A solidão do final de tarde
Uma
janela minúscula e uma vista surpreendente. La no alto do Monastério de Santa
Catarina, Irta olhava os pássaros que voavam, e pousavam nas flores que enchiam
os campos. As oliveiras estavam carregadas e logo viria o momento de colhe-las.
Seus pensamentos não ficavam por ali, assim como os pássaros voavam.
Minha
mãe por essa hora deve estar escondida, assustada. Morar naquele pais, era
assim um pavor cotidiano. Ela se recusou a sair, a tentar uma nova vida. Sua
irmã mais velha tomou o rumo das Américas, o irmão foi junto. Ela sempre sonhou
com a Europa, com a Itália, em seus sonhos os castelos, as igrejas sempre a
atormentaram e a deslumbraram
.
Hoje
ela ali no meio daquela calmaria, nem conseguia acreditar. Acorda as cinco, fazer
sua higiene, sair para a oração, em seguida para o campo, onde cultiva ervas
medicinais. São poucas as mulheres ali naquele convento, em número de nove, de
nacionalidades diferentes. Ela logo que chegou nada entendia, mas foi
aprendendo o idioma, agora já pensa inclusive nessa nova língua e cultura. Ama
mexer na terra aguardar o tempo que deve colher os chás, para melhor aproveitar
suas propriedades curativas. Aprendeu o tear, onde fica horas e horas fazendo
tapetes, roupas, que são doados para ações sociais para ajudar imigrantes de
seu pais e outros que andam por ali.
Suspira,
inspira aquele ar fresco do final de tarde de outono, vislumbra o sol que já
está se pondo e deseja tudo de bom para sua família tão distante. Uma lagrima
escorre, e pensa que o mundo é feito de escolhas e decisões. Irta decidiu
mudar-se, ir em busca de seus sonhos, foi difícil, foi, é difícil ainda hoje,
mas ali está ela. E sim descobriu que ser freira, que morar no claustro era sim
a sua missão de vida. Suas cartas para irmã não tem respostas, fica imaginando
o que pode estar se passando em sua vida, se já tem filhos, que tipo de
trabalho a fez ficar por aquelas terras distantes.
Agora
suas irmãs são aquelas, três italianas, quatro vietnamitas, uma francesa. Pouco
falam entre si, mas seguem uma rotina diárias de atividades que lhes permite
uma vida confortável e razoável junto ao claustro. Cultivam chás e produzem
cremes, xaropes, e tecidos que são vendidos na comunidade. Dali de sua
minúscula janela ela olha e vê o mundo que lhe tranquiliza, que lhe faz
sentir-se parte, mulher e freira, agora no lugar onde antes era só sonho.
Porto Alegre , 5 maio 2016.
Magaly Andriotti fernandes
Que espetáculo!!!!!
ResponderExcluirInusitado!
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