segunda-feira, 4 de abril de 2016

A LAGARTIXA MINHA INQUILINA
                Uma lagartixa branca mora no meu apartamento. Era noite, eu triste, pensativa na situação financeira a mim vivida pela política de governo implementada no momento, vou a cozinha e lá a vejo. Uma lagartixa branca, assustada, assim como eu. Eu com o novo momento, trabalhei muitos anos e agora dependo de uma única fonte de renda. Salario, mas querem me fazer pensar que e renda. Inclusive pago imposto de renda. Mas isso e outra conversa. Vamos voltar a minha nova parceira a lagartixa.  E muito bom tê-la como hospede.  Quando meus filhos eram pequenos havia outra lagartixa que por aqui morava, mas há muito tempo não vi outra pela casa.
                Lagartixas são símbolos de regeneração, de transformação, de transmutação.  Vem um tempo que tenho prestado atenção aos animais que aparecem no meu dia a dia. E fico pensando que não e por nada que ali estão postos.
                Antes de aposentar, todos os dias haviam dois beija flores que ficavam pousados no fio diante da parada de ônibus. Pousados, pasmem, nunca tinha visto beija flor parado e eles ali ficavam cantando. Meu ônibus vinha e lá ficavam eles.  Símbolo da liberdade, da beleza, da leveza do encanto.
                Agora já livre do trabalho cotidiano. Não me sentia uma prisioneira do trabalho, pois gostava por demais do que fazia, e fazia com gosto. Mas o trabalho implica uma rotina, uma construção, criatividade. E como meu trabalho era público, eu tinha um empregador, eu tinha regras a seguir; tinha horários pre estabelecidos.  E tudo tem um tempo certo, assim como o dia e a noite.
                A lagartixa penso eu me diz que e tempo de transmutação, de mudanças, de novos rumos. Que rumos, o que fazer? Qual e mesmo o meu dom. Até aqui vim tendo que dar conta do meu sustento e de minha família. Agora não mais. Claro meus sustente ainda está a meu cargo, mas o que e isso mesmo? O que eu preciso para viver? Como quero que minha vida seja?
                Tenho viajado, sozinha, com os netos, com amigas, conhecido novos lugares, novas pessoas, novas culturas. Tenho muita vontade morar em uma outra cidade. Cidade essa que não sei ainda qual e. Amei Portugal, amei demais. Penso em morar lá, em Aveiro, em Lisboa, no Porto, em Tomar. Adorei o Espirito Santo, Guarapari, beira da praia, povo acolhedor.  Minas gerais nem se fala, eta povo querido, eta cidades lindas.  São Paulo que parecia assustador, tem como se locomover e ir desbravando cada museu, cada bairro. Florianópolis nem se fala, e linda demais.  Feliz que até aqui consegui não falar na gastronomia desses lugares. Todas maravilhosas.  Amei cada prato, cada sabor, cada cheiro, cada tempero diferente.
                Tenho tentado buscar minha espiritualidade, o que a cada dia parece mais um enigma. Tenho trilhado por caminhos nunca antes me permitidos, digo isso por mim mesma. Estou amando esse percurso, as descobertas. Sinto que estou mais leve, mais amorosa, mais ouvinte.
                Então minha amiga lagartixa…que caminho e esse? Que mudanças tenho eu que implementar, que desapegos mais tenho que fazer?

PORTO ALEGRE, 25 SETEMBRO 2016.

Um comentário:

  1. Escolhi essa arvore, do Parque do Prado em Montevideo , no Uruguai, para ilustrar minha cronica. As arvores assim como os animais me apaixonam e falam de mim, e eu agora tento falar neles. No meu apartamento que fica nono andar não tenho como ter uma arvore, mas tenho um Ficos, por bons quinze anos ele esta ali cotidianamente comigo. Não so eu mas a lagartixa minha hospede, tambem o aprecia. Minha neta mais jovem, adora mexer na terra, nas pequenas bergamoteiras que ali nascem. Sim ao comer bergamotas jogo as sementes no vaso que nascem, e transplanto em solo firme. Ela brinca com a abelinha de pedra que o enfeita, com as garças de barro. E assim reproduzo no meu pequeno o espaço o amplo. Arvores nos falam de sustentatação, de estrutura, de elo com os elementos da natureza. Muito a aprender.

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