segunda-feira, 11 de abril de 2016


DOCE DE COCO

                Outro dia lendo Fernando Sabino, me veio a lembrança minha paixão pelo doce de coco, doce de coco em calda, especialidade de minha mãe. Quando chegava o mês de novembro, minha família, que pelo lado do avô paterno era de origem italiana, contava com três tias e dois tios, e nove primos vinham hospedar-se lá em casa para os preparos do natal e do ano novo.
                De um ano para o outro criávamos um porco, galinhas, fazíamos cerveja em casa. Meu avô era o responsável por essa façanha. As galinhas cada neto tinha uma, quando chegava a hora do sacrifício, era aquela choradeira. E o porquinho então.  Os adultos sabedores do fato, quando chegava o dia da matança dos pobres bichos, um se responsabilizava por nos levar a passear pelo bairro. Quando voltávamos não tinha mais o que fazer.
                Mas vamos falar dos doces, dos doces em calda, os de laranja, de figo, de abobora e o meu preferido o de coco. Aquele ano a mãe se antecipou. Fomos no mercado público no Centro, e ela comprou os cocos, chegou em casa e já nos colocou para ralar. Sim nos as crianças participávamos muito ajudando no descascar, ralar, picar os ingredientes. Eu adorava tudo aquilo. E a dificuldade era descascar sem comer, só o perfume do coco, eu já ficava salivando à toa. Minha mãe era costureira, fez o doce no final da tarde e deixou na panela grande esfriando para noutro dia colocar nos vidros e guardar. Eu fiquei vendo TV até tarde, e sem que a mãe percebesse ia até a panela e me servia um pouquinho. E assim fui de pouquinho em pouquinho.
                Já madrugada, quando a mãe passou pela sala de TV, viu que ela estava ligada mas já tinha saído do ar, sim naquela época, num determinado horário, não tinha mais nada para se ver na tela. E eu ali de olhos arregalados, minha mãe achou aquilo tudo muito estranho. Quando se aproximou avaliou que eu não estava bem. Levou um tempo para ver que eu tinha comido toda ou quase toda a panela de doce de coco. E o que poderia ter me acontecido? Sim uma congestão. Ainda bem que minha mãe era muito rápida para essas situações, me levou para o banheiro e provocou o meu vomito.
                Vocês devem estar pensando que nunca mais comi doce de coco. Negativo, mesmo esse tremendo mal estar, não me tirou a paixão por esse acepipe. E ainda ampliou-se para as balas quebra-queixo, para as balas de coco e para as cocadas.

                Nesse natal a família ficou sem o doce do coco, pois minha mãe se recusou a fazer novamente, e castigo era sua forma de educar, queria que eu sentisse vergonha quando os demais pedissem pelo doce. O que de fato ocorreu.
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
PORTO ALEGRE,11 ABRIL 2016. 

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