Envelhecer não é sinônimo de maturidade
Ontem
assistindo televisão, bem tarde da noite, vejo uma chamada sobre “vovôs na
prisão”, entrevistaram vários homens e mulheres de mais de sessenta e cinco
anos, uns já bem próximo aos oitenta anos que encontravam-se presos. A repórter interrogava-se sobre a contradição
existente para ela em ser idoso e cometer crimes.
Em
asilos também encontramos idosos abandonados. E muitas pessoas se interrogam
como podem abandonar seus idosos.
Penso
que a velhice na prisão, ou a velhice no asilo, não estou falando em clinicas,
em casas de convivência. Estou usando o termo asilo para me referir aquelas
pessoas que envelheceram numa dinâmica de abandono. Eles por ora abandonaram, e
por fim se viram provando do mesmo remédio, ou veneno dependo da perspectiva
que se olhe.
A
repórter entrevistou um uruguaio preso no Brasil por mais de doze vezes, ora
por bater carteiras no metro, por vender documentos, por estelionato, uma
carreira de delitos. E que seu filho de dezenove anos se encontrava também
preso. O pai não o via desde os treze anos. Foi feito um vídeo com o filho
enviando mensagem para o pai e vice versa. A mãe já é morta. As pessoas chegam
assim na vida do outro, resolvem aproximar, não sabe o que produziu a
distância. Será que aproximar e uma boa saída para a vida de ambos? Na prisão
muitas famílias continuam visitando seus familiares, outras não. O que será que
faz umas continuarem com o vínculo outras não? São questões pertinentes, e
antes de enveredarmos para cupidos da vida alheia, devemos ajuda-los a resgatar
vínculos que eles desejem, e não os que imaginamos que seriam bons. Esse homem
chorou ao ver o filhos, não o reconheceu, quando o viu pela última vez era um
menino.
Entrevistaram
em outra prisão um homem que havia abusado de meninas, ele tinha com ele o
laudo que não houve penetração, mas o abuso de que era acusado, era de passar a
mão, o que não deixa vestígios no corpo, só na alma. O que se passa ai, com a
sexualidade do idoso? Esse é um crime que povoa dois por cento das prisões
brasileiras. Ele viveu a vida inteira integro, trabalhou, criou seus filhos, já
avo, viúvo, e agora isso? O que se passa com o seu projeto de vida? O que busca
esse homem de mais de setenta anos, que não consegue lidar com seu desejo
sexual? Que atua, que viola, que passa dos limites?
O
outro entrevistado era um homem, que segundo a repórter não manifestava
sentimento. Será que num ambiente hostil como uma prisão se deve expressar
sentimento? Ele estava preso pela quarta
vez, senão me engano, por tráfico de drogas. Ela perguntou se ele se
arrependeu, ele foi sincero, dize que quando sair vai ver o que fazer da vida. Sim,
já tem experiência de prisão e de vida, sabe que quando sair, se antes não
tinha profissão e trabalho, como agora ira, somado a idade, arrumar algo para
fazer que o sustente assim como o tráfico.
E
por fim entrevistou um homem que aos sessenta e nove anos matou um vizinho. Ele
se diz inocente, mas a comunidade quase o linchou. Em seu relato se observa que
é uma pessoa desconfiada, e segundo a família fazia abuso de crack, agressivo
com a filha e esposa.
Então,
o que podemos pensar, que envelhecer por si só não garante a nenhum humano a
maturidade. Todos envelhecemos, é condição humana, mas amadurecer requer
reconhecimento de seus desejos, responsabilidade para com os mesmos. Que o
tempo passa de forma diferente para cada um de nós humanos. Que a vida é um
constante recomeço. E que idoso não é sinônimo de integridade e de confiança.
Espetacular!
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