A LAGARTIXA MINHA INQUILINA
Uma
lagartixa branca mora no meu apartamento. Era noite, eu triste, pensativa na
situação financeira a mim vivida pela política de governo implementada no
momento, vou a cozinha e lá a vejo. Uma lagartixa branca, assustada, assim como
eu. Eu com o novo momento, trabalhei muitos anos e agora dependo de uma única
fonte de renda. Salario, mas querem me fazer pensar que e renda. Inclusive pago
imposto de renda. Mas isso e outra conversa. Vamos voltar a minha nova parceira
a lagartixa. E muito bom tê-la como
hospede. Quando meus filhos eram
pequenos havia outra lagartixa que por aqui morava, mas há muito tempo não vi
outra pela casa.
Lagartixas
são símbolos de regeneração, de transformação, de transmutação. Vem um tempo que tenho prestado atenção aos
animais que aparecem no meu dia a dia. E fico pensando que não e por nada que
ali estão postos.
Antes
de aposentar, todos os dias haviam dois beija flores que ficavam pousados no
fio diante da parada de ônibus. Pousados, pasmem, nunca tinha visto beija flor
parado e eles ali ficavam cantando. Meu ônibus vinha e lá ficavam eles. Símbolo da liberdade, da beleza, da leveza do
encanto.
Agora
já livre do trabalho cotidiano. Não me sentia uma prisioneira do trabalho, pois
gostava por demais do que fazia, e fazia com gosto. Mas o trabalho implica uma
rotina, uma construção, criatividade. E como meu trabalho era público, eu tinha
um empregador, eu tinha regras a seguir; tinha horários pre estabelecidos. E tudo tem um tempo certo, assim como o dia e
a noite.
A
lagartixa penso eu me diz que e tempo de transmutação, de mudanças, de novos
rumos. Que rumos, o que fazer? Qual e mesmo o meu dom. Até aqui vim tendo que
dar conta do meu sustento e de minha família. Agora não mais. Claro meus
sustente ainda está a meu cargo, mas o que e isso mesmo? O que eu preciso para
viver? Como quero que minha vida seja?
Tenho
viajado, sozinha, com os netos, com amigas, conhecido novos lugares, novas
pessoas, novas culturas. Tenho muita vontade morar em uma outra cidade. Cidade
essa que não sei ainda qual e. Amei Portugal, amei demais. Penso em morar lá,
em Aveiro, em Lisboa, no Porto, em Tomar. Adorei o Espirito Santo, Guarapari,
beira da praia, povo acolhedor. Minas
gerais nem se fala, eta povo querido, eta cidades lindas. São Paulo que parecia assustador, tem como se
locomover e ir desbravando cada museu, cada bairro. Florianópolis nem se fala,
e linda demais. Feliz que até aqui
consegui não falar na gastronomia desses lugares. Todas maravilhosas. Amei cada prato, cada sabor, cada cheiro,
cada tempero diferente.
Tenho
tentado buscar minha espiritualidade, o que a cada dia parece mais um enigma.
Tenho trilhado por caminhos nunca antes me permitidos, digo isso por mim mesma.
Estou amando esse percurso, as descobertas. Sinto que estou mais leve, mais
amorosa, mais ouvinte.
Então
minha amiga lagartixa…que caminho e esse? Que mudanças tenho eu que
implementar, que desapegos mais tenho que fazer?
PORTO ALEGRE, 25 SETEMBRO 2016.
Escolhi essa arvore, do Parque do Prado em Montevideo , no Uruguai, para ilustrar minha cronica. As arvores assim como os animais me apaixonam e falam de mim, e eu agora tento falar neles. No meu apartamento que fica nono andar não tenho como ter uma arvore, mas tenho um Ficos, por bons quinze anos ele esta ali cotidianamente comigo. Não so eu mas a lagartixa minha hospede, tambem o aprecia. Minha neta mais jovem, adora mexer na terra, nas pequenas bergamoteiras que ali nascem. Sim ao comer bergamotas jogo as sementes no vaso que nascem, e transplanto em solo firme. Ela brinca com a abelinha de pedra que o enfeita, com as garças de barro. E assim reproduzo no meu pequeno o espaço o amplo. Arvores nos falam de sustentatação, de estrutura, de elo com os elementos da natureza. Muito a aprender.
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