ao meu lado para dormir, adoro cozinhar pensando em quem vai comer, adoro jantar à luz de velas, passear de mãos dadas, e quando, quando vou poder novamente curtir tudo isso? Uma lagrima escorre. Ela rapidamente faz um brinde com a amiga, viva a vida de solteira e solta uma risada. Tinha decido não mais chorar por aquele ingrato.
                Em casa, ela entra na internet, resolve se inscrever num site de relacionamentos e inicia o chat.  Que nickname colocar?  Rosa da tarde, Flor do amanhã, Meg, em busca do amor, opta pelo primeiro e entra. Do outro lado, cavalheiro só, em busca do amor/H, solitário, ela logo passa a falar com o solitário. Descrevem-se, ele diz que é careca. Careca? Será que vou gostar de um careca? Bigode? Com muitos pelos? Alto? Baixo? Peso acima da média? Ela se irrita e vai dormir.
                No outro dia bem cedo, já mais calma retoma o diálogo, e pensa, não importa a aparência, mas quem é a pessoa, o que quer, o que busca da relação amorosa. Durante a noite tinha pensado no que queria agora. E pensou que no momento queria apenas namorar, não queria mais nada, nada sério. Queria transar sem compromisso, dançar e sair.
                Mudou o nickname: Embuscadoamor/M/40 e passou a falar com o, em busca do amor/H 41. - Oi, podemos teclar? - Você está onde? -  A na mesma cidade que eu. -O que buscas? --Amor, então somos dois. - Podemos sim. Onde? - No shopping, no café, que horas?
                E lá se foi ela para o seu primeiro encontro virtual. Tremendo de medo por dentro, mas arrumou-se toda, perfumou-se e foi. Ele já estava lá, observou pelo livro que ele trazia consigo e que estava sobre a mesa. Tinham colocado o livro como forma de se identificarem.
- Dafne?
-Salomão? Prazer
Olho no olho, ela pensou, um homem interessante.
- Estou divorciado há cinco anos e tu?
A conversa foi rápida, resolveram sair para um lugar mais reservado. Transaram. Ele a fez ir nas nuvens. Ela deslumbrada, pesando que não tinha sentido aquele prazer até hoje.
Chegando em casa ligou logo para Tália, e contou o que lhe aconteceu.
- Você está doida amiga? Saindo assim com o cara, sem nem conhecer direito? Usou preservativo?
- Tália, é claro que sim, foi tudo de bom, escuta amiga, não fica ai com essa negatividade.
- Negatividade? Você não está há dois meses divorciada e já se joga assim nos braços do primeiro desconhecido? Isso deve ser resultado da depressão, só pode. Dafne, você tem que se cuidar.
                Dafne pensou consigo, esses anos todos de analise devem ter servido para algo, porque me colocaria em risco? Não, não me coloquei em risco, me permiti viver o momento. Tália sim, é uma pessoa amedrontada, tem medo até da sombra dela. Eu não viverei sem transar só por que estou só.


Magaly Andriotti Fernandes
Porto alegre 5 junho 2016

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