E o chão abriu-se aos seus pés
Ouvimos
tanto essa expressão e a pensamos sempre de uma forma metafórica. Outro dia
indo para o supermercado, eu e meu neto mais velho, encontramos uma cena
tragicômica. Meu vizinho, um homem de peso, entalado num buraco na rua. Ele
vinha caminhando com seu cão, quando de repente o chão abriu-se aos seus pés.
Literalmente assim como eu estou escrevendo ele foi sugado pelo chão. Pode
crer? Caso não tivesse visto também não o acreditaria.
Há
três semanas choveu muito na cidade, muito além do esperado para a época. Quem
olhasse para a rua antes do fato ocorrido nada indicava que abaixo daquele
calçamento não havia nada a não ser o espaço vazio, o buraco. Ele, meu vizinho,
pessoa polemica, gosta de certa notoriedade, e ficou ali, discursando, e um
grupo de pessoas ao seu redor. Sua mãe com gelo na toalha para ele colocar na
perna. Deve mais sorte que juízo, e o susto foi maior que o dano. Também não e
todo o dia que somos sugados pela terra.
Nossa
rua é tranquila, arborizada, toda calçada, um fato surpreendente. Construímos
casas, ruas, calçadas, e pensamos que tudo e para sempre. Que tudo e
definitivo. E vem a natureza e nos dá um toque: ei, olha a vida ai! É dinâmica, é cíclica, é um espiral. É Pensamos
que por morarmos no mesmo endereço há mais de trinta anos passamos sempre na
mesma rua. Balela! A rua é diferente a cada dia. E naquele dia
meu vizinho teve a prova fatídica disso, e foi-se ao chão.
O medo de alturas, de subir escadas, de subir
montanhas, lombadas, nos persegue; o plano, o reto, nos parecem seguros, mas
olha ai? O chão abriu-se sobre os seus
pés. O fato é que somos mortais.
Aqui
em Porto Alegre, ano passado, próximo ao final do ano, um Juiz que caminhava
todos os dias no Parque da Redenção, e retornava para casa sem parar, resolveu
num determinado dia, cansado, sentar-se num banco a sombra de um eucalipto. Não
e que a arvore caiu. E pior ainda, caiu sobre ele e o levou a morte.
Meu
vizinho está vivo, caminhando bem, só resta saber se ele entendeu a mensagem do
universo. Não fui eu e nem um dos outros, mais de mil pessoas, que caminham por
ali todo dia, que caíram no buraco. Foi ele, e por que ele?
O
buraco pasmem ainda está lá. A Prefeitura sinalizou, para que outros não
caíssem, mas o buraco esta lá para que possamos vê-lo. O melhor ainda para que
o meu vizinho o aprecie bem e reflita. Eu refletiria.
Porto Alegre, 04 abril 2016
MAGALY ANDRIOTTI FERNANDES
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