A PRAÇA E O INICIO DE
UMA VIDA
No
início da Rua Marechal Floriano, existia uma loja chamada Modas Princesas, e na
Gen. Genuíno tinha uma confeitaria chamada Popular. Na primeira minha mãe
trabalhava como costureira, e na segunda meu pai como confeiteiro. Ele amava
ternos de linho, e ao meio dia, hora de seu intervalo, todo prosa, vestido de
linho branco ficava na praça, por onde minha mãe com então seus 16 anos
passava. Seus olhares se cruzaram e logo namoraram. Naquele tempo não tinha
essa de namoro logo. E logo casaram.
Sempre
que passo por ali imagino os dois, mesmo que naquela época ainda não existisse
nem em sonhos quem sabe. Os vejo ele com seus olhos lindos verdes, seu bigode e
sua elegância. Minha mãe magra, de saia rodada. Ela não gostava de pintura, mas
era bela ao natural, cabelos encrespados, como era a moda. Sentados
conversando, quem sabe arriscando um beijo, ou talvez não minha mãe era muito
recatada, e apesar de falante era tímido. E me pergunto o que será que produziu
esse amor? Ele era nove anos mais velho que ela. Ele de Santa Catarina ela da
Barra do Ribeiro.
Meu
pai um galanteador logo a fez suspirar de amor, porem durante quase toda a vida
do casal poucos momentos os tenha visto de mãos dadas, trocando um beijo ou
caricias. Eram um casal muito discretos, de pouca fala, pouca discussão. Ela
era muito apaixonada por ele, ele as vezes não demonstrava isso, parecia um
homem do mundo, mas no fundo não, era seu jeito de ser apenas. Nos últimos
cinco ano de suas vidas ai sim reacendeu a chama do amor, quando chegávamos lá
(na nossa antiga casa) estavam os dois em altos papos, tomando chimarrão como
dois pombinhos. Desde que meu pai ficou na UTI, mexeu com os seus afetos. Nos três, somos três irmãos, já não morávamos
mais com eles a muito tempo. A mãe depois que saiu das modas Princesas, sempre
trabalhou em casa como costureira, e ele trabalhava ainda pelas manhas na
confeitaria que tinha com minha irmã. Ela se foi, assim não mais que de
repente, como uma vela que se apaga. Teve um enfarte fulminante. Aliás quando
mais conseguiu trabalhar, morreu. Aliás após a morte da mãe ele morreu um
pouco.
Mas
voltando para a praça, ali tenho um sentimento de pertença, de início, de
recomeço, de encanto e encantamento.
Passo muito pela praça, pois a confeitaria de minha irmã, fica próxima,
mas nunca parei para lá me sentar, respirar fundo e deixar que essa memória
filogenética volte. Hoje a praça faz
parte do roteiro dos Caminhos do Centro Histórico, tem dias da semana que ali
ficam os antiquários a expor. Tenho
vontade de ali colocar as cinzas dos dois, pois imagina que ainda vivem por
ali, passeando de mãos dadas, sentados nos bancos fazendo juras de amor. Mas
isso e um outro capitulo.
Interessante
que minha mãe contou essa história pouquíssimas vezes, mas me marcou de tal
forma. Ainda quando pequena lembro de visitar meu pai na Confeitaria Popular,
mas não tenho claro que ela ainda fosse ali na Genuíno. As vezes confundo com a
Pacola, que ficava na Otavio Rocha e na qual ele também trabalhou. Aquele e um
espaço da cidade que para mim ficou marcado com a possibilidade do amor, do
romance. Passo por ali de forma segura, me sinto acolhida. Minha mãe e meu pai
tinham muitos relatos de bons momentos vividos com amigos do trabalho naquele local,
uma outra Porto Alegre.
Porto Alegre, 8 abril 2016
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
Que máximo!...Seus relatos emocionam pela sinceridade dos fatos tão simples e marcantes na sua vida!...Parabéns!
ResponderExcluirGratidao amiga.
ExcluirBonito o texto, tia. Que saudade do vô e da vó
ExcluirGrata Vinicius, eu tambem tenho saudades dos dois
ExcluirLendo teu texto reafirmo minha gratidão em viver de perto tua história de vida, fazendo parte de teu círculo há 12 anos, ter tido o privilégio de conhecer teus pais, bisavós de nossas netas.
ResponderExcluirA minha tambem e uma grande honra te-la na minha familia, partilhando nossas vovozizes. grande beijo
ExcluirLinda história de amor!!!
ResponderExcluirSim Ines, aos poucos fui vendo que os dois eram muito enamorados. E que seus passados muitas vezes não permitissem que eles demonstassem isso um para o outro e para o grupo familiar.
ExcluirSim Ines, aos poucos fui vendo que os dois eram muito enamorados. E que seus passados muitas vezes não permitissem que eles demonstassem isso um para o outro e para o grupo familiar.
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