quarta-feira, 25 de maio de 2016

Envelhecer não é sinônimo de maturidade

                Ontem assistindo televisão, bem tarde da noite, vejo uma chamada sobre “vovôs na prisão”, entrevistaram vários homens e mulheres de mais de sessenta e cinco anos, uns já bem próximo aos oitenta anos que encontravam-se presos.  A repórter interrogava-se sobre a contradição existente para ela em ser idoso e cometer crimes.
                Em asilos também encontramos idosos abandonados. E muitas pessoas se interrogam como podem abandonar seus idosos.
                Penso que a velhice na prisão, ou a velhice no asilo, não estou falando em clinicas, em casas de convivência. Estou usando o termo asilo para me referir aquelas pessoas que envelheceram numa dinâmica de abandono. Eles por ora abandonaram, e por fim se viram provando do mesmo remédio, ou veneno dependo da perspectiva que se olhe.
                A repórter entrevistou um uruguaio preso no Brasil por mais de doze vezes, ora por bater carteiras no metro, por vender documentos, por estelionato, uma carreira de delitos. E que seu filho de dezenove anos se encontrava também preso. O pai não o via desde os treze anos. Foi feito um vídeo com o filho enviando mensagem para o pai e vice versa. A mãe já é morta. As pessoas chegam assim na vida do outro, resolvem aproximar, não sabe o que produziu a distância. Será que aproximar e uma boa saída para a vida de ambos? Na prisão muitas famílias continuam visitando seus familiares, outras não. O que será que faz umas continuarem com o vínculo outras não? São questões pertinentes, e antes de enveredarmos para cupidos da vida alheia, devemos ajuda-los a resgatar vínculos que eles desejem, e não os que imaginamos que seriam bons. Esse homem chorou ao ver o filhos, não o reconheceu, quando o viu pela última vez era um menino.
                Entrevistaram em outra prisão um homem que havia abusado de meninas, ele tinha com ele o laudo que não houve penetração, mas o abuso de que era acusado, era de passar a mão, o que não deixa vestígios no corpo, só na alma. O que se passa ai, com a sexualidade do idoso? Esse é um crime que povoa dois por cento das prisões brasileiras. Ele viveu a vida inteira integro, trabalhou, criou seus filhos, já avo, viúvo, e agora isso? O que se passa com o seu projeto de vida? O que busca esse homem de mais de setenta anos, que não consegue lidar com seu desejo sexual? Que atua, que viola, que passa dos limites?
                O outro entrevistado era um homem, que segundo a repórter não manifestava sentimento. Será que num ambiente hostil como uma prisão se deve expressar sentimento?  Ele estava preso pela quarta vez, senão me engano, por tráfico de drogas. Ela perguntou se ele se arrependeu, ele foi sincero, dize que quando sair vai ver o que fazer da vida. Sim, já tem experiência de prisão e de vida, sabe que quando sair, se antes não tinha profissão e trabalho, como agora ira, somado a idade, arrumar algo para fazer que o sustente assim como o tráfico.
                E por fim entrevistou um homem que aos sessenta e nove anos matou um vizinho. Ele se diz inocente, mas a comunidade quase o linchou. Em seu relato se observa que é uma pessoa desconfiada, e segundo a família fazia abuso de crack, agressivo com a filha e esposa.

                Então, o que podemos pensar, que envelhecer por si só não garante a nenhum humano a maturidade. Todos envelhecemos, é condição humana, mas amadurecer requer reconhecimento de seus desejos, responsabilidade para com os mesmos. Que o tempo passa de forma diferente para cada um de nós humanos. Que a vida é um constante recomeço. E que idoso não é sinônimo de integridade e de confiança.

Um comentário:

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e...

Histórias que Pintam:  "As cinco direções de um corpo" é o novo livro e... :  "As cinco direções de um corpo" é o novo ...