Paineiras
Mês de
março, é o mês onde as paineiras florescem e deixam a cidade rósea. As
paineiras povoaram a minha infância de dupla forma. Embaixo delas brincava de
casinha, em suas raízes construí muitos castelos, muitos reinados. Embaixo
delas muito chorei de medo, pois minha mãe, que tinha por habito me corrigir
com palmadas, com cintadas, com varinhas de taquara, me ameaçava amarar numa
paineira e lá me deixar.
Eu, não me
deixava vencer, vá que dia desses ela colocasse em pratica seu dito, me
antecipava e cortava todos os espinhos, com uma faca,
tirava um a um. E próximo da minha casa tinha mais de uma paineira. Trabalho
árduo e cotidiano.
Com suas
painas fazíamos acolchoados. Colhíamos as painas, tirávamos as sementes,
colocávamos para secar ao sol, e depois minha mãe fazia uma capa, ou melhor
duas, uma de forro. Tudo pronto costurávamos com agulhas gigantes, com pontoes,
de um lado ao outro. Esse acolchoado era por mim muito apreciado, pois durantes
os medos noturnos era nele que me abrigava, que fugia dos lobisomens, das bruxas,
e pasmem do diabo. Minha mãe acreditava em bruxas, em mulas sem cabeça e
historias não faltavam para nos apavorar. Só na vida adulta fui me dar conta
que ela também tinha medo de todos esses fantasmas, e que os partilhava no
sentido de doma-los. De dando luz aos mesmo, quem sabe eles não voltassem.
E as flores
das paineira, faziam um limo daqueles, escorradiu ficava o solo. Mas também
eram boas para se fazer de comidinha nas brincadeiras de casinha. Do perfume
não consigo me recordar. Mas o encanto pelo tronco forte, pelas raízes que
formavam vários recantos, bons esconderijos para as brincadeiras de esconde e
esconde. Ficava por ali horas e horas, algumas solitárias, outra com as amigas
e amigos.
Minha mãe
tinha uma amiga que associava a gestação das mulheres em geral ao tempo de
florescer das paineiras. A Moza dizia, assim era seu nome, março e agosto, mês
das mulheres descobrirem-se gravidas, mês que as paineiras florescem. Se tem
alguma ciência não sei, mas era algo próprio dela, de suas relações e de seu
poder de observação.
Hoje na rua
que me conduz a casa plantaram um correr de paineiras. E as lembranças que ficaram foram só as boas,
as acalentadoras, as acolhedoras, e a saudade, uma saudade sem fim da minha
mãe, que para além das palmadas me deu sentido e graça.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
PORTO ALEGRE 6 ABRIL 2016.
Lindo...
ResponderExcluirLindo...
ResponderExcluirMuito lindo essa trama textual, onde você usa a paineira como pano de fundo para desvelar uma bela homenagem à dina Tereza, ainda que exorcizando dores e fantasmas da infância.
ResponderExcluirAdorei o texto!
ResponderExcluirMuito bom!...Amei!
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