DOCE DE COCO
Outro
dia lendo Fernando Sabino, me veio a lembrança minha paixão pelo doce de coco,
doce de coco em calda, especialidade de minha mãe. Quando chegava o mês de
novembro, minha família, que pelo lado do avô paterno era de origem italiana,
contava com três tias e dois tios, e nove primos vinham hospedar-se lá em casa
para os preparos do natal e do ano novo.
De
um ano para o outro criávamos um porco, galinhas, fazíamos cerveja em casa. Meu
avô era o responsável por essa façanha. As galinhas cada neto tinha uma, quando
chegava a hora do sacrifício, era aquela choradeira. E o porquinho então. Os adultos sabedores do fato, quando chegava
o dia da matança dos pobres bichos, um se responsabilizava por nos levar a
passear pelo bairro. Quando voltávamos não tinha mais o que fazer.
Mas
vamos falar dos doces, dos doces em calda, os de laranja, de figo, de abobora e
o meu preferido o de coco. Aquele ano a mãe se antecipou. Fomos no mercado
público no Centro, e ela comprou os cocos, chegou em casa e já nos colocou para
ralar. Sim nos as crianças participávamos muito ajudando no descascar, ralar,
picar os ingredientes. Eu adorava tudo aquilo. E a dificuldade era descascar
sem comer, só o perfume do coco, eu já ficava salivando à toa. Minha mãe era
costureira, fez o doce no final da tarde e deixou na panela grande esfriando
para noutro dia colocar nos vidros e guardar. Eu fiquei vendo TV até tarde, e
sem que a mãe percebesse ia até a panela e me servia um pouquinho. E assim fui
de pouquinho em pouquinho.
Já
madrugada, quando a mãe passou pela sala de TV, viu que ela estava ligada mas
já tinha saído do ar, sim naquela época, num determinado horário, não tinha
mais nada para se ver na tela. E eu ali de olhos arregalados, minha mãe achou
aquilo tudo muito estranho. Quando se aproximou avaliou que eu não estava bem.
Levou um tempo para ver que eu tinha comido toda ou quase toda a panela de doce
de coco. E o que poderia ter me acontecido? Sim uma congestão. Ainda bem que
minha mãe era muito rápida para essas situações, me levou para o banheiro e
provocou o meu vomito.
Vocês
devem estar pensando que nunca mais comi doce de coco. Negativo, mesmo esse
tremendo mal estar, não me tirou a paixão por esse acepipe. E ainda ampliou-se
para as balas quebra-queixo, para as balas de coco e para as cocadas.
Nesse
natal a família ficou sem o doce do coco, pois minha mãe se recusou a fazer
novamente, e castigo era sua forma de educar, queria que eu sentisse vergonha
quando os demais pedissem pelo doce. O que de fato ocorreu.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
PORTO ALEGRE,11 ABRIL 2016.
Que linda história!...Chego a sentir o cheiro do colo sendo ralado!
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